Escolhida

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Ainda não consigo entender direito como aconteceu.

Quando Erin me acompanhou da sala de aula até o refeitório eu apenas continuei andando, como se tivéssemos feito um acordo eu seria a perfeita ouvinte para a sua conversa fiada descontrolada, assentindo constantemente para suas peripécias, que para ser sincera na maioria das vezes consistia em um falatório constante, desconexo e nervoso, uma mistura de situações, sentimentos e pensamentos internos aleatórios. Ela era uma criatura estranha, mas também era doce, levemente irônica e tinha um sorriso tímido que externava toda sua insegurança sobre si mesma.

Escutar suas divagações era um balsamo para a confusão que se tornará a minha vida.

Em casa tudo que eu podia fazer era me esquivar, todos os Cullen pareciam achar alguma forma de questionar minha ligação repentina com um dos Quileutes, a pressão por informação era tão sútil que eu me pegava surpresa em identifica-la, entendia o porquê de eles insistirem no assunto, a preocupação que sentiam só reafirmava o fato de ter me tornado um membro definitivo da família, e como responsabilidade deles o normal era ter a atenção e suporte, ou como melhor descrevia Rosalie em seus momentos mais irônicos: eu era uma adolescente em progresso.

Carlisle vinha trabalhando comigo as circunstâncias do meu crescimento repentino, tentando classificar em partes onde eu terminei minha infância e quando comecei minha adolescência, ainda era difícil entender como eu ainda era uma criança no corpo de uma adolescente superdesenvolvida, tinha tantas lacunas a preencher antes de aceitar o peso das próximas experiências que me aguardavam no presente e futuro. Ele tentava reviver minhas primeiras lembranças, mas era tão doloroso que me forçava a repelir tudo, dificultando nossa pesquisa, no fim concluímos que eu tinha me transformado a cada final de ano.

As crianças híbridas cresciam quatro anos a cada um ano de vida humana, então a cada final de ano eu me transformara, completando mais um ciclo de crescimento, o que explicava minha maturidade alcançada no sexto ano de vida, um ano mais cedo que Renesmee.

Após tanto tempo sedo compelida a me insolar na minha mente, me sentia cansada e sobrecarregada e mais tarde, ao me deitar, vinham os pesadelos, onde a dor invadia meus ossos, roubando a minha infância e forçando-me para a maturidade, me empurrando para a tortura que me aguardava com Alec...

Assim que seu nome vem eu me forço a esquecer, bloqueando qualquer tipo de lembrança que servisse de gatilho, estava ficando difícil, todas aquelas novas situações... é quase impossível refrear todas as lembranças, essas que sempre estariam ali para lembrar que o perigo ainda poderia me encontrar. O aviso sempre rondava por meus pensamentos como uma luz cegante, me fazendo lutar com mais força quando Jasper arremetia em minha direção, me fazendo bloquear todos seus golpes, os devolvendo com uma ferocidade necessária, pois ainda sentia meu corpo cheio daquela sensação que dava ênfase ao meu maior problema do momento:

Seth

Já fazia uma semana desde a última vez que o vi na casa de Sam, ele provavelmente estivera me dando espaço, e eu não lhe pedi isso, não era como se estivesse considerando deixa-lo entrar na minha vida e me fazer ter aquela sensação de invasão que sua presença e a do bando exerciam sobre meus pensamentos. Eu tinha deixado claro para Sam o que eu queria quando ele veio para mais uma de nossas sessões no dia seguinte, tinha sido honesta e lhe pedido com educação que se afastasse por um tempo, ao menos até que conseguisse fazer minha cabeça se acostumar com tudo que tinha acontecido. Fiquei surpresa quando ele concordou cordialmente, então me senti encorajada a pedir a segunda coisa, nervosa eu lhe pedi para passar um recado para Seth, disse que precisava que ele se mante-se longe, pois não suportaria ser forçada tão cedo.

- Você sabe que não posso fazer isso.

Não conseguia olhar para o seu rosto, não agora que ele dizia as palavras novamente, a dor nelas refletindo a de outra pessoa, de um amigo.

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