4- O mestre dos magos é o rei de Anagrom

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O grande dia chegou e me senti lisonjeada ao ser convidada por Tereza. Em dois dias ela se demonstrou bastante amável comigo, exceto com minhas roupas; quase caiu da cadeira quando me viu de calças, blusa e All'star, a sorte dela é que minhas roupas estavam limpas, pois se fosse há três dias atrás era perigoso ela cair morta no chão – nem um pouco exagerada eu sou – Ela disse que nunca viu mulher usando roupas de homem e que eu precisava de umas "roupas de verdade", tratou-se rapidamente de providenciar um de seus modelos para eu usá-lo na festa. Mallu nem dormira a noite, amanheceu o dia olhando, com os olhos vidrados, para a janela. Estava toda animada de ter sido convidada e por me ter lá, eu também fiquei feliz de me sentir importante para alguém dessa forma, os dias foram difíceis de viver, sem informações, sem notícias. Na tarde passada, tentei achar alguma pista dos meus pais pela cidade, mas nada encontrei, ninguém vira nada e nem pessoas diferentes do comum ali. Senti-me tão impotente de não conseguir fazer nada. Eu poderia procurar nos reinos vizinhos, porém eles estavam a mais de cinquenta léguas dali; o território de Anagrom era bem vasto e eu acho que nunca o conheceria totalmente.

Quando a tardezinha de domingo bateu, nos reunimos para ir ao castelo. Dona Magda estava deslumbrante em um vestido verde esmeralda que realçava o brilho de seus olhos castanhos, uma tiara com pequenas flores brancas enfeitava seus cabelos que estavam soltos e chegavam à cintura, quem a olhasse nunca diria que tinha quarenta e dois anos de idade. Seu marido usava uma calça comprida marrom e uma camisa social azul de panos muito finos – muito lindo, sério, o coroão arrasou - estava à altura de sua linda esposa. Mallu fora a última a se arrumar, estávamos todos do lado de fora esperando a donzela, mas quando terminou valeu a pena. Ela usava um vestido rosa claro, de mangas bufantes, um enorme laço atrás e um tule que acompanhava seu corpo, como uma princesa, um pouco exagerado para mim, mas totalmente a cara dela. Seu cabelo, igual ao de sua mãe, estava envolto em uma trança lateral com flores, no meio, da cor de seu vestido.

- Você está linda filha! – Magda a olhava com doçura enquanto seu marido ria.

- Achei um pouco exagerado...

- Papai!! – protestou Mallu.

- Não tem problema, filha, você é linda qualquer jeito.

- Ingrety, você está maravilhosa, parecendo uma duquesa – longe de mim parecer uma duquesa, eu estava me sentindo fora de mim, nunca tinha vestido uma roupa tão chique antes, só tinha visto nos filmes e séries que eu assistia, e que saudade delas, nunca imaginei que viveria uma.

Eu queria me vestir da forma mais discreta possível e acho que Tereza leu minha mente. Meu vestido era estilo Morticia Addams, só que de veludo, na cor vinho, com rendas pretas nos punhos e na barra que parecia a calda de uma sereia, em cima a gola alta sufocava meu pequeno pescoço, mas ele era lindo. Meu cabelo eu optei por deixá-lo solto, as folhas de aroeira que Mallu me dera para lavá-lo deixaram-no maravilhoso, meus cachinhos ficaram bem hidratados e felizes. Acho que o único pecado que cometi foi colocar o All'star, mas a culpa não foi minha, eu não consegui me adaptar as sandálias que Maria Luci me dera. Se Tereza me visse com eles era perigoso ela me jogar da torre mais alta do Castelo.

- Obrigada, mas não precisa exagerar, olha, é melhor irmos, o sol já está se pondo.

- Isso é verdade, temos que ir logo, querido – Magda saiu arrastando seu esposo até a carruagem deles, e não, não era daquelas luxuosas que usavam os reis ou os Duques, a do pai de Mallu era bem simples, ele a usava para fazer as entregas das laranjas pela cidade e ao castelo – vamos meninas, não fiquem ai paradas!

A porta do castelo estava lotada, nunca vi tantas carruagens em um lugar só - em lugar nenhum, até aquele dia – O pátio em frente à entrada parecia uma casa de formigas, todos andando de um lado para o outro agoniados para entrar. Mulheres com vestidos coloridos e bufantes, homens com ternos finos e cheios de medalhas e faixas atravessadas nos ombros, com certeza eram reis e príncipes dos vários reinos vizinhos. Não imaginei que os reis se vestiam assim, nos dias em que fui ao palácio não vi ninguém da família real, então não tinha a mínima noção de como eles eram ou o que vestiam, só as princesas que com certeza arrasariam com os vestidos de Tereza.

Viajante - Conto IWhere stories live. Discover now