Capitulo 5

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Geografia, que nojo de matéria. Não foi a toa que amanheci domingo tendo enjôo. Não tinha outra palavra que definisse melhor meu sentimento em relação ao clima, às rochas, à vegetação, à política e ao meu professor do que desprezo. Sim, muito desprezo. Mas teria de saber dessas porcarias todas se quisesse continuar tendo casa, comida e roupa lavada. Mas não vou ficar divagando sobre como foi minha manhã, pois acho que já dei uma boa prévia, então farei um fast-forward até onde me interessa.
Eu havia acabado de me trocar quando Harry tocou a campainha. Meus pais já haviam saído para trabalhar, então estávamos apenas nós dois na sala. Hoje ele vestia uma camiseta vermelha onde se lia Bazzinga em amarelo, o que me fez rir, All Star e jeans preto. O cabelo continuava perfeitamente penteado. E eu... Bom, eu observava o modo como ele empurrava os óculos enquanto conferia os exercícios que me passara. Eu sabia que teria erros, mas havia adquirido certa facilidade com eles, facilidade essa que me levara a entender muito melhor as equações de segundo grau quando as estudei sozinha.
-Hm... Aqui teve um errinho - Harry colocou a folha à minha frente, indicando-o com o lápis, e me explicou com gosto a resolução correta. E depois de corrigir os trezentos erros, nós entramos nas de segundo grau.
-O que eu faço quando o delta der negativo? - Perguntei olhando para minha resolução.
-Nada, isso significa que não existe raiz real.
-Ah, sim. Então, vê se está certo - Empurrei o caderno para ele, que começou a corrigir.
-Está sim, perfeito.
-Está? - Indaguei com certo espanto. Harry me olhou rindo.
-Você está pegando o jeito.
Eu sorri. Ficamos resolvendo exercícios por mais um tempo e eu sempre dava um jeito de lançar uma olhadinha discreta para seu rosto. Ele era lindo. Não o tipo de garoto que arrancava suspiros por onde passava, ele estava mais para normal, na verdade, mas tinha alguma coisa nele que o deixava atraente. Talvez fosse aquele par de olhos Verdes, ou a boca rosada e bem desenhada, ou até mesmo o jeito que ele pronunciava as palavras... É, existia algo interessante e sedutor no modo como seus lábios se mexiam quando ele falava. Senhor, de um jeito em mim.
-Então, qual o próximo assunto? - Ele perguntou com animação assim que fechei o livro. Eu o olhei com a testa levemente franzida.
-Er... Eu pensei em começar física na -
-Ah, física - Fui cortada sem dó nem piedade por um par de olhos quase ofuscantes - Qual matéria?
-É... eletrodinâmica...
-Tá, vamos começar pela corrente elétrica - Harry pegou meu caderno e uma caneta e começou a desenhar algumas coisas - Ela é causada pela diferença de potencial elétrico, representado por d.d.p. Se você considerar uma carga A positiva e outra B, negativa, então há um campo orientado de A para B...
Depois disso, ele começou a falar sem parar. Está certo que ele era calmo, não cuspia as palavras, mas mesmo assim eu não estava conseguindo o acompanhar. Era muita informação para uma pessoa só e eu conseguia sentir meu cérebro dando um nó. Deus, não estava entendendo porra nenhuma, e a confirmação disso veio quando ele me pediu para resolver um exercício. Ele teve que me explicar quase tudo de novo e, assim mesmo, ainda estava confuso. Sabe, a única resposta que eu queria agora era a de como uma pessoa pode ter tanta facilidade em uma cabeça só. E só pra constar: que tédio.
-Entendeu? - Ele me perguntou novamente. Eu puxei um pouco de ar pelo nariz, arqueando um pouco as sobrancelhas. E agora, o que eu respondia? Se eu dissesse não, ele começaria tudo de novo, e eu já estava morrendo de tédio; se dissesse sim, estaria mentindo e me ferraria bonito na prova. Sim ou não, eis a questão. Foi quando eu o ouvi rir baixo. Olhei para seu rosto e aquelas íris fizeram-me corar.
-Não... - Confessei em um sussurro como se ele tivesse me pegado em um flagra - Ai, desculpa, eu não consigo entender nada disso. Digo, a teoria não é difícil, mas os exercícios parecem não usá-la... - Ele riu de novo.
-Não se desculpe, cada um tem um ritmo de aprendizado. É questão de interpretação, saber o que ele está pedindo que você use. Eu abri a boca para responder, mas alguém bateu à porta.
-Duda? - Meu pai chamou por mim colocando a cabeça para dentro.
-Oi, pai.
-Oi, senhor Siviero - Harry o cumprimentou.
-Olá, rap... - Ele se interrompeu parecendo estranhar a presença dele. E, na verdade, eu sabia exatamente o porquê - Oi, rapaz. Desculpe interromper, pensei que já tivessem terminado. Bom, só vim avisar que eu e sua mãe vamos ao supermercado e traremos alguma coisa para a janta.
-Ah, tudo bem - Sorri.
-Até daqui a pouco. Tchau, Harry.
-Tchau, senhor Siviero - Ele respondeu com os olhos quase arregalados.
-Tudo bem, Harry? - Ele me olhou assustado, ajeitando os óculos em seu rosto com constrangimento.
-Sim, estou bem, é... Hm... Que horas são? - Eu reprimi um sorriso, olhando em meu relógio.
-Seis e dez.
-Seis? - Aí que ele arregalou os olhos mesmo - Seis? Nossa, Maria Eduarda , me desculpa - Ele se levantou com pressa, juntando suas coisas desajeitadamente - Desculpa, eu não vi a hora passar, pensei que fosse cedo ainda, eu -
-Harry, está tudo bem - Eu o cortei, rindo do modo como ele disparava as palavras.
-Por que não me avisou que já tinha dado nossa hora?
-Não sei, você estava tão... empolgado... - Ele deu um sorrisinho tímido, passando os dedos por trás da orelha.
-É, eu faço isso mesmo... Foi mal, você deveria ter me brecado.
-Tudo bem, eu precisava tentar aprender mesmo. E você é um bom professor, então eu aproveitei.
-Sério? - Harry indagou parecendo relaxar um pouco, e eu apenas assenti - Que bom. Bom, já vou indo, abusei demais de você.
-Imagina, obrigada pela hora extra, eu jamais conseguiria entender alguma coisa estudando sozinha - Confessei vendo-o dar um sorriso fofo.
-Fico feliz, então. Quando quer que eu volte? Isso é, se depois de hoje você ainda quer que eu volte... - Ele disse a última parte mais para ele do que pra mim, me fazendo quase gargalhar.
-Quero sim. Minha mãe disse que você também está no terceiro colegial, então não quero atrapalhar seus estudos... Pode vir quando estiver livre - Terminei com um sorriso simpático, vendo-o responder com a maior naturalidade do mundo.
-Eu estou livre sempre, na verdade; já fechei minhas notas.
-Ah... Claro... - Eu deveria estar com a maior cara de pastel do mundo. Nem sei por que isso me surpreendeu.
-Que tal dia sim, dia não? Assim eu não te canso tanto - Nós rimos com seu último comentário.
-Parece ótimo.
-Certo, então te vejo depois de amanhã.
-Combinado. Até, Harry.
-Até!

Depois que ele foi embora, eu fui tomar um banho demorado. Decidi que não leria nem mesmo a capa de um livro por hoje, de tão cansada e entediada que estava. Estava estudando pra valer fazia uma semana e já queria desesperadamente entrar em férias. Tantas pessoas nascidas com cérebros brilhantes nesse mundo, por que me privaram de um?
Eu nem percebi quando o sono me venceu enquanto esperava deitada em minha cama pelos meus pais, mas a imagem de um garoto usando óculos pretos percorreu minha mente antes disso. E eu soube que ela iria fazer parte de meus sonhos essa noite, nem que fosse por um brevíssimo momento.

*-* *-*
Desculpa a demora para postar... Problemas familiares! Mas vou postar mais dois hoje, o segundo eu já vou publicar agora!
E por favor, me falem se estão gostando ou não
XXDUDA

Geek - H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora