6- O relógio maligno soa outra vez

15 3 0
                                    

Eu tenho que andar depressa na contação dessa história, eu não tenho muito tempo, e eu sei que vocês estão cansados desses clichês de "E eles viveram felizes para sempre...". Ninguém vive feliz para sempre, eu sou a prova disso. Enfim, vocês precisam saber como eu me tornei a guardiã, isso é o mais importante de tudo que eu contei até aqui...

Cinco anos se passaram desde aquela festa. A minha vida continuou basicamente a mesma de todos os dias em Anagrom. Dona Magda e seu esposo me "adotaram", na verdade, Mallu e sua mãe ficaram compadecidas de minha história, que eu alterei em alguns detalhes não muito importantes, como uma máquina do tempo, mas antes disso pensaram que eu era uma bruxa só porque de vez em quando eu comentava sobre algumas coisas que existiam no meu "reino"; elas ficaram com medo de alguma outra pessoa descobrir e querer me queimar em uma fogueira. Graças aos Céus isso não aconteceu; depois pensaram que eu era louca e eu acho que essa é uma pequena duvida que ainda permanece na cabeça dessa família, mas viram que eu estava sozinha nesse mundo, e, mesmo eu tendo a maioridade, eles decidiram que eu podia ficar.

- Contanto que trabalhe pelo que receber aqui – disse o pai de Maria Luci, sem rodeios.

Eu super concordei com o que ele disse, e foi por isso que eu consegui arrumar um emprego na casa do pão, eu era a melhor atendente daquele lugar, e a única também. Seu Nicolás era um senhor muito amoroso que viu minha cara de jovem desempregada à beira da falência e abriu um lugar em seu comércio para mim. Dona Isabel, amiga da mãe de Mallu, até me perguntou se eu não queria trabalhar com ela, e eu super queria. Isabel era uma das pessoas mais amáveis que eu conheci, sério. Um dia ela levou um bolo de laranja para fazermos um lanche da tarde. Que bolo, meus amigos, que bolo! Eu queria muito trabalhar com ela e conhecer mais sobre as flores e as plantas, mas, na casa das flores, muitas pessoas trabalhavam e na casa do pão era só o seu Nicolás tomando conta de tudo. Eu sei que eu precisava de ajuda, mas de certa forma, ele também precisava de mim. Sempre serei grata a ele e a família de Mallu, eles se tornaram a minha família também. Dona Isabel se tornou bastante presente também, ela não saia lá de casa em seus horários vagos. Seus filhos Saminen, o mais velho e Julius, o mais novo, viviam fazendo companhia para Mallu e eu. Foram inúmeras as noites em que nos sentávamos na porta de casa e conversávamos sobre todas as coisas possíveis. Sinto muita falta deles.

O reino nunca esteve melhor, e se esteve eu não estava lá para ver. Com a regência dos novos reis as pessoas se sentiram super seguras e esperançosas. Um fato triste a se comentar é que o rei Austin não resistiu por muito tempo a vida sem sua esposa. Alguns meses após o casamento de sua filha mais velha, Amália, ele faleceu. Carmela e a rainha encontraram-no caído no chão de seus aposentos com a mão no peito, pelo que parece ele sofreu um infarto, mas quando eu falei isso ninguém havia entendido. Eu demorei a me acostumar com o quanto aquela vida era atrasada com relação a algumas coisas que eu vivia em Vancouver.

Falando da minha casa, nunca mais tive notícia dos meus pais ou de Pietro. Alguns meses após o casamento eu pedi a Tereza, ela se tornou uma grande amiga, que assim que ela fosse a algum dos reinos vizinhos ela me chamasse, era uma oportunidade para procurar pelos meus pais e não sei se foi por permissão do destino, mas justamente na época em que eu fiz o pedido, foi a que ela mais recebeu encomendas das realezas dos reinos vizinhos. Depois daquela cena do casamento, em que ela praticamente tirou um vestido dentro do outro, sua fama se estendeu por todos os reinos. Eu a acompanhei em todos e sem exceção. Até vi de longe Charlie, o garoto que me salvou de um engasgo, em Winsics, mas ele não me viu.

Em todos os lugares eu saía perguntando pelos meus pais, mas ninguém os reconhecera pelas características que eu lhes dera. Eu cheguei até a pensar se como resultado daquela viagem nós não tínhamos parado em um universo paralelo, ou em uma outra dimensão. Eu já não sabia mais o que pensar. Meu eu se dividia em dois pensamentos: meus pais tinham morrido e eu deveria aceitar, e o outro de que uma hora ou outra nós estaríamos juntos. Os anos foram se passando e os meus medos foram aumentando, eu já não sabia mais exercitar a minha fé de que os reencontraria.

Viajante - Conto IWhere stories live. Discover now