1- O dia não amanheceu legal!

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Eu sabia que não iria dar certo, já havíamos feito muitas viagens e a máquina apresentava sérios problemas. Cada dia um alerta diferente. Eu havia falado com meu pai, mas "o dr. Danvers sempre tem uma carta na manga", era o que ele vivia me dizendo. Parece que tudo estava premeditado.

Aquele dia havia amanhecido cinza, o clima estava pesado, neve caia em um dia que poderia ter sido ensolarado. Era um sinal de que as coisas não iriam bem. Eu estava em meu quarto, lendo um livro sobre astrologia – eu me amarrava em tudo sobre o assunto – quando Pietro, meu irmão mais novo, entrou correndo no quarto, assustado.

- Aquele barulho – o som de sua voz quase não saía – aconteceu de novo.

Minha única reação foi tentar pará-lo. Meu pai era muito cabeça dura, então corri para falar com minha mãe, se tinha uma pessoa que poderia colocar juízo na cabeça dele era ela. Com seu famoso "jeitinho" ela conquistava tudo o que queria. Como eu queria ser como ela! Mas, em partes, eu fico feliz de hoje me olhar no espelho e poder ver pequenas coisas dela em mim.

O laboratório estava em modo de alerta, luzes vermelhas para todos os lados informavam que algo estava errado. Ele tinha usado a máquina de novo. Não encontrei minha mãe em lugar nenhum. Somente Pietro e eu na casa. Eu tinha de trazê-los de volta, eu sabia que mais uma viagem poderia ser perigosa. Val, nossa inteligência artificial, nos avisara dias antes. "O sistema nunca mente", dizia minha mãe. Comecei apertando alguns botões, eram tantos que minha visão embaralhava. Luzes vermelhas, sons alarmantes.

- Tina, cadê o papai e a mamãe? Ele disse que não iria de novo, ele prometeu!

- Calma, Pietro, eu vou trazê-los de volta.

Pietro foi a melhor coisa que nos aconteceu. Há cinco anos antes, meu pai estava dessa mesma forma, vivia perturbado pelos planos futuros; eu achava legal as vezes, parecia aqueles cientistas malucos dos filmes de ficção, mas ele já estava passando dos limites. Foi quando tivemos a notícia de que mamãe teria um bebê. Papai ficou tão empolgado que até se afastou mais do laboratório, ele passava tanto tempo com a gente que ficávamos oprimidas, mas de um modo bom.

Eu vivia torcendo para que fosse menina, ia poder fazer dela uma mini eu, mas era um menino, o que não era tão ruim assim. Quando ele nasceu foi a maior festa. Chamamos alguns poucos amigos e vizinhos para uma festa de boas-vindas, papai estava todo sorridente, mamãe um pouco cansada, mas o sorriso era enorme. Ele foi crescendo e crescendo tão rápido e ficando tão esperto, tão inteligente; ele amava desenhar, construir coisas, criar coisas, mesmo tendo pouca idade. Ele era meu pequeno prodígio.

O problema é que tudo volta ao normal algum dia, papai voltou aos seus planos mirabolantes, seus sonhos loucos, e se afastou de vez da gente. Nunca tinha tempo para a família. Pietro sentia sua falta, vivia perguntando por ele, mas ele sempre estava no laboratório. Acho que meu irmãozinho acabou associando a falta do papai com o laboratório, ele quase nunca ia lá, até que uma hora foi necessário.

Depois de tantos botões apertados, uma nuvem de fumaça invadiu o laboratório. Aquele trambolho estava de novo em seu lugar. Nós havíamos conseguido, eles estavam em casa, mas o pior ainda estava por vir.

- Ah, a monarquia, como ela me fascina, eu nasci para vê-la dominante de seu povo.

- Pai, mãe! – Corri para abraçá-los – tive tanto medo.

- Ingrety, minha filha – ele estava como das últimas vezes, eufórico, alucinado, sonhando com coisas que não poderiam acontecer – eu quase o encontrei, ele realmente existe, não são somente histórias, ele existe.

Minha mãe estava muda, é como se ela não soubesse o que dizer e eu acho que realmente era isso.

- Do que ele está falando, mãe? Quem existe?

Viajante - Conto IWhere stories live. Discover now