Before the last petal fall | Taekook

Capítulo III

Point of vision (Namjoon) - ⚘

Disse já me levando para fora dali, porém surgiu alguém nas sombras. Não saberia definir exatamente o que era aquilo, uma criatura ou um humano, na verdade, era quase uma mescla de ambos. Nas escadarias do cômodo, a passos lentos e intimidadores, senti a criatura se aproximar cada vez mais, me rodeando como um gato sorrateiro. Quando atravessou um feixe de luz, vi que ele vestia apenas uma calça que ia até a altura dos joelhos, e uma capa preta rasgada em algumas partes. Possuía olhos e cabelos negros, e os pés eram como pés de lobo, assim como as orelhas, além da grande cauda que rastejava pelo tapete, e pude constatar com mais propriedade que aquela criatura na verdade, era um híbrido de lobo.

Os olhos brilhavam em meio à escuridão do lugar, tão profundo e dominante que fez com que todos na sala se encolhessem, mostrando a total autoridade de sua presença ali.

- Quem é você e o que está fazendo aqui? - ele pergunta. Seu tom de voz é frio e pesado.

- Me desculpe, sou Kim Namjoon. Me perdi na floresta e...

- Você não é bem vindo - ele responde rispidamente. Cada vez mais, ele se aproxima da lareira, e pude vê-lo por completo. De fato, ele possuía todas as características de um híbrido, e além de todas elas, notei que ele possuía também várias cicatrizes pelo abdômen claro, e suas mãos, até a altura dos cotovelos, eram negras com grandes unhas afiadas, e do braço até os ombros parecia ser seu tom de pele humano, mas não consegui ver muito bem por conta da capa.

- Eu não quis fazer mal, só queria achar um lugar para me proteger da chuva...

- Então já encontrou - a criatura diz, me lançando um olhar maquiavélico.

Sem delicadeza alguma, ele me puxou pela blusa, me arrastando pelo chão, e logo me levou até os andares de cima do castelo, me jogando com força numa das celas, fazendo com que eu batesse a cabeça e as costas na parede. O impacto foi tanto que não resisti, desmaiando em seguida. A última coisa que ouvi foi o som dos cadeados sendo trancados, e logo depois, adormeci.

⚘

Point of vision (Taehyung) - ⚘

Eu estava preocupado. Muito preocupado, na verdade. Andava de um lado pro outro na sala, intercalando meu olhar entre o relógio de ponteiro pregado na parede, e qualquer som vindo da rua, esperando que fosse meu irmão, mas a cada segundo aquilo se tornava uma tarefa mais torturante. Já roía as unhas em sinal de nervosismo. A cidade não era tão longe assim, será que tinha acontecido alguma coisa com ele?

Não perdi tempo, vesti uma capa, montei no meu cavalo e parti em busca de Namjoon. Eu conhecia o caminho e ainda estava cedo, o que facilitou bastante.

Perto de uma trilha, avistei um pacote que era claramente uma das encomendas do Nam. Segui por este caminho chegando até um grande castelo. Vi que o cavalo dele estava amarrado por ali e não tive mais dúvida. Desci, empurrei o portão logo entrando e assim como meu irmão fez, amarrei meu cavalo ao lado do seu.

O lugar era deserto, não havia ninguém ali. Comecei a subir as escadas daquele imenso castelo, chamando pelo meu irmão, mas não obtive resposta alguma, eu só ouvia meu próprio eco. Até que cheguei em um lugar mais afastado, encontrando várias celas. Ali tinham algumas tochas e peguei uma pra conseguir enxergar melhor. Continuei a chamar pelo meu irmão, quando o vi preso dentro de uma das celas, e deixei a tocha encostada.

- Namjoon! O que aconteceu? Você está bem? Eu tenho que te tirar daqui!

- Tae - fez uma pausa passando a mão na cabeça - Você tem que ir embora, não tem como eu te explicar agora o que aconteceu, mas, por favor, pelo seu próprio bem, vá embora.

- Não Namjoon! Eu não vou sair daqui sem você, não vou te deixar aqui!

Nesse mesmo minuto, vi atrás de mim uma sombra e levantei rapidamente. Não conseguia ver seu rosto, pela escuridão do ambiente.

A criatura pegou minha tocha e a lançou com força em uma poça d'água que tinha ao lado, fazendo um estrondo, me assustando. Senti a criatura me rodeando e perguntou:

- Você deve ser outro invasor, porque não o acompanha na cela? - disse a criatura, e senti um certo medo se instalar em mim. Não sabia o que aquela coisa podia fazer conosco.

- Por favor, deixe meu irmão ir embora. Ele não fez nada por mal.

- Ele poderá ir, apenas se você ficar no lugar dele.

Namjoon me chama, e agacho chegando perto da porta de sua cela:

- Tae, não faça isso. Ele pode te machucar.

- Se for pra te ver livre daqui eu fico, Nam. Eu sei me proteger.

Levantei novamente e me direcionei até onde a criatura estava:

- Eu fico no lugar dele - ao dizer isso, uma lágrima escorreu de meus olhos.

- Feito.

Após dizê-lo, suspirei pesadamente, tentando me controlar para não chorar, o que era quase impossível, pois iria me separar de meu irmão. Não sabia se poderia vê-lo outra vez.

A criatura pegou Namjoon com brutalidade, logo o arrancando de minhas vistas, não deixando nem ao menos que eu me despedisse. Não sabia o que ele havia feito com o meu irmão, mas não o vi mais.

Levando consigo uma tocha, ele pediu para que eu o seguisse até meu respectivo quarto. O caminho foi feito em puro silêncio e minhas lágrimas àquela altura, já escorriam pelo rosto.

- É aqui. Se precisar de qualquer coisa peça aos criados e... Quero que jante comigo esta noite - lhe lancei um olhar descrente - E não se atrase. Isso não foi um pedido - ditou por fim, fechando a porta e logo a trancando atrás de mim com força.

Corri até minha cama, logo deixando que todas aquelas lágrimas corressem descontroladas pelo meu rosto, manchado com água os lençóis finos da cama. Não conseguia descrever como me sentia, tamanho o sentimento de perda. Namjoon era a pessoa mais importante da minha vida e, em segundos, eu tinha o perdido.

A criatura que tinha visto, um híbrido de lobo, era a pessoa mais amargurada que tive o desprazer de conhecer. Como ele pôde tratar Namjoon daquele jeito? Como ele poderia ser tão frio àquele ponto?

Não sabia se conseguiria sair dali algum dia, muito menos se poderia ver Namjoon outra vez. Esgotado, acabei dormindo ali, tentando me esquivar um pouco daquela realidade à que estaria condenado a viver.