Capítulo 52

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Linda

Era só mais uma tarde da minha vida, não tinha nada de comum. Minha rotina não mudava, era a mesma desde que tive a minha primeira filha. Morava em uma casa muito simples em Boston, em um bairro não muito atraente. Trabalhava como faxineira em um café local e levava minha pequena comigo já que não tinha como pagar uma creche, o dinheiro que tinha mal dava para comer e pagar as contas. O motivo da minha força de vontade todos os dias era o sorriso da minha pequena Meredith. Ah, o sorriso dela era o que me dava combustível para o que fosse que eu tivesse que enfrentar.

-Vamos Mer, está na hora de ir para casa.- disse a pegando no colo e depois saindo pela porta dos fundos do café. Minha Mer era uma criança diferente das outras, com quase três anos ainda era muito apegada a mim, dormia só se fosse no colo e falava poucas palavras. Os médicos não conseguiram a diagnosticar, disseram que era apenas manha dela, mas eu sabia que não. Ela era diferente.

-Mamãe! Chocolate!- apontou para um rapaz que vendia as barras na rua.

-Meredith, a mamãe não tem como...- quando nos aproximamos, o moço lhe alcançou uma barra e piscou para mim, em sinal de que ficaria por conta dele.- diga obrigada filha.

-Bigada!

Ao chegar em casa, imediatamente ouvi o barulho alto da TV do quarto e o cheiro forte de cerveja. O pai de Meredith estava em casa. Engravidei dele um pouco depois de conhecê-lo, fui expulsa da casa da minha mãe por isso e tive que vir morar com ele, então percebi que ele era um homem horrível, muito bonito e atraente, mas horrível. Porém, com Meredith ele era diferente, amava demais a menina e isso me deixava um pouco mais tranquila perto dele, sabendo que pelo menos para ela, ele não faria nenhum mal.

-Papai!- correu até o quarto, provavelmente para lhe mostrar o chocolate que havia ganho. Ouvi as risadas deles e depois Meredith voltou.

Dei banho na loirinha, lhe dei janta e depois a coloquei para dormir no pequeno quarto. Tomei coragem e fui até o meu quarto, tentando ignorar ao máximo o homem que assistia TV bêbado.

-Eu estou grávida de novo.- disse assim que me deitei.

-Hum.- o ouvi tomar um gole de sua cerveja.- vai abortar quando?

-Eu não vou mais abortar, já te disse isso da última vez.- engoli seco. Senti seus olhar sobre mim.

-Que papo é esse, Linda?!- segurou meu braço com força.- Esqueceu que temos a Meredith? Não temos dinheiro pra alimentar mais uma boca aqui em casa!

-Vai ser meu quinto aborto! Eu não aguento mais!- gritei e logo senti meu corpo rolar da cama. Eu já esperava por isso, ele me batia sem motivos, imagina se tivesse um?

-Cala a boca, vadia!- puxou meus cabelos até que eu levantasse e ficasse até sua altura. Segurava o choro ao máximo para minha pequena Meredith não ouvir nada.- se não vai abortar, eu dou um jeito.- vi que ele iria começar a me chutar, e no desespero eu consegui pegar uma das garrafas que estavam no chão e atirar em sua cabeça, o fazendo desmaiar. Me levantei um tanto aliviada, até que vi sangue, muito sangue.

-Ah não, não era isso.- engasguei com o desespero. Não, não da mais pra viver assim. Posso morar nas ruas mas não posso mais aguentar isso.

Fechei a porta do quarto e fui até o quarto de Mer, que dormia tranquila em sua cama. A acordei e lhe enchi de roupas por conta do frio, então peguei o restante do dinheiro que ainda nos sobrava e sai andando a noite pelas ruas de Boston. Meu bebê dormia no meu ombro enquanto andava amedrontada pelos becos, com medo de que alguém pudesse nos fazer mal, mal a ela. Não sei quanto tempo andei até que avistei um grupo de homens vindo na nossa direção, quando eles viram que eu os vi, apertaram o passo e eu fiz o mesmo. Só conseguia pensar em Meredith naquele momento, até que percebi que estava ao lado de um prédio que havia algumas grades perfuradas, onde minha filha conseguiria passar, eu não, mas ela sim. Me aproximei do mesmo e vi uma praça infantil, acho que era um abrigo. Ela ficaria bem.

-Meredith, filha, acorda. Precisa acordar.- me abaixei a pondo no chão sonolenta.

-Mamãe? Onde vamos?- coçou seus pequenos olhos.

-Escuta bem, Meredith. Você vai passar agora por esse espaço e vai bater na porta até alguém te atender, ok?- apontei para o buraco na grade.

-Puquê?- fez beiço.

-Tem pessoas más atrás da gente.- olhei para trás e vi que se aproximavam. Respirei fundo, estava sendo difícil demais fazer isso, mas era o único jeito.- a mamãe vai voltar pra te pegar. Vai lá, corre e não olha pra trás!- disse e ela assentiu, logo entrando pelo espaço da grade e correndo para a frente do prédio.

Essa é minha Meredith, a menina mais corajosa que eu conheço.

Um pouquinho da história de Linda. Será que é a mesma Meredith? E se for, qual vai ser a reação dela?

Amanhã posto mais um!
Beijão e obrigada por lerem ❤️

Meredith Onde histórias criam vida. Descubra agora