Capitulo treze - parte || Final

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Capítulo treze - parte dois

O vento fresco bateu em meu rosto assim que abri a porta do banheiro. Andei na ponta dos pés pelo quarto à procura dos meus chinelos, livrando-me do frio sob eles quando os calcei. Eu vestia um roupão branco e tinha os cabelos enrolados em uma toalha, e não fazia ideia pelo o quê os substituir. Abri o guarda roupas e dei uma olhada. Todas as peças me pareceram velhas e sem graça demais, mas eram as únicas coisas que eu tinha. Então comecei a montar alguns looks em minha mente.
Jeans escuro, blusa branca, sapatilha vermelha... Não.
Jeans escuro, frente única vermelha, sapatilha preta... Não.
Short branco, regata azul, sandália bege... Não.
Calça não, regata não, top não, cinza não, amarelo não, oh, céus, saia também não... Nada do que eu tinha ali dentro era suficientemente bom para um encontro com Harry Styles.
Comecei a andar de um lado para o outro, ficando a cada passo mais nervosa. Tudo nessa noite teria de ser perfeito, mas quanto mais eu pensava, mais as coisas me pareciam ser um desastre. Eu não tinha roupa, não tinha sapato, não tinha bolsa, não tinha créditos, meu perfume favorito havia acabado, meu presente de Natal foi um tênis, nascera uma espinha na minha bochecha e eu não sabia fazer maquiagem. Tudo estava ruindo. Sem opções, comecei a revirar o guarda roupa outra vez. E estava quase desistindo quando meus olhos focaram, bem lá no fundo, coberta por uma jaqueta velha, a minha salvação. Puxei-o com cuidado, sentindo o tecido fino deslizar suavemente pelo cabide. Ele estava limpo, mas um pouco amarrotado, então tirei o vaporizador de roupa que minha mãe havia me dado e o liguei. Passei as alças por um cabide e o coloquei no suporte, e esperei até que o vapor começasse a sair. Cinco minutos depois, o vestido branco que havia usado apenas uma vez na vida estava pronto.
Vesti-o com um sorriso quase besta no rosto. Vestidos não eram minha praia, mas esse tinha caído como uma luva essa noite. Pensei em colocar um scarpin, mas Harry e eu éramos praticamente do mesmo tamanho, então optei por uma sapatilha vermelha. Para completar, uma jaqueta na mesma cor. De volta ao banheiro, fiz uma maquiagem básica - o único tipo que eu sabia -, prendi os cabelos em um coque, deixando apenas alguns fios da franja soltos e espirrei meu segundo perfume favorito. Abri a gaveta do armário e tirei dela o embrulho bem feito em papel azul, colocando-o na bolsa. Finalmente, eu estava pronta.
Desci a escada com um incômodo no estômago. Meu coração batia um pouco mais forte e eu poderia jurar que minhas pernas tremiam de leve. O sorriso quase sapeca no rosto de minha mãe só fez tudo isso piorar. Eu sentei na poltrona, deixando os minutos passarem em silêncio, e ela fez o mesmo, o que me causou certo alívio. E quando meu pai chegou à sala, cerca de dez minutos depois, a campainha tocou.
- Boa noite, Senhor Styles. - Ouvi a voz de Harry, o que me fez levantar em um pulo. Meu pai tinha uma pose durona, mas eu sabia que era pura fachada. Coisas de pais.
- Boa noite, Harry. Por favor, entre.
- Com licença - ele disse com aquela cordialidade que só ele tinha e deu alguns passos à frente. Minhas mãos tremiam tanto que tive de segurá-las.
- Olá, Senhora Styles, como vai?
- Bem, querido, obrigada. Você está muito elegante essa noite - minha mãe disse com um sorriso, analisando-o dos pés à cabeça. Foi quando meus olhos se desgrudaram do rosto rosado dele para passear pelo corpo. Harry vestia uma camisa social branca coberta por um colete preto, gravata cinza escuro, jeans preto e seu velho e usual All Star. Senti meus lábios se entreabrirem, e por um momento minha respiração sumiu. Ele estava deslumbrante.
E então minha mente decidiu realmente reparar no enorme buquê de rosas que ele tinha nas mãos.
- Olá, Maria Eduarda . - Ele disse baixinho, o sorriso torto no canto dos lábios.
- Oi, Harry...
Ele se aproximou e eu pude sentir o cheiro almiscarado de seu perfume.
- Isso é para você. - Harry estendeu as mãos, me entregando o buquê. Me senti tonta por um momento e, mesmo não sentindo, sabia que mantinha um sorriso extremamente idiota no meu rosto idiota.
Meus dedos relaram levemente nos dele quando o peguei.
- Uau, são lindas... Obrigada.
Harry me sorriu timidamente, empurrando os óculos. Cheirei o buquê antes de entregá-lo à minha mãe, que parecia que iria chorar a qualquer momento.
- Vou colocá-lo em um vaso.
- Obrigada, mãe. Bom, vamos?
- Claro. - ele respondeu prontamente. Despedi-me dos meus pais e, segundos depois, nós estávamos no carro.
Não demorou até que chegássemos a um condomínio fechado. Harry estacionou na garagem de uma casa pequena, mas toda bonitinha, o que me deixou completamente confusa.
- Hã... onde nós estamos? - perguntei com um ponto de interrogação na testa enquanto ele tirava a chave da ignição. Harry deu um sorriso divertido.
- Na casa dos meus avós. Herança. Eles faleceram há alguns anos. - E é claro que aquilo também não foi muito esclarecedor, motivo pelo qual eu o fiquei encarando. - Eu tenho uma surpresa para você.
Aquilo, por outro lado, esclareceu alguma coisa. Harry saiu do carro e deu a volta para abrir a porta para mim, então nós entramos na pequena, porém aconchegante sala de estar toda decorada com móveis antigos.
- Uau, que gracinha - eu disse olhando ao redor. Ouvi Harry fechar a porta.
- Bonito, não? Tenho boas lembranças daqui... - ele disse em meio a uma nostalgia. - Mas não é essa a parte da casa que eu quero que você veja agora.
Harry deu um sorriso torto, meio fofo, meio sapeca e entrelaçou levemente os dedos nos meus. Um calor se espalhou imediatamente pelo meu corpo, concentrando-se em minhas bochechas. Agradeci mentalmente a meia luz. Minha mão começou a suar enquanto nós atravessávamos a sala de jantar, mas eu fiz um esforço para mantê-la relaxada e não deixar meu nervosismo transparecer. E aí nós chegamos ao pequeno quintal e meu coração entorpeceu.
No centro da grama curta e fofa havia uma mesa redonda coberta por uma toalha branca. Em cima dela, um arranjo pequeno de flores, um balde, dois pratos e duas taças. Ao redor, duas cadeiras. Acima, um céu escuro enfeitado por estrelas. Harry soltou gentilmente minha mão e caminhou até o gramado enquanto eu ainda observava, incrédula, a mesa de jantar. Ele puxou uma das cadeiras, me convidando a sentar com o olhar. Meus lábios curvaram-se em um sorriso bobo e extremamente feliz e andei, meio se jeito, até a cadeira. Só então notei que a garrafa dentro do balde era de vinho branco.
- Espero que goste. - Ele falou depois de se sentar, notando meu olhar. Mordi o lábio, assentindo levemente.
- Eu gosto... eu gosto muito. - As palavras saíram baixas de minha boca, entonadas para referirem-se não apenas ao vinho. Harry entendeu isso e sorriu.
Depois de arrumar os óculos, ele tirou a garrafa do balde e encheu minha taça até a metade, fazendo o mesmo com a dele. Aquilo era muita coisa para mim, mas e daí? Dizem que álcool ajuda a relaxar, e eu precisava mesmo disso. Dei o primeiro gole, que desceu quase queimando - mas o líquido era docinho, então nem me importei.
- Você está linda - Harry disse timidamente, brincando com os dedos de maneira nervosa. Ao contrário do esperado, meu rosto não ardeu, e eu apenas sorri olhando para aquele lindo par de olhos Verdes. Talvez o álcool já estivesse fazendo efeito.
- Você também. O colete lhe caiu muito bem.
- Verdade? Porque estou me sentindo um pinguim. - disse ele com humor, me fazendo rir.
- Bem, eu adoro pinguins.
Harry sorriu novamente, coçando atrás da orelha.
- Hm, então, você está com fome?
- Estou sim.
Ele levantou o indicador pedindo para que eu esperasse por um minuto e se levantou, entrando na casa. Eu bebi mais um pouco do vinho enquanto esperava, o adorando profundamente por estar fazendo aquilo. Não demorou até que Harry voltasse com uma travessa de prata nas mãos.
- Ravioli de camarão com molho branco. Espero que goste.
Senti a testa franzir.
- Você fez isso? - perguntei com espanto. Harry riu e assentiu.
- Eu sei cozinhar, esqueceu?
Ele me serviu um dos rolinhos e o cheiro encheu minha boca de água.
- O cheiro está ótimo, Hazza. Eu adoro camarão.
- Bom, tomara que o gosto esteja tão bom quanto. É a primeira vez que eu faço isso.
Harry se serviu e então eu peguei os talheres. Cortei cuidadosamente um pedaço do rolinho e o ajeitei no garfo, soprando antes de levá-lo à boca. Aquele menino tinha, com certeza, um talento nato para... Oh, meu Deus!
Meus olhos se arregalaram quando um calor forte se espalhou pela minha boca com a velocidade de um incêndio. Minha língua queimava e eu praticamente já não sentia o sabor de mais nada a não ser o da pimenta, que corroía cada minúscula célula das minhas bochechas enquanto meus olhos lacrimejavam. Eu não podia cuspir, então, num ato de bravura, engoli, sentindo a pimenta castigar o meu esôfago. Harry e eu começamos a tossir quase que em sincronia.
- Puta merda... - ele xingou, bebendo o vinho com urgência como se fosse água.
- Uh, caramba... - soltei após terminar a taça em um só gole, sentindo o vinho aliviar e arder ao mesmo tempo. Era difícil manter a boca fechada, então eu respirava por ela enquanto a abanava como se isso fosse adiantar.
- Duda, meu Deus, me desculpa, eu... - Harry tinha alguma coisa a dizer, mas a boca dele também estava pegando fogo, então ele se interrompeu para encher a taça e virá-la novamente. Eu fiz o mesmo. O líquido desceu melhor dessa vez, mas senti que meus músculos ficavam relaxados demais. Uma sensação de formigamento se espalhou por eles e de repente tudo em mim ficou mole e quente. Senhor, como estava quente.
- Acho que eu estou suando - disse devagar em meio a uma tontura. Olhei para Harry e vi que ele piscava forte como se os óculos não o ajudassem mais a enxergar enquanto enchia a boca com o gelo do balde como se sua vida dependesse disso. Um barulho esquisito escapou da minha garganta e apenas no segundo seguinte eu percebi que estava gargalhando.
- O quê? - ele perguntou com a boca cheia de gelo. Eu fiquei tonta.
- Ai, droga, eu estou tonta... - levei uma das mãos à testa com o cotovelo apoiado à mesa. Apesar disso, do calor e da sensação de não ter mais as pernas, eu ainda ria.
- Aqui, toma, pega gelo - Harry enfio a mão no balde e tirou uma pedra, esticando-a para mim. Tirei a minha da testa para pegá-la, mas então ele ergueu o corpo da cadeira e bateu com o gelo no meu nariz antes de se desequilibrar e cair sentado novamente. Aquilo só serviu para que eu risse mais ainda, embora não estivéssemos bêbados.
- Você gelou meu nariz!
- Eu não sinto minhas pernas...
- Minha boca tá ardendo...
- Aqui, pega gelo!
Harry enfiou a mão no balde de novo e repetiu o feito, mas dessa vez conseguiu colocá-lo em minha boca. Aí, sim, o alívio foi verdadeiro.
Nós ficamos em silêncio até que todas aquelas sensações passassem. Eu não estava acostumada a beber e duas taças de vinho foram demais para mim, ainda mais viradas em seguida.
- Você está bem? - Harry perguntou com um ar de preocupação.
- Não sei, meu estômago ficou um pouco esquisito... Ainda não sinto meus músculos.
- Espere aqui, eu vou pegar alguma coisa doce para você.
Ele se levantou e andou apressado até a cozinha. Ri quando vi que ele andava meio desnorteado, Harry deveria beber tanto quanto eu. A lembrança da pimenta estava me deixando levemente enjoada, então afastei o prato e encostei na cadeira, e fiquei sentindo o vento no rosto até que ele voltasse.
- Aqui, coma um pouco de chocolate. - ele me deu uma barra fechada, que abocanhei rapidamente. - Nossa, Duda, por favor, me desculpa por isso. Eu acho que confundi os temperos, não era para colocar pimenta, com certeza eu...
- Harry - o interrompi. - Está tudo bem, não precisa se desesperar.
- Como não? - ele indagou com as sobrancelhas erguidas, o desapontamento consigo estampado no rosto - Eu queria fazer o melhor para você e olha só o que eu fiz...
- Você fez aquilo que nenhum outro garoto nunca fez. - disse olhando diretamente nos olhos dele. - E não me refiro apenas a essa noite.
Harry entreabriu os lábios lentamente e franziu o cenho em incerteza.
- Como assim?
Eu coloquei a barra de chocolate sobre a mesa e lambi os dedos antes de falar. Eles não estavam sujos, mas me deram um tempo para colocar as palavras em ordem em minha cabeça.
- Antes de você, eu não era ninguém. Eu passava os dias jogando fora a oportunidade de ser mais e melhor. Nunca levei os estudos a sério e isso quase me custou um ano inteirinho... - o final da minha frase saiu em um sussurro quase inaudível e eu já não olhava Harry nos olhos, porque, pela primeira vez, eu estava confessando a minha vergonha. - Meus pais não pediram sua ajuda porque eu estava com dificuldade em exatas, e sim porque eu estava prestes a repetir o ano. Eu era uma completa inútil, Harry - meus dedos brincavam desconsertadamente com a ponta do plástico da embalagem do chocolate, e eu não sabia se era apenas vergonha ou uma mistura dela com o álcool que eu ainda tinha no sangue que estava fazendo meu rosto queimar. Mesmo assim eu o olhei, e ele me encarava com surpresa e concentração. - E aí veio você. Quando te vi, pensei "Meu Deus, ele é um nerd". E então você abriu a boca e eu pensei "Meu Deus, ele é um nerd". Você era demais para ser verdade. Digo, seu cérebro consegue armazenar tanta coisa com tanta facilidade que, quando você estava lá em casa, eu pensava "Como ele faz isso? Como ele consegue saber tanto de tudo?" E foi aí que eu percebi que queria ser como você. Às vezes eu me pegava me imaginando como uma versão feminina sua, com esses óculos pretos e os cabelos perfeitamente arrumados em um rabo de cavalo... Soa patético, eu sei, mas eu queria mais do que qualquer outra coisa ser como você.
Eu conseguia ver, conforme falava, o brilho nos olhos dele crescer em uma velocidade acelerada. A única forma de expressão no rosto dele era o pequeno sorriso torto no canto da boca, o que me fazia acreditar que ele estava gostando daquilo. Ele estava gostando de me conhecer, pela primeira vez, por inteiro. E eu continuei.
- Eu gostava de você e queria que você também gostasse de mim, mas eu percebi que para que isso acontecesse eu precisaria, primeiramente, gostar de mim... E eu não gostava. Eu me odiava, Harry, e tive medo de que se você me enxergasse como eu realmente era, então acharia que eu seria muito pouco para você. Foi quando eu decidi que faria em meses o que eu deveria ter feito em anos só pra poder ficar o mais próximo do mesmo nível em que você estava e, assim, ter uma chance com você. Só que eu já estava apaixonada, então te troquei pelo Ryan. Porque eu queria te impressionar, mas você tirava minha concentração com muita facilidade...
Eu mordi o lábio com certa força assim que terminei de falar, mas, por mais envergonhada que estivesse, meus olhos continuaram olhando nos dele por todo o silêncio que se seguiu para que Harry pudesse digerir minhas palavras. Talvez ainda fosse efeito do vinho, mas eu nunca havia me sentido tão leve.
Ele não mudou a expressão para falar, apenas seus lábios se moveram quase imperceptivelmente.
- Você já estava no mesmo nível que eu, Duda, mas ainda não sabia. Por mais que eu me sinta verdadeiramente honrado em receber todo o crédito, ele nunca foi meu. Se você é uma pessoa melhor hoje é porque você fez com que isso acontecesse, não eu. Sinceramente? O único crédito que eu me dou nessa história é o de ter feito uma garota tão incrível se apaixonar por mim. E eu não faço ideia de como fiz isso. - Harry deu um sorriso aberto pela primeira vez em vários minutos e eu soltei uma risada baixa enquanto sentia um tipo de felicidade que nunca tinha sentido antes pular dentro de mim. Ele se levantou em um movimento repentino e andou firme até mim, estendendo a mão. - Dança comigo?
Eu franzi o cenho.
- Não tem música.
Ele deu de ombros.
- E daí?
Eu hesitei, olhando dele para a mão dele algumas vezes até finalmente ceder. Só tínhamos nós dois naquela varanda, de qualquer maneira. Harry segurou gentilmente minha mão e me conduziu até uma parte do gramado afastada da mesa. Ficou de frente para mim e colocou a mão livre em minha cintura, enquanto eu pousava a minha em seu peito. Aquilo fez com que nos aproximássemos naturalmente. Devagar, ele guiou meu corpo no ritmo do dele, e começamos a dançar sob as estrelas.
- Como está sua boca? - ele perguntou baixinho, a bochecha quase encostada à minha.
- Se recuperando - disse no mesmo tom. Ele riu.
- Ainda não acredito que fiz isso...
- Se serve de consolo, eu estava gostando muito antes da minha língua pegar fogo. - Harry riu mais uma vez e aquele som leve e rouco arrepiou a pele do meu pescoço. Então, ele colocou minha mão do outro lado de seu peito e deslizou a ponta dos dedos pelo meu braço até colocá-la em minha cintura, segurando-a, assim, com ambas as mãos. O arrepio que agora percorreu meu corpo fez com que meus olhos se fechassem automaticamente. Uma ideia percorreu minha mente. Ah, sim, uma ideia... Estava mais do que na hora de deixar Harry Styles excitado.
Com a ponta dos dedos tocando o tecido de seu colete, eu subi uma das mãos até o colarinho da camisa dele. Devagar, sem nenhuma pressa, deixei que eles tocassem a pele descoberta de seu pescoço, quase que timidamente no começo. Um suspiro audível escapou das narinas dele. Eu então continuei a subir os dedos, agora o acariciando, até que eles encontrassem as pontas dos cabelos dele na nuca. Aquilo fez com que Harry apertasse de leve as mãos na minha cintura. Sorri com um misto de diversão e satisfação e virei o rosto, deixando minha boca próxima ao ouvido dele. E então o levei à loucura.
- Dizem que a noção de gravitação surgiu para Newton a partir de sua observação da queda de uma maçã, enquanto ele se encontrava sentado em estado contemplativo. - eu sussurrei. Harry parou de se mexer na mesma hora. - As bases para isso foram as leis do movimento planetário de Kepler e as experiências de Galileu Galilei, que mostraram que um corpo em queda acelera a uma taxa uniforme e que um projétil descreve uma trajetória parabólica. Ao unir essas informações com o fenômeno que fazia a maçã cair no chão, ele percebeu que a mesma força que fazia isso também mantinha a Lua em órbita da Terra e os planetas em órbita do Sol. Nesse ínterim, ele aprimorou seus estudos e desenvolveu suas três famosas leis do movimento: a primeira, conhecida como teoria da inércia, diz que um corpo permanece em repouso ou em movimento uniforme ao longo de uma linha reta, a menos que sofra ação de uma força externa; a segunda lei do movimento afirma que o efeito de uma força contínua sobre um corpo inicialmente em repouso ou em movimento uniforme é fazê-lo acelerar. A terceira... - eu parei. Podia sentir a falta da respiração quente dele em meu rosto e seu corpo em um estado quase que irreversível de paralisia. Lentamente eu afastei meu rosto do dele, mas apenas o suficiente para conseguir olhá-lo. Harry não estava muito diferente do que eu tinha imaginado: olhos arregalados e lábios entreabertos, me encarando como se eu tivesse voltado dos mortos. - Sabe de uma coisa? - perguntei em tom de dúvida. - Você nunca me disse qual era a terceira.
Eu esperei pacientemente até que ele absorvesse minha repentina genialidade adquirida pelo Google, me observando com olhos atentos e desejosos. Ele estava me desejando. Meu Deus, Harry Styles estava, sem sombra de dúvidas, me desejando.
- A terceira lei mostra que se um corpo exerce uma força sobre o outro o segundo exercerá ao mesmo tempo força oposta e da mesma intensidade sobre o primeiro. - As palavras saíram da boca dele cheias de velocidade, sem espaço para pausas, vírgulas ou ponto finais. Meus olhos permaneceram grudados aos dele.
- O que isso quer dizer?
Um sorriso malicioso cruzou rapidamente os lábios dele.
- Isso. - E antes que eu pudesse assimilar qualquer coisa, a boca dele estava na minha.
Sentir os lábios de Harry nos meus foi o ponto alto do meu dia. Ele me beijava com vontade e intensidade, mas também com delicadeza e ternura. Sua língua às vezes acariciava a minha, e ele parecia fazer questão em diminuir a velocidade nesses momentos talvez para sentir o meu gosto tão bem quanto eu sentia o dele. E ele tinha gosto de felicidade. E a terceira lei não poderia estar mais certa: quanto mais ele forçava a boca na minha, mais eu forçava a minha na dele. Eu nunca tinha gostado tanto de física em toda a minha vida.
Permaneci com os olhos fechados por uns bons longos segundos depois que Harry quebrou, lentamente, o beijo. A sensação de ter os lábios dele nos meus ainda me consumia e eu sentia como se fosse flutuar a qualquer momento. Ele tinha me beijado. Nós tínhamos, finalmente, nos beijado, e nenhum cenário em minha mente nunca fora tão perfeito quanto esse. Um sorriso bobo e deslumbrado surgiu em meu rosto assim que abri os olhos e vi os dele tão de perto, mais Verdes do que nunca aquela noite. Ele era lindo... Meu Deus, como ele era lindo. Mas então eu percebi que havia alguma coisa errada. O rosto dele estava congelado, nenhuma expressão, nenhum movimento. Meu cenho se franziu. Será que... Oh, céus, será que ele não tinha gostado? Será que eu tinha feito tudo errado? E novamente antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, Harry respirou fundo e se afastou de mim com urgência. Eu fiquei confusa, mas então vi que suas mãos vasculhavam desesperadamente o interior do bolso direito de seu jeans. Seus olhos estavam bem abertos e ele parecia ter a cada segundo mais dificuldade em respirar. Quando meus pés finalmente conseguiram se mexer, ele finalmente conseguiu achar o que procurava. Um inalador. Apressadamente, Harry o chacoalhou no ar e o levou à boca, inspirando o conteúdo como se sua vida dependesse daquilo. O que, na verdade, era verdade.
- Harry, você está bem? - perguntei com preocupação, me aproximando e colocando uma das mãos em seu ombro. Ele limitou-se a afirmar com a cabeça, o tronco ligeiramente curvado, a respiração pesada. Eu o levei até uma poltrona dupla encostada à parede na parte coberta do quintal e o sentei. Não sabia exatamente o que fazer, então corri até a cozinha e peguei um copo de água. Harry estava bem quando voltei, a respiração já quase normalizada, mas bebeu a água num só gole.
- Obrigado - ele disse. Sentei-me ao lado dele.
- Está se sentindo bem?
- Sim, estou sim, eu só... - ele parou, acanhado, e ajeitou os óculos por um tempo maior do que o suficiente antes de continuar. - Eu só fiquei muito excitado.
O sorriso que eu abri foi maior do que meu rosto.
- É... eu também.
Harry entrelaçou os dedos nos meus com delicadeza.
- Você não faz ideia de quantas vezes eu imaginei isso. Mas sem a parte em que eu quase morro.
Aquilo me fez rir.
- Se for tanto quanto eu imaginei, então, sim, eu faço sim...
Harry sorriu, deslizando os dedos da mão livre em meu rosto. Eu arrepiei.
- Você foi meu melhor presente de Natal, Duda. - Eu ergui as sobrancelhas ao escutar aquilo. - O que foi?
- Nada, é só que... eu tenho um presente para você.
Harry franziu a testa e sorriu de lado, então eu me levantei e peguei minha bolsa, pendurada na cadeira. O embrulho não era muito grande e os olhos dele se iluminaram ao vê-lo.
- Duda, você não precisava... - ele disse ao pegá-lo.
- Eu sei, mas quis. Abra.
Ele começou a desembrulhar com cuidado, não querendo rasgar o papel. Era meticuloso demais para isso. Eu não havia comprado nenhum presente digno de um tratamento eterno de rainha, mas a expressão no rosto dele ao ver o avião simples feito em madeira me deu certeza de que ele tinha gostado.
- Uau, eu não acredito...
- Não é nada de mais, mas eu sei que você gosta.
- Nada de mais? - ele me encarou como se eu tivesse dito a maior das besteiras. - Duda, é perfeito. Eu amei.
- Fico contente.
- Mas eu... eu não tenho nada para você... - ele disse com olhos tristes e a voz baixa. Eu dei um sorriso leve, rindo baixinho.
- Você me deu a melhor noite da minha vida, Harry. Esse aviãozinho perto disso é absolutamente ridículo.
Harry colocou o olhar no meu de um jeito que ele nunca havia feito antes e aquilo me fez estremecer. - Tem uma coisa que você não sabe sobre as leis da física - ele disse com seriedade. - Sabe, a Lei da Gravidade não é a responsável pelo fato de uma pessoa cair de amores pela outra.
Naquele momento, eu perdi o rumo, e tudo o que fiz foi aproximar o rosto para beijá-lo.
- Espere - disse ele pouco antes de ter os lábios selados pelos meus. Então, com mais calma dessa vez, ele tornou a agitar sua bombinha, inalando-a em seguida. - Vai.
Rindo, eu o beijei.

Fim.

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