7- A senhora dos esverdeados surge

15 3 3
                                    

Era por volta de umas oito e quarenta e sete da manhã, do outro dia, quando eu ouvi trotes de cavalos e gritos que retumbavam pela rua. Sai para fora no exato momento em que homens de armaduras esverdeadas se aproximavam de forma bruta e violenta perto das pessoas e, de seus cavalos, as arrastavam pelo chão. O terror se instaurou pela cidade, por qualquer lugar que você fosse havia destruição. Entrei em casa no exato momento e usei meu corpo como barreira diante da porta. Maria Luci estava chorando debaixo da mesa da cozinha, seu pai não estava em casa, ele tinha ido aos campos ver se estava tudo indo certo com as novas plantações; certamente ele não ouviu nada, então estava seguro. Dona Magda fora à casa de Tereza arrumar uns vestidos, eu torci para que naquele momento elas estivessem seguras.

Ousei olhar pela janela para ver a situação, vi algumas pessoas mortas na rua, eu não as conhecia, mas só de imaginar que elas tinham alguém que esperavam por elas em casa meu coração se quebrou. Vi, de longe, algumas casas pegando fogo no final da rua, e fiquei com medo de ter acontecido alguma coisa com o seu Nicolás, ele já era um senhor de idade, muito amoroso, mas solitário. Seus filhos haviam morrido na guerra de Anagrom com os Kronans; ele disse que desde então sua vida nunca mais foi a mesma, a única graça que ele via na vida era quando ia para o trabalho e conseguia ver o sorriso no rosto das pessoas que se alimentavam do que saia de suas mãos. Ele foi o primeiro a estender-me a mão, cuidava de mim como se eu fosse uma filha. Ele precisava de mim.

- Maria, eu preciso ir ver como está o seu Nicolás, ele não pode ficar lá sozinho, é muito perigoso.

-Não vá, Ingrety, você não tem nenhuma chance contra eles, você vai morrer assim que sair para fora.

- Eu posso ser rápida, a rua é de descida, chego lá em menos de um minuto, só me prometa que vai ficar segura, está okay?

- Eu vou para dentro do armário, por favor, volte para casa.

Não pensei duas vezes quando pulei da janela para ir atrás dele. Tive que pensar rápido pois havia soldados armados por todos os lados, a única ideia que tive foi sair correndo como uma doida, pois me misturaria com as outras pessoas que estavam fugindo deles. A primeiro plano a ideia deu certo. A casa do pão ficava no fim da minha rua. Assim que seu Nicolás me viu já foi me puxando para dentro, ele era bem forte para a idade que tinha.

- O que você está fazendo aqui, minha jovem? Não vês o que estás acontecendo?

- Eu tinha que ver se o senhor estava bem, esses homens estão destruindo tudo que veem pela frente.

- Eu já sou um velho, Ingrety, minha hora de ir tem se aproximado a cada dia, você vir aqui não iria impedir isso, só colocaria sua vida em risco.

- Como o senhor pode falar isso? Ainda tem muita coisa para viver, a vida é maravilhosa... Não agora, mas ela é maravilhosa.

Nessa hora alguns homens começaram a arrombar a porta, certamente queria pegar o dinheiro, ou completar a cota de vítimas.

- Rápido, pelas portas dos fundos, temos que ir!

O seu Nicolás correu muito rápido para alguém que só estava esperando a sua morte. Atrás de nós a casa do pão estava pegando fogo, e se não tivéssemos sido espertos, certamente seriamos espetinho de soldado. Corremos como se não houvesse um amanhã, e poderia não haver, até que entramos no caminho que dava para a fonte de Anagrom e nos escondemos lá.

- O senhor é bem rápido, seu Nicolás! – parecia que eu estava tendo um ataque de asma, o sedentarismo uma hora iria me matar. Se exercitem crianças!

- O susto move qualquer pessoa, minha jovem, até os que estão com um pé na cova – ele deu uma risadinha.

A fonte continuava a cair suas águas tranquilamente, nada a parava. Nesses seis anos que a visitei ela permanecia a mesma. A queda das águas acalmou os nossos ânimos, ainda mais depois que bebemos dela. Não sei se vocês estão lembrados, mas Maria Luci havia falado que essa era uma fonte dos desejos também, qualquer coisa que pedíssemos poderia ser realizada, muitos dos meus desejos se realizaram como ter uma casa, comer todos os dias, conseguir aguentar Mallu todos os dias, menos o meu primeiro pedido, o mais importante não foi realizado. As vezes ela só realizava os desejos mais simples. Mas realizava desejos. Eu tinha que tentar, uma moeda por paz nesse reino, será se daria certo?

Viajante - Conto IWhere stories live. Discover now