I.III. Dúvida Inquietante

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Pensei que minhas pernas iam parar de funcionar no instante que meus olhos chegaram a ele. Assim que pude escapar, corri escada acima, até o terraço. Me forçando a lembrar de como levar ar aos pulmões.

— O que houve Sakura-chan? Está branca como papel, viu um fantasma? — Hinata perguntou quando cheguei ao terraço com uma expressão de espanto.

— Acho que sim.. — Respondi balançando a cabeça para tirar sua imagem da minha cabeça.

Era notável algumas sutis mudanças nele. Seu cabelo estava maior, pouco abaixo das bochechas e tinha uma expressão indecifrável no rosto, como se estivesse tão ansioso quanto eu.

— Acho que já entendi. O fantasma veio comigo, encontrei o Naruto-kun e ele me acompanhou até aqui. Sasuke-san não se opôs ao pequeno desvio de caminho. — Ela explica com um tom de voz doce, tentando fazer com que a situação não fosse tão estressante para mim.

— Ele chegou mais cedo do que eu esperava.. — Ela me passou os hachis antes que eu continuasse.

Eu não tinha ideia de como colocar em palavras o quanto eu era agradecida a ela. Primeiro, por cuidado do Naruto e tratar de lhe dar pelo menos um pouco de juízo, e pelo que ela fazia por mim agora.

Itadakimasu! — Era sempre bom ter a companhia dela nos meus horários livres.

Ela insistiu que nós comessemos antes de qualquer conversa, com a justificativa fajuta de não querer tirar o meu apetite. Um jeito de camuflar sua preocupação.

Arigatou, Hinata-chan.. — Ela me deu um meio sorriso, mas ele não chegou aos seus olhos.

Suas íris lilases demonstravam outra coisa, ela sempre se preocupava demais. 

— Sei que você sabe de alguma coisa, seus olhos não mentem. Ande, me conte.. — Ela suspirou, chateada.

— Naruto-kun estava irritado.. — Eu a interrompi, juntei um pouco as peças e já tinha uma história formada na minha cabeça.

— Se aquele baka te disse algo desagradável, vou esmagar a cabeça dele.. 

— Não, Sakura-chan! Ele é sempre muito carinhoso.. — Ela se apressou em dizer, ficando com as bochechas vermelhas. — Ele estava irritado com o Sasuke-san, a vinda tão rápida dele até Konoha se deve ao fato de que ele não vai passar muito tempo.

A notícia me atingiu em cheio, me fazendo pensar na dúvida que bem me atormentando nos últimos meses.

Por que estou te esperando, Sasuke-kun? 

Ele não me avisou sobre sua volta. Não respondeu a nenhuma das minhas cartas, nem mesmo quando eu parei de enviá-las. O que diabos eu ainda estou esperando dele?

É de uma extrema agonia quando se ama tanto um alguém, a ponto de não conseguir explicar em palavras o quanto ele é importante para o seu coração. Se torna ainda mais agonizante quando não se pode ter certeza sobre ele sentir o mesmo.

— Tudo bem, Hina.. — Eu sorri falsamente, com meu coração se estilhaçando dentro do peito. — Não estou chateada.. Mesmo que ele pertença a essa aldeia, acho que.. Mesmo meu coração pertencendo a ele.. Eu sei que ele vai acabar indo embora. 

Eu senti meus olhos marejados. Por favor, agora não.. Se recomponha, Sakura! Ela iria me abraçar se eu não tivesse levantado de maneira tão abrupta. 

Gomen, Hinata-chan! Minha hora de almoço já acabou, nos vemos depois, tudo bem?

— Não vá emendar os plantões, você também precisa viver fora desse hospital. — Respondi com um sorriso em agradecimento, um sorriso sincero dessa vez. 

Eu precisava melhorar essa minha expressão de tristeza, não era o fim do mundo, né? Ele já foi embora outra vezes, qual a diferença agora? 

Kami, a quem eu estou tentando enganar? Existem diferenças gritantes agora.

O restante do dia passou rápido enquanto eu mantinha a minha mente ocupada com os pacientes, ajudar a trazer uma nova vida ao mundo deveria ter me deixado mais alegre do que eu estava. Principalmente depois de ver a expressão da mãe ao segurar seu bebê pela primeira vez.

Quando o sol se pôs no horizonte, eu sabia que já estava na hora de ir embora. Tsunade-sama vai ficar feliz em saber que voltei a respeitar o meus horários livres.

O clima estava mais frio do que o normal para a aldeia, mas eu gosto assim. Andei pelas ruas sem ter muita noção de onde estava indo. 

Não dei atenção aos caminhos que estava tomando, até estar sentada no teclado de um dos prédios mais distantes e solitário do centro de Konoha. Eu só precisava de alguns minutos de paz, sem olhares sobre mim.

Aqui eu não precisava fingir que estava tudo bem, não é? Longe dos olhares alheios e curiosos eu podia me dar ao luxo de não manter o sorriso. Fechei os olhos para sentir a brisa em meu rosto, então senti as lágrimas quentes escorrendo pelo meu rosto, abracei meu joelhos em busca de algum conforto.

Por que essas malditas lágrimas? 

Mas isso estava muito claro na minha mente. Porque eu sentia muito ao imaginar que a partida dele estava mais próxima do que pensei. Sentia por não ter tempo. Por não ter a oportunidade que estava esperando. Por não ter seu coração, como ele tinha o meu.

Um estranha movimentação nas árvores chamou a minha atenção, como se alguém estivesse ali, mas estava escuro demais para eu ver qualquer coisa. Talvez tenha sido só minha mente fora de órbita imaginando coisas.

O desvio do meu caminho tinha chegado ao fim, agora que eu não tinha a certeza de estar sozinha. O restante dos passos até a minha casa foram os mais estranhos possíveis, eu sentia que estava sob o olhar de alguém o tempo todo. Assim como me senti quando dei atenção àquele barulho quando estava no telhado. 

Diminui a passada até que parei de andar por completo, esperando que aquela tensão estranha subisse, mas isso não aconteceu. 

Me virei para olhar para trás, e então o encontrei. Uma grossa capa preta o cobria, ajudando-o a ficar invisível nas sombras. Estava apenas a alguns metros de mim, não mexeu um só milímetro enquanto eu o analisava. Até que o vento frio remexeu a sua capa. 

Abracei a mim mesma, mantendo o olhar fixo nele. O clima tinha esfriado muito desde que saí do hospital. Vejo um lampejo passar por seu rosto. Aquilo teria sido nervosismo? Preocupação? Eu estava imaginando coisas demais?

Ele deu passos largos na minha direção, sem quebrar nosso olhar, sua expressão neutra novamente. Bem, pelo menos até ele desamarrar as fitas que mantinha a capa presa e colocá-la sobre meus ombros. Meu coração errou as batidas ao tê-lo tão perto. 

Você não pode se deixar afetar assim!, meu subconsciente tem o prazer de me lembrar.

Mas foi um gesto tão simbólico. Me deixou maravilhada e ao mesmo tempo, pasma. Sua voz, a qual senti tanta falta, soou nas ruas vazias só um pouco mais alta do que um sussurro. 

— Podemos conversar? 

Eu fiquei sem resposta por alguns segundos, enquanto ele aguardava pacientemente, a apenas dois passos de distância. 

— Você.. Você estava me seguindo? — Ele desviou o olhar, como se fosse descoberto caso eu continuasse encarando seus olhos.

— Eu não tinha a intenção.. — Ele fala num tom tão natural, sequer parece que ele está admitindo que me seguiu e ficou à espreita. — Você é muito ocupada, então, eu só estava esperando.

De repente eu me dei conta. Ele me viu no telhado, o lugar que pensei que estaria vazio, onde eu poderia simplesmente sentir e não ser julgada por isso.

Eu tinha tantas dúvidas. Dúvidas que estavam me deixando confusa, principalmente agora com ele na minha frente.

O que veio fazer aqui, Sasuke-kun? 

O Retorno do UchihaOnde histórias criam vida. Descubra agora