No outro dia, bem cedo, fui acordada por pássaros que certamente resolveram fazer um coral na janela do meu quarto. Eu sempre tive um sono muito pesado, mas desde que cheguei lá, qualquer barulho que fosse, me despertava. Teve uma vez, na floresta, que eu estava dormindo em um dos galhos mais baixos da minha cama temporária – graças aos céus por isso – e um pássaro preto, enorme, do nada, começou a me atacar, no susto eu caí no chão e em seguida um ninho, com alguns poucos ovos, mas com o suficiente para um banho, me acertou o rosto. Foi aí que percebi o porquê do ataque, eu estava usando os filhotinhos da mamãe pássaro como travesseiro. Triste fim dos passarinhos. Enfim, a cama que Maria Luci arrumou para mim era maravilhosa, era feita de palhas secas e coberta por um tecido de pele de ovelha. A casa dela era bem humilde, toda a base de pedras, e o teto de tábuas de madeira, assim como tudo na cidade, e com alguns poucos moveis nos cômodos, como camas, mesas, cadeiras e baús.
Na cozinha, o fogo do fogão a lenha crepitava anunciando que as pessoas daquela casa já haviam acordado há muito tempo, isso explica o fato de eu não ter visto ninguém quando acordei. Na noite passada eu tinha chegado com tanto sono que Maria Luci me mostrou a cama e eu caí dormindo, não me lembro de mais nada antes disso, só dela ter falado muita coisa até chegar em sua casa. Isso deve ter me sono.
Me dei o luxo de ficar deitada mais um pouquinho, mas o sono já tinha ido embora. Quando fui à cozinha, o maior cômodo da casa, que não era tão grande, mas muito aconchegante por sinal, uma jovem senhora estava mexendo com uma panela à beira do fogo. Ela era bem alta, o que não é uma novidade alguém ser maior do que eu, e usava um vestido verde com uma blusa branca de mangas longas por baixo, nos pés usava o mesmo tipo de "sandália" que Mallu e o resto das pessoas usavam, seus cabelos eram dourados e estavam presos em uma trança lateral, ela cantarolava uma canção que parecia as que minha mãe cantava para mim quando eu ainda era uma criancinha. Me deu uma saudade dela naquele momento, será se ela ainda estava viva, ou algo tinha acontecido com ela? Olhar aquela mulher cozinhando me lembrou quando minha mãe fazia panquecas para Pietro e eu, era um dos melhores momentos do dia, quando nos sentávamos à mesa, nós três...
- Bom dia, querida! Como amanheceu? Mallu saiu com o pai dela, mas logo está de volta.
- Bem, muito bem, senhora, muito obrigada por me dar um lugar para dormir, não sei como agradecer a senhora e a sua filha.
- Não precisa agradecer, eu confio no julgamento de Maria Luci, e você é uma pessoa boa, posso sentir isso – me senti tão bem naquele momento, sua voz era como um abraço em forma de palavras.
- Muito obrigada mesmo, prometo retribuir assim que eu puder – não sabia como, mas eu iria fazer isso – onde a Mallu foi, eu posso saber?
- Claro, ela foi ao mercado com o pai, eles tinham uma entrega para fazer, mas disse que logo estaria aqui. Ah, antes que eu me esqueça, meu nome é Magda.
- E o meu é Ingrety Christinna, pode me chamar de qual preferir.
- Nome diferente, forte, gostei! Você deve estar com fome, Ingrety Christinna, em cima da mesa tem algumas coisinhas e no fogão tem leite quentinho, pegue o que quiser. Vou ali e agorinha volto, sinta-se em casa.
Não deu nem tempo de responder, pois ela já tinha saído. Quando olhei para mesa, vi o céu na terra. Um prato cheio de bolo e em outro aquele mesmo pão que comi no dia passado, ao lado, tinha uma panela com leite recém fervido, uma delícia. Aquilo era bem diferente do que eu costumava comer em casa, mas era uma das melhores comidas que eu já tinha provado. Não demorou muito tempo e Mallu chegou com seu pai, um homem forte, mais alto que Magda, de pele morena e ombros largos, ele era tão bonito quanto a esposa; vestia calças azuis daquele mesmo pano que já disse aqui antes, e uma blusa branca de algodão cru, ele não tinha o rosto tão convidativo quanto o resto de sua família, mas acho que ele não me expulsaria.
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Viajante - Conto I
PertualanganIngrety tinha tudo para ter uma vida perfeita, mas, um pequeno problema na máquina do tempo de seus pais, faz com que ela se encontre em um mundo totalmente diferente do seu. Longe dos pais e de seu irmãozinho, Ingrety Christinna tem grandes aventur...