Capítulo Onze
-Maria Eduarda ? - ouvi a voz de Harry me chamar e o encarei. Foi então que percebi que havia passado tempo demais olhando para a garota parada à porta.
-O quê? - perguntei por impulso. Ele arqueou levemente as sobrancelhas e abriu a boca, mas só conseguiu falar depois de algum tempo olhando de mim para... aquilo.
-Ah... é... Duda é uma amiga... - ele acabou falando por fim, voltando sua atenção repentinamente à menina.
-Eu não entendo, você alegou não possuir amigos.
Deixei meu queixo cair. Harry olhou para o outro lado, ficando corado, e percebi que ele estava sem graça. Umedeci lentamente os lábios com a língua e me vi completamente perdida. Eu não sabia o que pensar, o que fazer, o que falar, e a informação que acabara de receber sobre o repentino status de Harry ainda rodava em minha cabeça como uma piada difícil de ser entendida. De repente me deu vontade de esfolar a cara dela no asfalto e sair correndo. Ou talvez a dele.
-Eu a conheci recentemente. - ele explicou aparentemente de má vontade.
-Naturalmente. Nesse caso, é um prazer conhecê-la, Maria Eduarda . Espero que sejamos grandes amigas. Você também fará parte da turma de xadrez?
Franzi o cenho, levemente atordoada.
-Alice é da minha turma de xadrez. - Harry explicou passando os dedos por trás da orelha.
-Ah, sim... bem, não... não jogo xadrez... mas o prazer é meu, Alice... - sussurrei - E eu já estou de saída.
-É uma pena, exercitar a fala com outro ser humano é um deleite. Espero que nos encontremos em breve. - ela me deu um sorriso simpático e eu fiz um esforço sobrenatural para retribuir.
-Bom, vou deixá-los a sós - olhei rapidamente para Harry, que se mantinha inexpressivo - Obrigada mais uma vez.
E, dizendo isso, andei como um furacão até a porta.
É óbvio que minha intenção era sair dali o mais rápido possível, mas há dias na vida da gente em que alguém lá em cima parece realmente gostar de brincar com a nossa cara. Não coincidentemente, hoje era um deles. Eu levei um pequeno susto ao abrir a porta e dar de cara com uma Aria toda sorridente.
-Maria Eduarda , que surpresa!
-Olá, senhora Styles. E até logo, eu já estou de saída - disse com a voz levemente trêmula. Aria abriu a boca em reprovação.
-Ah, mas então não está mais - franzi o cenho, observando-a entrar com algumas embalagens em mãos - Acabo de voltar da minha aula de culinária, e adivinhem só? Fiz bolinhos! - ela nos olhou com um leve brilho orgulhoso nos olhos que quase me fez sorrir.
-Você fez bolinhos? - Harry perguntou desconfiado.
-Harry, meu amor, sua mãe não é nenhuma chefe, mas sabe cozinhar. - Aria devolveu confiante. - Não tive tempo de experimentá-los, então queria que vocês o fizessem por mim.
-Eu não vou servir de cobaia para ninguém - Harry negou com a cabeça. Aria suspirou.
-Bem, então eu só posso contar com vocês, meninas. O que me diz, Duda? Posso ouvir sua opinião sincera?
Aquilo me deixou em uma posição delicada. Eu poderia muito bem dizer não, mas não sabia como fazê-lo sem parecer rude. Meu cérebro rodava atrás de uma desculpa plausível, mas não encontrava nenhuma. Aria era uma das amigas mais chegadas de mamãe, talvez não ficasse bem recusar seu pedido. E também havia aquele par de olhos brilhantes olhando diretamente para mim... agora eu sabia de quem Harry havia os herdado. Engoli em seco. Merda.
-Claro, senhora Styles, eu acho que tenho alguns minutos.
-Ótimo! Venham, vou preparar a mesa. - Aria fechou a porta e dirigiu a palavra a mim antes de andarmos até a cozinha - E me chame de Aria, querida, me sinto muito velha quando me chamam de senhora. Creio que não estou lá ainda - ela deu uma risada baixa e eu assenti. Não era a primeira vez que ela me dizia isso, mas eu ainda achava estranho chamá-la pelo primeiro nome.
Eu me sentei de frente para Harry e ao lado da... bom, você sabe de quem. O que foi um erro, porque agora eu tinha de me controlar para não olhar para frente. Sabe como é difícil não poder olhar para frente?
-Fiz bolinhos com recheio de morango, chocolate, doce de leite e amora. - Aria sentou-se ao meu lado, de frente para... ela.
-Que culinária avançada - Harry tirou sarro. Soltei um riso leve.
-Adoro guloseimas. Gostaria de provar o de doce de leite, por favor.
-Claro, Aly - a mãe de Harry pegou um dos bolinhos da forminha de papel verde e a entregou. - E você, Duda?
-Eu quero um de amora. - uma forminha cor de rosa me foi entregue. Aria olhou para Harry, que devolveu com deboche, e nos encarou em seguida.
-Caramba, que delícia! - exclamei com a boca cheia, fazendo Aria rir. Algumas mastigadas depois, voltei a falar - Sério, está muito gostoso. Você tem talento.
-Ah, obrigada, meu amor! Não sabe como fico contente com seu elogio, já que não posso ganhar um do meu próprio filho.
-Não se empolgue, ela só está sendo educada. - Harry retrucou.
-Alguém aqui tem que ser, não é? - Aria o olhou atravessado.
-Posso pegar mais um? - Perguntei. A senhora Styles me sorriu de orelha a orelha.
-Pode pegar quantos quiser, fique à vontade.
Agradeci e peguei um de chocolate. Eles não eram grandes.
-Devo concordar, suas habilidades culinárias são realmente magníficas. - disse a coisa.
-Ouviu isso, Harry? - Aria perguntou e ele fez uma careta - Bom, agora que sei que não estou jogando dinheiro fora com essas aulas, eu vou tomar um banho e deitar um pouco. Mande um beijo à sua mãe, Duda.
-Claro, mando sim. - sorri. Aria se levantou e saiu.
Nós ficamos em silêncio por alguns segundos. Eu já estava pegando meu terceiro bolinho sem saber se era porque eles realmente estavam deliciosos ou se eu queria me manter, de certa forma, ocupada. Procurei observar meus dedos brincando com o papel enquanto mastigava.
-Quais são suas ambições, Maria Eduarda ?
A pergunta me pegou de surpresa. Eu virei o rosto automaticamente na direção do dela, vendo seus olhos Castanhos me olharem fixamente por trás dos óculos vermelhos. A massa do bolinho ficou parada em minha boca imóvel durante algum tempo enquanto a dela se movimentava calmamente. Notei sua postura totalmente ereta e quase tive vergonha da minha. Quais são minhas ambições, que merda de pergunta era aquela? Desviei o olhar por um segundo, voltando a mastigar devagar enquanto tentava processar uma resposta. Péssima ideia, Harry também me olhava fixamente. Senti minhas bochechas esquentarem. Respirei fundo e, depois de constatar que não havia mais nenhum dente para limpar com a língua, falei.
-Minhas ambições?
-Exato.
-Bem... eu... eu não sei ao certo... digo, ainda não decidi o que quero cursar, estou um pouco perdida...
-Entendo. É natural não conseguir se decidir por uma carreira na nossa idade, as possibilidades são infinitas e nós ainda somos imaturos para tanta responsabilidade.
-Pois é... também está nessa?
-Não, escolhi meu curso aos sete anos de idade.
Parei de mastigar mais uma vez. Ela continuou comendo seu bolinho com naturalidade. Senti minhas sobrancelhas arquearem-se levemente e um comentário atravessar meus lábios com uma sutil ironia.
-Claro...
-Os pais da Alice são astrofísicos, então ela teve influência. - Harry pareceu querer explicar a fala da garota.
-Poxa, deve ser legal - comentei sem nenhuma empolgação.
-Sempre me interessei pelos corpos celestes. Soube que era o que queria ao ler o trabalho de doutorado do meu pai sobre o efeito da gravidade distorcer o espaço e desviar a luz.
-Mas você não escolheu o curso aos sete anos? - perguntei confusa.
-Sim, foi quando li.
Eu enfiei o resto do bolinho de uma só vez na boca, mastigando com dificuldade. Se Deus quisesse, eu morreria engasgada.
-Com licença, preciso usar o toalete.
Alice se levantou e atravessou a porta no andar mais duro que eu já tinha visto. Evitei olhar para Harry, mas foi impossível.
-Você realmente gostou dos bolinhos, não é?
-Você deveria dar mais crédito à sua mãe - falei, amassando a forminha em meus dedos. Ele esboçou um leve sorriso e pegou um, dando uma mordida.
-É... nada mau... nada mau mesmo...
O silêncio reinou por mais alguns longos segundos, até que eu o quebrei.
-E então, faz tempo que vocês estão... namorando? - perguntei como quem não quer nada.
-Uns três dias.
-Três?
-Talvez quatro.
-Hm... e há quanto tempo se conhecem?
-Há uns cinco meses, mais ou menos.
-Legal... - disse sem emoção. Claramente, Harry já se engraçava para o lado daquela coisa quando eu o conheci. Me senti estúpida. Meus olhos se abriram levemente em seguida. Deus, e se eu o tivesse beijado mais cedo? Meu estômago revirou. De repente eu não era a única a querer usar o toalete. - Harry, eu preciso ir. Agradeça sua mãe por mim, por favor.
-Aqui, leve alguns bolinhos para sua mãe. - ele se levantou, procurando por algum recipiente, provavelmente.
-Não precisa, obrigada. - recusei prontamente, soando mais seca do que deveria. Ele me olhou estranho - Até mais.
E sem esperar resposta corri para fora.
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Geek - H.S
FanfictionEu era uma pessoa normal, uma aluna com boas notas. Ano novo, pessoas novas, e se posso dizer, más companhias, com isso eu fui para o pior lado, minhas notas caíram. Iria reprovar, iria repetir o maldito ano, se não fosse por ele