epílogo

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Hoje faz exatamente três semanas que conheci Joshua. Três semanas pode parecer pouco tempo, mas isso é o que você acha.

Não é pouco tempo.

Em três semanas você pode se apaixonar. Em três semanas você pode amar alguém. Em três semanas você pode fazer um novo amigo.

Três semanas não é pouco tempo, mas um dia é.

Porque ao passo que em três semanas você conquista um novo amigo, em apenas um dia você pode perdê-lo.

Um dia é pouco tempo.

- Any, está pronta?

Estava usando meu único vestido preto. Estava de luto. Estava de luto e estava de preto.

- Sim.

Minha mãe estava triste também, afinal, ela conviveu com Joshua tanto quanto eu.

Fomos os últimos a chegar ao cemitério e a família dele inteira estava lá. Vieram do Rio de Janeiro. Conheci o Noah, irmão mais velho dele, e este também não chorava.

Comovi-me quando a mãe dele me apresentou como "a melhor amiga de Joshua" e tive que me esforçar muito para não voltar a chorar.

O homem encarregado de colocar o caixão dentro da lápide começou a abrir um buraco na frente de uma placa bonita escrita, Trindade. Na parte de baixo estava:

Karina Trindade - 12/04/2000 +23/07/2013

Quando o homem terminou o trabalho, meu coração quase saiu pela boca e meu controle em segurar as lágrimas quase escapou de mim.

Joshua Beauchamp - 31/01/1995 +21/02/2015

Observei o caixão de Victor sendo enterrado dentro da lápide, ao lado da irmã. Victor estaria eternizado em um corpo de vinte anos para sempre. Conservado dentro de um caixão, debaixo da terra, onde ninguém jamais veria sua face novamente. Onde ninguém jamais teria o prazer de ouvir sua risada, ou escutar sua voz, sentir seu perfume.

Ali estaria o corpo de Joshua, mas ele não estava mais lá. Não importava exatamente onde ele estava agora, mas eu esperava que fosse no céu. Nunca acreditei quando ele disse que iria ao inferno, isso não aconteceu.

Uma vez enterrado, as pessoas só paravam para dizer tchau e iam saindo. Laura e Wilson estavam em um canto chorando, sendo consolados pelo filho mais velho, quando a mulher murmurou um "vamos embora, por favor" e eles saíram dali. Pensei em Laura, perdendo o segundo filho em um intervalo de dois anos. O quão difícil pode ser para uma mãe passar por isso? Lembrei da leveza com que Joshua falava da irmã. Com saudade, não com dor. Queria isso para mim. Queria me lembrar de Joshua, e falar dele com saudade, mas não com dor.

- Sabe o que eu fiz quando me contaram que minha irmã tinha morrido? – Perguntou, do nada.

Para mim ele estava dormindo, mas então abriu os olhos para me encarar.

- Não. O quê?

- Nada. Eu não fiz droga nenhuma. Eu peguei o carro e fui para nossa casa no interior. Tinha acabado de tirar minha carta e meus pais ficaram desesperados. Me ligaram, mas eu os ignorei. Eu sumi por dias, Any. – Contou de uma maneira suave.

- Por quê?

Ele fez uma pausa.

- Porque eu tinha acabado de receber meu diagnóstico. Duas bombas no mesmo dia. Foi demais para mim.

- Por que esta me contando isso?

Joshua suspirou, se arrumando na cama.

- Eu não quero que isso aconteça com você. Não quero que você suma. Quero que se lembre de mim como se eu tivesse ido para outro país bem longe. Como se eu estivesse em uma expedição no mar que vai durar a vida toda. Qualquer coisa, mas, por favor, não use a palavra morte para se referir a mim.

Eu ia honrar o desejo dele. Eu juro que ia. Porém iria também me dar ao luxo de presenciar a realidade e me manter machucada, pelo menos por hoje.

Meu pai pareceu entender que eu precisava ficar sozinha, e segurando minha mãe pelos ombros, me deixou ali.

Aproximei-me da lápide, chorando. Mas um choro calmo. O último choro.

- Eu estou quebrada. – Disse. – Mas isso vai passar. O importante é que você não tem mais dor e não sofre mais. – Remexi em meu bolso até encontrar o papelzinho que eu procurava. – Descansa em paz. Eu te amo para sempre, eagle.

Terminei, jogando o VALE APELIDO que ele havia me dado dentro da lápide, e usando o apelido que seu irmão havia colocado nele quando eram mais novos. Eagle e Neox.

Conhecer Joshua me ensinou muita coisa. Aprendi que a vida é realmente muito curta. Aprendi que reviravoltas são necessárias para que a gente cresça. Aprendi que devemos aproveitar o agora com quem estiver conosco. Aprendi que há pessoas que vêm para mudar a sua vida, não importa o tempo que elas fiquem.

Quando perguntassem por ele, eu jamais iria dizer que ele perdeu a batalha. Jamais diria que ele foi embora. Eu diria que ele ainda estava por aqui, em algum lugar. Que perdemos contato. Diria que ele estava em uma expedição no mar que iria durar a vida toda.

Eu sabia de todo meu coração que nunca me esqueceria de Joshua Beauchamp e de todos os nossos vinte dias.

E se minha memória falhasse, a nossa foto no meu quarto me faria lembrar disso para sempre, pelo tempo que eu vivesse.

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É galera, acabou
Espero que tenham gostado
Eu sofri como se fosse alguém da minha família, e vocês?
É isso então
Não sei se vou postar outra história então em vez de see you later, vou deixar meu adeus💫

Burn with you - beauany fanfictionOnde histórias criam vida. Descubra agora