10- O mergulho mais gelado da minha vida

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- Olha, eu preciso que acima de tudo vocês confiem na minha palavra – já estávamos junto a fonte, o barulho da água caindo abafava, de certo modo, nossas vozes.

- Eu confio em você – mas porque você me trouxe até aqui? E por que aqueles homens invadiram a minha casa? Você tem alguma coisa a ver com isso?

- Mais ou menos – como era difícil explicar essa situação.

- Gente, o que está acontecendo? Por que estamos aqui falando coisas estranhas? Espera aí, vocês também estão ouvindo isso? – ele apontou para o ar – parece choro de criança.

- Minha cria acordou!

- Sua o que? – perguntaram em uníssono enquanto me seguiam em direção ao choro.

- Lembra que eu pedi que vocês confiassem em mim? Então eu arrumei uma criança para cuidar. Olha que legal, linda, não é?

- Meu Pai do céu, onde você arrumou essa criança, Ingrety Christinna? – ela chegou mais perto da criança e começou a analisá-la até que viu o símbolo de Anagrom em uma de suas cobertas – Ingrety, essa não é quem eu estou pensando, ou é?

- Sim é ela, mas eu posso explicar.

- Do que vocês estão falando, de quem é esse bebê?

- Essa, Saminen, é ninguém mais ninguém menos do que a herdeira do trono, a princesa Kemilly, que foi roubada essa noite – ela estava totalmente eufórica, mas não no sentido bom da palavra.

- Meu Deus, você roubou a princesa? Como? – ele parecia não acreditar e eu já estava me acostumando com aquele tipo de reação.

- Não, eu não roubei a princesa, os reis me entregaram ela.

- E como você prova isso, até onde eu sei você pode estar a mando dos esverdeados assassinos – nessa hora, meu amigo de cabelos encaracolados fechou a cara para mim, certamente ele lembrou da perda irreparável que eles causaram para ele e o irmão.

- Olha, eu não estou mentindo – mostrei minha mão direita para eles.

Antes de me entregar a criança, o rei disse que a partir dali eu fazia parte da família e que eu tinha uma aliança com o reino. Ele cortou a mão direita com a adaga que carregava em sua cintura, e olhou para mim até que eu permitisse que ele fizesse o mesmo. O aço da adaga só precisou deslizar pela minha mão para abrir um corte grande o suficiente que deixou à mostra o meu sangue vermelho vivo. O rei uniu nossas mãos em um aperto selando assim o nosso compromisso. Logo depois eu enrolei a mão em uma faixa, mas de nada aliviava a dor. Aquela marca era uma das mais raras de se encontrar no reino. Somente pessoas de confiança de um rei e que tinham uma aliança com ele tinha aquele sinal nas mãos. Os meninos não acreditaram quando a viram.

- Não pode ser verdade – disse Saminen.

- Por que eles entregariam a bebê para você? O que está acontecendo?

- Finalmente vou poder explicar – eu parecia uma jovem mamãe balançando a neném tentando fazê-la dormir – Lembra que te disse que descobri quem está por trás dos esverdeados, Mallu?

- Lembro, você disse que era uma mulher, quem é essa ela?

- Eu não sei, mas ontem, quando eu estava procurando alguma porta atrás do relógio eu a vi conversando com um dos soldados verdes, ele parecia ser o chefe deles, abaixo dela.

- Meu Deus, o que eles estavam fazendo ali? Ainda mais perto do relógio, lá dentro deve ter alguma coisa que eles querem, certeza – Maria Luci estava se sentindo a própria Sherlock Holmes enquanto Saminen nos olhava com uma cara de perdido.

Viajante - Conto IWhere stories live. Discover now