Capitulo 8

1K 40 2
                                    

A altura média do tronco de certa espécie de árvore, que se destina à produção de madeira, evolui, desde que é plantada, segundo o seguinte modelo matemático:
h(t) = 1,5 + log3(t + 1),
com h(t) em metros e t em anos. Se uma dessas árvores foi cortada quando seu tronco atingiu 3,5 m de altura, o tempo (em anos) transcorrido do momento da plantação até o do corte foi de:

Ok, não sei. Quer dizer, eu sei. Eu sei, eu sei, eu sei, eu sei, eu sei.
Merda, não sei.
Faltavam dez minutos para eu entregar essa maldita prova e seria um milagre se eu tivesse conseguido resolver dois exercícios. Harry e eu havíamos feito dezenas iguais a esse e esse era exatamente o problema. Harry tinha me ensinado. Harry tinha-os feito. Harry. Não conseguia prestar atenção em absolutamente nada quando ele estava por perto porque o movimento dos seus lábios era mais interessante do que o que eles pronunciavam, o som de sua voz era mais envolvente do que o que ela dizia, o brilho e a cor de seus olhos eram mais fascinantes do que demonstravam, e seu sorriso... Nada no mundo era capaz de tirar meu fôlego como aquele sorriso. E mesmo longe, ele continuava perto de mim. Dentro de mim, o que era pior. E eu estava aqui, sentada em uma carteira com uma prova de matemática à minha frente cujo resultado eu já sabia antes mesmo de entregá-la. Essa não era a primeira na qual eu me ferrava por não conseguir tirá-lo da cabeça. Se antes eu me sentia desesperada por conta das palavras de meus pais, agora então eu nem sabia mais que nome dar.
-Passem as provas para frente, pessoal. - A voz grossa do Sr. Martins ecoou pela sala, me dando um leve susto. Respirei fundo e fiz o que ele pediu sem me importar com o espaço totalmente em branco do último exercício. O sinal do nosso intervalo de dez minutos tocou e eu me levantei, caminhando até o banheiro.
-E aí, como foi? - Lisa perguntou ao meu lado assim que terminei de lavar o rosto.
-Uma catástrofe. E você?
-Sinceramente, não sei. Acho que não fui tão mal assim.
-Bom pra você - Disse sem humor, fazendo-a arquear as sobrancelhas.
-Pensei que as aulas estivessem te ajudando.
-Estão - Sentei-me à pia, vendo-a fazer a maior cara de confusão - Digo, até pouco tempo estavam. Agora, parece que não... - Fitei o chão. Senti-a sentar-se ao meu lado.
-Tem alguma coisa errada com você - Olhei para ela, que me encarava com o cenho franzido em preocupação - E não é de hoje, faz dias que você está assim. O que está acontecendo?
-Não é nada, só est -
-Maria Eduarda - Lisa me cortou com seriedade na voz, o que me fez morder o lábio. Eu não sabia por que ainda tentava esconder algo dela, ela me conhecia melhor do que eu. Enchi os pulmões de ar para começar a falar, mas duas garotas entraram. Lisa segurou uma de minhas mãos e me puxou, me guiando de volta à sala, que não tinha quase ninguém. Sentamos em nossas carteiras e eu resolvi ser direta.
-Eu estou apaixonada. - Lisa arregalou os olhos e abriu a boca, permanecendo assim por alguns segundos. Um choque percorreu meu corpo muito rapidamente e uma sensação estranha me tomou. Era a primeira vez que eu dizia aquilo em voz alta.
-Você o quê? - Ela indagou bem baixo.
-Eu nunca senti o que eu to sentindo antes, Lisa, e eu to desesperada.
-Meu Deus, Duda, como assim? Apaixonada por quem? - Ela me fitou com aflição. Eu suspirei, mordendo meu lábio novamente enquanto desviava o olhar por um segundo. Arqueei levemente as sobrancelhas na esperança de que ela me entendesse. Não sabia o motivo, mas alguma coisa dentro de mim não queria que eu pronunciasse o nome dele em voz alta - Pelo Harry? - Ela perguntou depois de algum tempo me analisando. Eu simplesmente assenti, sentindo um aperto no peito ao ouvir o nome dele - Como?
-Eu não sei, só aconteceu. Ele é tão diferente dos garotos que eu já conheci, Lisa, tão diferente...
-Ele sabe?
-Não! - Exclamei de imediato - Claro que não. - Nós ficamos em silêncio por um instante.
-Como você pretende lidar com isso?
-Não sei. Tá muito difícil, eu não consigo me concentrar, não consigo pensar, não consigo comer, e quando ele tá perto eu não consigo nem respirar direito. Que porcaria toda é essa, Lisa, que porra é essa? - Eu aumentei um pouco meu tom de voz, ficando nervosa. Lisa afastou uma mecha do meu cabelo, me olhando com uma mistura de tristeza e carinho.
-Isso é um problema, Duda.
-O que eu fiz com a minha vida? Me fala, por que eu fui fazer aquelas coisas todas? Por que eu me desviei assim, por que eu deixei aquele desgraçado entrar na minha vida? - Eu senti uma raiva crescer abruptamente dentro de mim ao me lembrar de Chad e de repente eu estava me descontrolando - Nada disso estaria acontecendo! Eu não estaria quase reprovando e não teria conhecido esse menino! Por que eu fui conhecer esse menino, por quê? O que ele tem, Lisa, o quê? - Meus olhos marejaram e algumas lágrimas escorreram em meu rosto, o que fez Lisa me olhar um pouco assustada.
-Calma, Duda, fica calma. Vem cá - Ela me abraçou - Vamos aproveitar que a próxima aula é de inglês e matá-la lá embaixo. Você precisa desabafar.
Eu olhei para ela e assenti. Faltavam apenas alguns minutos para o sinal bater e nós saímos com pressa, procurando um lugar seguro para nos esconder.
Que tipo de surto foi esse?

Geek - H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora