War Zone || Larry Stylinson

1- Harry

Tomar decisões é algo que faz parte do modo de vida da humanidade, estamos o tempo todo buscando algum motivo para complicar as coisas. Mas, as vezes, trocamos as decisões difíceis por decisões idiotas. Obviamente, tomar decisões erradas faz parte do nosso DNA, mas existe uma linha muito tênue entre decisões erradas e decisões idiotas.

E hakear todos os outdoors dos prédios do continente para transmitir um video de "teor impróprio" é, com certeza, uma decisão idiota. E quase três meses preso em uma cela pequena e fedorenta com um adolescente tagarela me fizeram perceber isso.

Em minha defesa, no começo parecia uma boa ideia. Quero dizer, eu estava entediado, tinha pornografia ilegal, um computador e uma senha de acesso, por que não? Bom, eu respondo o porquê não...

-Hey, Hazz, já parou pra pensar que o céu que chamamos de azul pode, na verdade, ser verde para algumas pessoas, mas elas aprenderam a chama-lo de azul então ficou assim? -Ah, parece que não preciso mais responder o porquê não.
Niall Horan, o adolescente tagarela citado anteriormente e meu atual colega de cela, interrompe meus pensamentos. Ele está deitado em sua cama, olhando para o teto mofado enquanto divagava sobre mais uma de suas teorias que ele jurava fazerem sentido. Decido ignora-lo por hora, ainda são oito da manhã de qualquer jeito.

Niall é um bom garoto, bom até demais, julgo eu. Seu crime? Uma simples tatuagem pequena e escondida em sua bunda que ele fez questão de me mostrar, é claro. Ele está comigo a dois meses, tempo o suficiente para que eu queira abraça-lo e ao mesmo tempo desejar que a guarda o tivesse sentenciado a morte, o que eu realmente não entendo como não aconteceu.

Segundo o que eles chamam de "regras essenciais" tatuagens são crimes hediondos, afinal nosso deus não aprova esse tipo de automutilação e muito menos se for por pura vaidade. Em 99,9% dos casos, se descobertas, elas te levam direto para um fuzilamento em praça publica. Eu digo 99,9% porque eu também sou uma excessão a essa regra, afinal, exibo pelo menos 5 desenhos diferentes em meu tronco, obviamente eles sempre estão cobertos. Posso ser um idiota, porém, suicida talvez não.

Eu deveria estar morto a anos. Mas, ao invés disso, apenas exibo a minha longa e longa lista de passagem pela cadeia: Cabelo longo demais, usar roupas com frases de baixo pudor e sem sentido, suspeito de portar mercadorias ilicitas, tatuagens, usar acessorios demais, falar muito alto, adotar um pato...

Essas regras podem parecer idiotas a primeira vista, mas são uma jogada inteligente. Reforçar quem manda através de coisas tão futeis é inteligente, tenho que admitir.

A milênios atrás, as guerras dizimaram a terra e a humanidade. Guerras causadas por milhões de fatores: politica, religião, o direito a liberdade de expressão, etc. Opiniões divergentes sempre foram um problema. Demoramos anos para nos reeguer como espécie dominante, e cortar toda e qualquer forma de pensamento diferente foi a forma que alguém, citado como herói nos livros de história, achou para que o mundo funcionasse. É bem simples: se formos ensinado desde cedo a concordar com o que a maioria pensa, evitara muitos problemas, certo? Errado. E o fato de sermos dividos em dois mundos diferentes prova isso.

Eu não posso falar muito sobre o norte, pelo simples fato de não saber muito sobre e também não me interessar, mas posso dizer que é um lugar onde eu provavelmente não gostaria de estar.

-É serio que você vai me ignorar? Poxa, já são 8:15! -Niall reclamou do seu jeito drámatico e adolescente. Não sou o tipo de pessoa que gosta de falar o tempo todo, então eu propus uma regra de convivência: Nada de papo furado antes das oito da manhã.

-Como sabe? Você não tem relógio. -Perguntei, ainda deitado em minha cama virado para a parede.

-Eu sou um mago do tempo.

-Não. Você é um idiota com uma tatuagem na bunda. Agora, será que pode me deixar em paz? Eu gosto de você, mas não abuse. -Reclamei, fingindo estar dormindo e ouvi Niall bufar alto, antes de sentir um grande peso de 18 anos se jogando em cima de mim e me abraçando como um grande travesseiro.

-Hazz, se você não falar comigo eu juro que morrerei de solidão. E, se eu morrer, você vai precisar aguentar o cheiro de um cadáver, porque é óbvio que eles irão me deixar aqui apodrecendo por pelo menos uma semana. É isso que você quer? -Ele falou dramaticamente. Rio um pouco, acabo me dando por vencido e virando meu corpo para abraça-lo direito, ele acabou por deitar a cabeça no meu peito como um bebê.

-Eu poderia dizer que você está sendo drámatico, mas eu posso muito bem imaginar isso acontecendo, então-

Minha fala é interrompida por uma batida nas barras da cela que assusta Niall e o faz voltar correndo para sua cama. Lei numero não-sei-e-não-ligo: Envolvimento homoafetivo é punido com pena de morte sem exeções. Por sorte, Niall voltou para sua cama antes das luzes serem acesas, já que em nossa cela não tinhamos janelas.

-Edward, visita. -O guarda falou, com a voz robótica que era característica da maiorias dos moradores em nosso continente. Quando eu era criança, me imaginava lutando contra os robôs malvados. Hoje em dia eu vejo esses robôs malvados e apenas consigo sentir pena de cabeças tão pequenas que não podem pensar por si só.

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-Olá, Edward. -Sara Styles e toda sua pose levantaram sua mão com as unhas perfeitamente bem feitas em frente ao corpo para me cumprimentar, fiz a mesma coisa e apertei sua mão do modo mais gentil que pude.

Sara é a primeira dama. Sim, você não leu errado. A conheci ainda quando criança, não me lembro exatamente quando e nem como, mas ela sempre esteve, de algum modo estranho, presente em minha vida. Ela é o motivo pelo qual eu não estou debaixo da terra.

-A que devo a humilde visita, senhora Styles? -Disse, com um leve tom ácido na voz enquanto nos acomodavamos na pequena mesa redonda no centro da sala de visitas. Sara nunca me passou confiança, talvez fosse conjunto cabelos ruivos de bruxa malvada e olhos castanho escuro assustadores.

-Não seja insolente, Harry, você foi criado melhor que isso.

-Bom, talvez se eu estivesse parado para pensar na minha educação e bons modos ao invés de "onde eu consiguirei comida para não passar fome no dia seguinte"... -Respondo em tom de deboche e Sara da um longo suspiro. Ela está paciente para lidar comigo hoje, em dias normais ela teria me xingado e ido embora, mas hoje ela opta apenas por ignorar meu mau humor.

-Você sera liberado hoje. Não faça perguntas, apenas pegue suas tralhas, ligue para seu amigo esquisito e saia.

-Sem querer abusar da sua boa vontade, senhora Styles, mas já abusando. Será que tenho chance de que meu colega de cela saia comigo? -Tento meu melhor sorriso de cafajeste, que sempre acaba a deixando desconcertada. Okay, talvez ter transado uma, ou duas, talvez cinco vezes com ela me de certos privilégios. Eu não sinto atração por mulheres, mas com certeza prefiro transar com uma do que ser torturado e morto em praça publica.

-Niall Horan? -Confirmo. -Sinto muito, mas não posso. Já fiz um favor enorme para a mãe desse garoto não o matando. Se ele for visto na rua, teremos problemas. Os pais dele não o querem de volta, de qualquer maneira.

-Ele vai para minha casa, não o deixarei sair do distrito C e você sabe que eu cumpro minhas promessas.

-Eu que estou grávida e é você quem desenvolve espírito materno? -Meu corpo todo tencionou. Puta merda. -Antes que seu cérebro entre em curto, não, não é seu. -Esse foi provavelmente o maior suspiro de alivio já registrado na história da humanidade. -Estou grávida de duas semanas, não teria como. Não estou aqui para bater papo sobre isso, leve o garoto com você e seja babá dele. Se eu vê-lo no centro ou andando por outros distritos, pode dizer adeus.

-Obrigado, senhora. -Fui me levantando para sair e ela fez o mesmo, mas não antes de chamar meu nome fazendo-me virar para ela.

-Pornografia no outdoor, sério? Harry, olha, você tem sorte de não chamar atenção por morar na área C, mas eu não posso te protejer para sempre, ainda mais agora que eu tenho uma prioridade maior. Me preocupo com você e com certeza não quero vê-lo morto, mas é isso que vai acontecer se continuar imprudente assim. Apenas... não faça coisas idiotas, pode ser? -Ela disse num tom de voz sincero e cansado, e eu, pela primeira vez em anos, respondi de forma sincera.

-Parabéns pela gravidez.