Daniel finalmente chegava em casa após um dia exaustivo na faculdade. A queda de energia e o caos generalizado no trânsito o atrasaram em quase duas horas mas pelo menos teria o final de semana livre.
O rapaz se dirigiu até a cozinha e requentou a sobra do almoço, sentou-se de frente para o micro-ondas e contou as voltas que a lasanha dava até atingir dois minutos.
Porém, na vigésima volta, a energia oscilou duas vezes antes de finalmente cair. Ouvia-se o murmúrio insatisfeito dos vizinhos além do próprio descontentamento de Daniel, o qual resgatava a janta de dentro do eletrodoméstico recém queimado.
Felizmente, a luz da lua era forte o suficiente para que ele pudesse enxergar a cozinha, os talheres e até a forma de uma pessoa imóvel no fim do corredor.
Munido de uma bravura excepcional, o garoto pegou o prato e a mochila e correu para a rua, se agachando entre um latão de lixo e uma máquina de refrigerantes, sua única companhia era o cachorro caramelo que o encarava com seus densos olhos dourados.
Comeu devagar, olhando ao redor desconfiado de qualquer mínimo ruído a sua volta. Deixou o prato para o cachorro, esperando que ele tivesse uma refeição melhor que a sua, respirou fundo e tomou o caminho de volta para casa.
Não pôde deixar de reparar o quanto aquilo era estranho. Não somente pelo suposto fantasma que o esperava, mas também pela rua absolutamente deserta, incomum para uma noite de sexta-feira. Ao menos ao lua estava linda, tão brilhante que iluminava até Vênus, formando um meio sorriso caolho.
Daniel seguia perdido em devaneios quando os postes piscaram mais duas vezes até acenderam e voltarem a iluminar a cidade. O transeunte solitário respirou aliviado e riu de sua própria tolice quando notou que a luz se intensificava vertiginosamente, encharcando tudo de um branco insuportável.
Tanto estímulo visual já seria ruim o bastante se não fosse pelo calor insuportável que fez Daniel cair de joelhos e sucumbir em seguida, caindo numa espiral infinita dentro de sua própria mente.
Ele acordou no que poderiam ser horas ou minutos depois, sentindo-se grogue e dolorido. Sua cabeça latejava e havia um zumbido crescente em seus ouvidos. Tentou se mover e percebeu que estava atado no que deveria ser uma maca.
Começou a cogitar a ideia de ter sido atingido por algum cabo de eletricidade quando um médico entrou na sala sorrindo por baixo da máscara azul.- Finalmente acordado! Como se sente?
O paciente balbuciou sem conseguir responder adequadamente.
- Não se preocupe. Isto é comum no estado em que você se encontra. Apenas repouse e em breve estará bem.
Tão logo ele saiu e entrou outro profissional em seu lugar. Bem mais afoito, esse levava as mãos agitadas aos vários tubos que conectavam Daniel às máquinas barulhentas. Um residente, sem dúvidas.
O rapaz juntou forças suficientes para protestar aumentando o tom e a urgência de sua voz até ser calado com um único olhar.
O outrora residente abaixou a máscara e retirou os óculos, revelando uma mulher jovem de pele negra com uma longa cicatriz no olho direito.- Você foi raptado e nós precisamos sair daqui. Agora.
Nem mesmo o tom urgente ou o olhar de expectativa conseguiu despertar o homem do torpor que ele se encontrava.
- Raptado? Não pode ser. Onde a gente tá? Que dia é hoje? Quem é você?
Ela voltou a trabalhar nos tubos, agora serrando um por um com uma faca que parecia ter surgido do nada.
- Estamos no mesmo lugar onde você sempre esteve mas mil anos depois. Me chama de Kyra.
- Muito bem, onde estão as câmeras? Pode me soltar eu já entendi tudo. Quem fez isso tudo, hein?
Nem bem terminara de falar e as portas foram abertas com um grande estrondo que fez os dois se encolherem.
- Bem-vindo ao quarto milênio!
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3000
Kısa HikayeDaniel é um estudante universitário que após uma série de eventos incomuns desperta em outro realidade nos anos 3000. Desafio da Escrita #3: Um gênero que você nunca tenha escrito antes. (Esse foi o meu desafio favorito até agora, espero poder dese...