Assim que chegaram ao apartamento, ela começou a preparar o almoço. Ele não esperava por isso, estava acostumado a ela trabalhar nesse dia da semana e ele ter que preparar o almoço para os dois. Não era lá muita coisa, mas ele fazia o que podia. Às vezes ela chegava a tempo para ajudá-lo, outras vezes não. Chegou a pedir que ele esperasse por ela, para que ao chegar ajudasse nesse afazer, ou mesmo que aguentasse sem comer até a sua chegada para que ela mesma preparasse a sua comida. Mas ele nunca fez isso, sempre preparava. Se tivesse pensando no caminho que neste dia ela prepararia a refeição deles ele teria providenciado o almoço no caminho, evitando assim esse trabalho para ela.
Tendo que esperar sem poder ajudar, ou aproveitar a oportunidade para aprender, ele ficou na sala, maior parte do tempo assistindo televisão. Assistia um pouco, mudava de canal, desligava a televisão e pegava um livro para ler, voltava à televisão. Nada parecia acalmá-lo. Mas estava tudo normal e o almoço foi tranquilo.
Lá pelas três horas da tarde ele sentiu o primeiro desejo de se preparar para saírem, mas o sol parecia tão quente que ele mudou de ideia. Decidiu então esperar por mais tempo, talvez até que o dia mostrasse seus primeiros sinais de fim. Não, mudou de ideia, não esperaria tanto.
Resolveu que enfrentaria o calor do dia quando Célia estava no banho, essa súbita decisão dela em se lavar encorajou-o a partirem. Aproveitaria que ela já poderia se preparar a partir dali e ele também.
Entrando no banheiro, ele anunciou que tomaria banho assim que ela acabasse, para que fossem ao shopping. Ela, que se movimentava debaixo do chuveiro não respondeu, simplesmente parou o que fazia e ficou onde estava, deixando a água cair sobre seu corpo. Do lado de fora do box ele não conseguia ver o que ela fazia, nem por que parara.
— Você ouviu? — perguntou ele.
— Sim — respondeu, voltando a se mover. — Já estou terminando.
— Não precisa ter pressa, temos tempo.
— Não, eu quero ir logo — falou ela, animada com a notícia.
Depois disso ele deixou o banheiro e foi escolher a sua roupa para vestir, colocando-as sobre a cama, próximas a bolsa dela... Ela variava em relação à bolsa, deixava umas vezes na cama outras na mesa próxima da porta de entrada; desta vez estava na cama. Ele nem ligou para ela lá, apenas continuou fazendo o que fazia.
Ela terminou o banho e estava no banheiro ainda se enxugando quando seu telefone começou a emitir sinal de mensagem. Estava dentro da bolsa conforme Odilon notou. Esperando que ela ouvisse, não fez nada. Conforme parecia que ela não ouviria, ele aproximou-se da porta.
— Tem mensagem para você no telefone — avisou ele. — Quer que eu olhe?
Ele esperou um instante por resposta, pois ela levou tempo para dar algum sinal. Poderia estar pensando.
— Não, não! — gritou ela. — Espera, eu vou aí ver o que é.
Da proximidade com a porta ele foi capaz de ouviu movimentações rápida no banheiro. De repente começou a ter mais ação. Ela começara a se apressar no que fazia.
Estranhando um pouco a princípio, ele deixou de lado em seguida e voltou a mexer com as suas roupas, justamente quando o telefone parou de apitar. Ela saiu do banheiro logo depois disso, embrulhada na toalha, e foi até a sua bolsa, pegando o telefone de dentro dela e olhando o que ele dizia.
Observando ela, Odilon a viu já mudada no humor que tinha no banheiro depois que ouvira ele avisando que iriam sair. Antes pareceu animada, agora estava diferente. Aí ele preocupou, seu estranhamento voltou levemente. E ela o pegou observando-a com o rosto em dúvida.
— Desculpa isso — disse ela. — Não é nada, é só uma mensagem da farmácia avisando-me que um remédio chegou.
Ela foi até ele com o celular e mostrou a mensagem para que ele visse.
— Eu pedi que eles me informassem, fica mais fácil do que ficar indo lá. Eu assustei por que estou acostumada com isso. Tem uma garota no trabalho que vive mexendo no celular dos outros e eu não gosto.
— Está bem — falou ele. — Não vou olhar então, só avisarei.
— Obrigada, amor.
— Preciso me preocupar com esses remédios, é coisa séria?
— Não, não, amor. Não é nada sério, pode ficar tranquilo.
— Coisa como essa pode me deixar em aflição, não gosto disso.
— Não se preocupe, não é nada, sério. Se fosse alguma coisa séria eu avisaria você, não o deixaria em estado de preocupação. É só remédio para mulher mesmo. Fique tranquilo.
— Podemos passar lá enquanto estivermos indo, ou quando voltarmos.
— Não, precisarei ir agora, não quero esperar — disse ela, abraçando-o pela cintura. — Vou aproveitar enquanto você está tomando banho, você nem vai sentir a minha saída... Antes de sair do banheiro já estarei de volta.
E ela estava, pronta e esperando, nem parecia que tinha tomado banho. Talvez fosse a caminhada de ida e volta até a farmácia que tirou o frescor que o banho havia deixado. Mas seja o que fosse, estava animada novamente, na verdade mais animada do que antes. Algo a melhorara.
"Poderia ser o tal remédio que estava lhe fazendo efeito," pensou ele consigo mesmo, brincando.
Mas era algo que poderia ser válido; esses problemas de mulher poderiam estar sendo resolvido pela medicação. Quem sabe? O fato era que ele gostava daquilo, daquela súbita melhora de humor, e não lhe importava de onde estava vindo.
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OS BONECOS ENGRAÇADOS
RomanceOdilon é um homem tímido que se depara com uma garota apaixonada, que, o querendo muito, vence a sua timidez, a sua falta de atitude, consegue quebrar a sua rotina e finalmente o conquista. Através da personalidade dele uma vida amorosa se forma enq...