Eu sempre mantive uma vida escolar normal, ou seja, sempre fui uma aluna normal. Estudava quando faltava uma semana para a prova, tinha certa amizade com os professores e minhas notas eram suficientes para que eu passasse de ano - às vezes com a ajuda de uma colinha esperta. Não era popular, mas tinha bastantes amigos, e vez ou outra um namoradinho, mas nada realmente sério, e meus pais sempre diziam como eu deveria dar mais atenção aos estudos e todas essas coisas e como gostariam que eu entrasse em uma universidade pública, o que gerava grande pressão em mim. Ou seja, eu era uma adolescente normal vivendo uma vida normal. Mas as coisas mudaram quando eu entrei no último ano do ensino médio. Ano novo, alunos novos, e boa parte deles não era exatamente o que se poderia chamar de boas companhias. Uma delas era Emma, típica garota rebelde cujo único objetivo na vida era eliminar tudo o que a fizesse infeliz, e a escola era uma dessas coisas. Ela frequentava as aulas, mas quando não estava tirando sarro ou batendo boca com alguém, estava dormindo. Suas notas eram inexistentes, assim como sua estrutura familiar. E eu... Bom, um belo dia ela puxou papo comigo e nós começamos a sentar juntas. Foi quando eu entrei na dela e me deixei influenciar, já que eu também nunca senti nenhum prazer em pegar nos livros. Emma tinha personalidade forte e nenhum medo, tudo o que queria fazer ela simplesmente ia e fazia. Eu admirava isso nela. O impossível, em seu ponto de vista, sempre fora mera questão de opinião. Eu passei a frequentar os mesmos lugares que ela e a deixar os estudos em segundo plano. O auge da minha irresponsabilidade veio um mês depois, quando ela me apresentou Chad, um garoto com os mesmos objetivos de vida dela. Nós nos envolvemos e, bem, eu me afundei. E só fui perceber o quão fodida eu estava quando Emma foi pega fumando maconha dentro da escola e, consequentemente, expulsa, me deixando com nada mais, nada menos que vários boletins vermelhos, uma imagem borrada e um pai e uma mãe - que não sabiam da missa o terço - inconformados com minha ruína.
Eu sabia que levaria o maior esporro da face da Terra assim que me sentasse àquela cadeira, mas não tinha como fugir, como adiar e muito menos como desfazer a cagada. Então, eu simplesmente me sentei e esperei pacientemente, de cabeça baixa, a voz de meu pai ecoar pela cozinha.
-Eu não sei mais o que fazer com você, Maria Eduarda - Mantive os olhos fixos em minhas mãos em cima da mesa de vidro enquanto ele começava, com uma voz decepcionada, um sermão infinito - Sinceramente, eu não sei... Tudo o que eu podia fazer por você eu fiz, tudo o que você quis eu dei, e você sabe com que sacrifício. Deus, quantas vezes nós já nos sentamos aqui para discutir esse mesmo assunto? Quantas, Maria Eduarda ? Quantas vezes eu te falei sobre a dificuldade de se arrumar um emprego sem um diploma universitário? Aliás, dificuldade não, da quase impossibilidade? O que você pensa da vida? - O tom dele sofreu uma leve alteração nas últimas frases, o que me fez comprimir os lábios.
-Você acha isso bonito, menina? - Minha mãe finalmente se pronunciou agressiva, pegando sem delicadeza o boletim que eu mostrara minutos antes - Isso é uma vergonha, Maria Eduarda , uma vergonha! É com isso que você quer passar de ano?
-Pensa um pouco, minha filha! - Meu pai interrompeu - Você é uma menina inteligente, eu não preciso te dizer o tipo de emprego que você arrumaria com essas notas. Olha para mim, Maria Eduarda - Só então pude ver a expressão cansada e os olhos fundos dele. Aquilo me fez sentir um aperto no peito, eu sempre estive mais do que consciente sobre as dificuldades que meu pai passava para me estudar, me proporcionar uma vida melhor do que a dele, mas, cara, como eu detestava um livro - Sabe, Duda, eu sempre quis o melhor para você... Tanto eu quanto sua mãe, e você sabe muito bem disso. Eu sonho com que você tenha uma vida boa, onde possa comprar as coisas que gosta, viajar para os lugares que quer, enfim, meu sonho é te ver feliz... E olhando isso aqui - Ele tirou o boletim das mãos de minha mãe e colocou na minha frente, apontando para as várias notas vermelhas - Eu sei que não é isso o que você vai ter, porque, sejamos francos, dinheiro compra boa parte da nossa felicidade, sim. É muito bom ter com o que pagar as contas no final do mês, muito bom ter com o que sustentar uma família, comer em um bom restaurante, desfrutar da vida...
-Essas notas são ridículas, Maria Eduarda - Minha mãe o cortou ainda agressiva - Não foi para isso que eu e seu pai te colocamos na melhor escola dessa cidade, não foi! Escola a qual não foi nada fácil pagar, mas nós nos sacrificamos demais para poder mantê-la lá. Você não era assim, não era... Isso para mim é uma decepção - Ela balançou a cabeça negativamente com uma expressão fechada. Eu apenas ouvia e observava, evitando qualquer tipo de comentário.
-Eu vou te falar apenas uma coisa - Meu pai retomou a discussão - Cansei de me desdobrar como fiz até hoje para te formar. Cansei de trabalhar por nada, cansei de bancar o otário e, principalmente, cansei muito de ter essa mesma conversa com você. Não faz muito tempo que nós a tivemos, está lembrada? Eu acho que não. Então, eu vou ser muito sincero contigo porque eu e sua mãe sacrificamos demais por você para ganharmos isso como resposta. - Ele fez uma pausa que me fez engolir em seco. Ele nunca tinha usado essas palavras comigo - Você tem dois meses até o ano letivo terminar, ou seja, sessenta dias para tentar não repetir o terceiro ano. Se você repetir, Maria Eduarda , você vai para uma escola pública - Eu senti meus olhos abrirem-se levemente enquanto minha respiração diminuía - E não conte comigo para mais nada, está me ouvindo? Se quiser fazer faculdade, vai arrumar um empregozinho qualquer para poder pagar, e aí você vai viver uma vida medíocre. Estou exausto de fazer tudo por você e não receber nem um quatro em matemática. - Eu olhava fixamente para ele com os lábios entreabertos e um desespero crescente dentro de mim.
-E não adianta olhar para seu pai com essa cara, você ouviu muito bem. Acabou a vida boa, sua vida quem faz agora é você - Eu nem consegui encarar minha mãe.
-E vai escolher agora.
-C-como assim? - Minha voz saíra extremamente baixa e rouca. Na verdade, eu nem sabia como consegui pronunciar aquelas palavras. -É a última chance que eu vou te dar, Duda, a última, então escute bem. Se você não quiser nada com nada, diga agora e acabamos com isso de uma vez. Mas se você quiser tentar ser alguém na vida, eu estou disposto a te pagar quantos professores particulares você precisar para passar de ano. É a minha última oferta, então pense com carinho. Você vai escolher como sua vida será daqui para frente agora mesmo.
As palavras dele entraram como uma faca em meu estômago. Esse não era o primeiro sermão que ele me dava, mas com certeza era a primeira vez que ele ia tão fundo. Eu sabia que não tinha sido justa com eles e que estava estragando minha vida, mas meu ódio pelos estudos era uma coisa a ser estudada. Irônico, não? Merda, merda, merda, eu estava completamente f***.
-Er... - Comecei. Ou pelo menos tentei, pois minha voz parecia estar presa à garganta - Pai, eu... - Respirei fundo, sem saber o que dizer.
-Fala, Duda, e seja sincera. Ninguém aqui ficará bravo com você, acredite. Você já está grandinha para decidir as coisas por si.
-Eu... Eu não quero perder o ano - Senti um nó fechar minha garganta e instantaneamente meus olhos marejaram.
-Isso é bom. E o que pretende fazer para isso?
-Aceitar a sua oferta. Eu... Vou estudar.
-Tem certeza disso, Maria Eduarda ?
-S-sim - Não, mas era minha única opção. Eu não iria para uma escola pública.
-Certo. Espero que não se esqueça tão cedo dessa conversa, e que a partir de segunda você mude sua atitude - Ele disse firmemente e eu apenas assenti - Era isso o que tinha a te dizer. E reze para que não seja tarde. Boa noite, filha - Eu o vi levantar e sair da cozinha, sendo seguido por minha mãe. As informações ainda rodavam em minha cabeça e o fato da bronca ter sido extremamente rápida e direta fez com que um alarme soasse freneticamente em meus ouvidos. Era como se alguém tivesse me puxado pelos pulsos e me jogado em outra realidade, uma que não era a minha. Olhei para o boletim à minha frente e algumas lágrimas escaparam de meus olhos. As notas baixas agora pareciam zombar de mim e eu senti desespero ao perceber que passar de ano a essa altura seria praticamente impossível.
Maldita Emma.*-* *-*
Gente, essa fic não é minha! Eu li e gostei de uma página, então eu decidi postar aqui para vocês!
Xoxo Duda
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Geek - H.S
FanfictionEu era uma pessoa normal, uma aluna com boas notas. Ano novo, pessoas novas, e se posso dizer, más companhias, com isso eu fui para o pior lado, minhas notas caíram. Iria reprovar, iria repetir o maldito ano, se não fosse por ele