Meredith

Capítulo 4

Derek

Não sei se vocês já se acostumaram a dormir sozinhos depois de passar anos dormindo com alguém, mas eu ainda não. É tão ruim, tão solitário. Por isso, muitas das vezes que tenho que descansar eu durmo nos beliches do hospital para justamente, não dormir sozinho. Acho que por isso muitos evitam ficar no mesmo quarto que eu para dormir, porque fico conversando e não deixo ninguém dormir.

Dormi no máximo três horas, antes de me acordar com a sensação péssima de solidão. Minha cama é grande demais para uma pessoa só, meu apartamento é grande demais para uma pessoa só. Comprei ele achando que eu e Addison teríamos muitos filhos, receberíamos muitas visitas...

Por mais que eu saiba que eu e Addison nunca nos daríamos bem ao ponto de termos muitos filhos, eu sinto falta do casamento. Não dela, mas do casamento em si. Queria tanto achar alguém, para dormir juntos, ver filmes e até limpar a casa. Alguém para trazer um pouco mais de alegria e luz a minha vida.

Então vejo que meu celular começa a tocar, é DeLuca.

-Oi.- digo com a voz rouca. Estava acordado, mas não tinha falado ainda.

-Desculpa incomodar essa hora doutor Shepherd, mas o senhor lembra da paciente Meredith? Meredith Grey?- só de ele mencionar o nome dela eu me arrepiei.

-Sim, o que tem ela?- levantei e comecei a me arrumar para voltar para o hospital.

-Estava observando o quadro dela nas evoluções. Ela me parece confusa quando conversa e no momento não está querendo que ninguém entre no quarto. Os exames não mostram nenhuma alteração, mas tenho medo que algo esteja errado.

-Estou aí em vinte minutos.

                                        ~

Olhava pela terceira vez os exames do cérebro de Meredith, para ter certeza do que estava vendo. Não havia absolutamente nada de errado, mas então porquê tal comportamento? Fui ver ela assim que cheguei e as enfermeiras me disseram que ela não estava deixando ninguém chegar perto. Por algum motivo ela me deixou entrar e eu consegui a acalmar. Depois do que passou, eu entendo seu estado, mas mesmo assim não justificava suas atitudes estranhas e jeito diferente.

-O que acha que ela tem?- me perguntou DeLuca enquanto a observamos de fora do quarto.

-Não sei. Talvez na queda tenha batido a cabeça ou o próprio trauma de um relacionamento abusivo tenha a deixado assim. Ou ela é desse jeito, não sabemos.- sorri de lado quando ela torceu o nariz para a enfermeira que lhe colocou um acesso.

-Pensei que talvez pudesse ser Autismo. Num grau mais leve, sabe?

-Pode ser. Vamos esperar mais um tempo.

                                        ~

Ainda não posso diagnosticar Meredith, mas pelo o que eu pesquisei e conversei com outros médicos, pode ser um autismo em grau leve ou apenas um atraso, de qualquer forma, ela tem algo. Não gosto de dizer que ela tenha um problema, porque normalmente acho esse tipo de pessoa incrível, porque não tem maldade alguma, são ingênuas e puras, e esse era o caso de Meredith, o que fez alguém se abusar disso.

Entrei de manhã em seu quarto do hospital e vi que DeLuca conversava com ela enquanto coloriam algo.

-O que vocês estão fazendo?- perguntei me sentando ao lado deles.

-Andrew me trouxe isso.- disse pegando um giz de cera e logo pintando algo na folha em branco.-Disse para mim desenhar para passar o tempo.

-Achei que seria uma boa ideia.- alcançou um giz para Meredith. Sorri fraco.

-DeLuca, pode me dar um minuto? Preciso que veja seus outros pacientes.

-Claro. Tchau Mer.- abanou para ela. Mer? De onde tirou essa intimidade com ela?

Logo que ele saiu, conferi todos os ferimentos dela, inclusive o gesso que ela usava no tornozelo e na mão esquerda. Queria ter certeza que ela estava bem, olhei cada parte ferida e depois vi que estava tudo bem. E isso era um problema, a partir do momento que o paciente está bem, ele já pode voltar para casa. Mas, que casa? Essa garota não tem casa.

-Meredith, preciso conversar com você.- me sento a sua frente na cama.

-Claro Dr.Shepherd.

-Não quero conversar como o Dr.Shepherd dessa vez, quero conversar como seu amigo.- digo e vejo um pequeno sorriso em seu rosto.- acho que amanhã mesmo você já recebe alta. No máximo depois de amanhã, queria saber se você tem algum dinheiro para voltar para Boston ou ficar em um hotel aqui até aquele seu amigo poder vir te buscar.- ela negou com a cabeça. Que inferno.

-Mas não se preocupe, já passei algumas situações parecidas, vai se resolver. Acho que logo o Alex vem me buscar.

-Esse é o nome do seu amigo?

-Sim.- começou a guardar seus materiais de pintura.

-Sabe o número de telefone dele? Sobrenome? Onde mora?- houve um pingo de esperança no meu peito.

-Alex Karev, só sei que ele mora junto comigo, dividimos um aparamento. Nosso telefone está sempre com a linha cortada por falta de pagamento. Trabalhamos no mesmo lugar, íamos e voltávamos juntos do serviço.- fez um esforço para lembrar onde mora.- não consigo lembrar o nome da rua, mas é uma rua grande em Boston.

Maravilha, tem várias ruas grandes em Boston. Eu respirei fundo e sorri para ela, eu estava falando com alguém que sabia tanto quanto uma criança, não podia lhe cobrar tanto. Mas eu não vou deixar de jeito algum essa garota dormir nas ruas, eu vou dar meu jeito.

Qual será o jeito de Derek?
Beijão e obrigada por lerem ❤️