dia 1

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Dia 1
Os meses seguintes ao vestibular foram normais. Para mim pelo menos. O  Natal e o Ano-Novo foram os mesmos de sempre (ganhei meu celular novo,  yes!), minhas amigas também eram as mesmas, e minha escola era a mesma também.  Pelo menos era meu último ano nela, graças ao Pai.

Meus pais estavam em  êxtase, pois por um milagre divino da mãe natureza eu havia feito uma  pontuação de 78 em 90 questões, então para eles, eu já era uma universitária.  Eles comentavam com tudo e com todos o quanto a filha deles é  inteligente e blá blá blá. Eu vi, com horror, minha mãe postar isso no  Facebook dela. E ela ainda me marcou! Ah, minha vida estava para acabar,  de verdade. Inclusive comentaram com os vizinhos, acho que todos os  moradores do prédio já me queriam para  nora/sobrinha/neta/filha/irmã/prima etc por eu ser uma pessoa assim tão  inteligente e exemplar. Eu tive que rir. Não era nada menos que cômico.  Eu nem ia para faculdade, por que ficaram tão felizes? Fala sério.

Bom, o caso é que era exatamente isso que meus pais estavam fazendo  quando cheguei do shopping naquele domingo. Comentando com os prováveis  novos vizinhos da frente o quão inteligente sua filha era. Minha vontade  era de bufar, por que aquilo já estava me dando nos nervos, mas então  lembrei que eles estavam falando bem de mim e resolvi passar uma imagem  boa.

- Olá, família! – Gritei feliz depois de abrir a porta, fingindo que não sabia que tinha visita em casa.

- Que felicidade é essa, arrumou um namorado? – Meu pai, sempre lindo,  arruinando minhas atuações. Acho que fiquei vermelha quando cheguei à  sala e vi aqueles dois pares de olhos desconhecidos.

Eu era a "encalhada" da turma. Todas as minhas amigas tinham namorados,  que viraram amigos e agora eram todos best friends forever. Vou até  falar quem é namorado de quem para você não se perder.

Letícia namora com o Renato, que é um dos meus melhores amigos de  infância. Anna, a pessoa mais fofa da face da  Terra, namora com o Pedro, um cara super legal, três anos mais velho  que ela. E por fim tinha Raissa, minha doce (sóquenão) melhor amiga,  cujo namorado atende pelo nome Daniel. Todos éramos muito unidos e  felizes e arco-íris, unicórnios, pôneis e leprechauns. Mas é claro que  no meio desse ninho de amor tinha uma vela no meio: eu.
Já tive vários ficantes, mas nenhum deles durou. Na verdade, eu não estava assim totalmente  encalhada agora, mas acho que o Davi não vai durar também. Detestava  sair com os seis sabendo que eu não me encaixava, principalmente quando  eles faziam o "campeonato do beijo". Era um jogo ridículo onde eles  apostavam que casal ficava se beijando por mais tempo. Até agora nosso  recorde foi de onze minutos e trinta e seis segundos, título dado a Rai e Daniel. E eles só pararam porque Rai viu uma barata no chão, o que  cortou o clima (e ainda bem, não aguentava mais olhar aquela pegação  toda).

Enfim, já deu para perceber que eu sempre era motivo de piada quando  jogavam a falta de interação social no campo amoroso na minha cara.

  Lancei um olhar cruel para o meu pai, e minha mãe apenas riu.

- any, esses aqui são Laura e Wilson, os vizinhos da frente.

- Oh, mas ela é linda! – Exclamou a mulher, bem jovem, enquanto se  levantava para me cumprimentar. Fui até ela, e trocamos a famosa  bochechada. Doeu, mas tentei não demonstrar. Ao lado dela, o homem,  Wilson, estendeu a mão, com um sorriso amigável no rosto, e eu a  apertei, sorrindo também. Ah, se pudesse eu faria tudo sorrindo.

Era bom sorrir. Convence as pessoas. Então com um sorriso muito fofo (eu acho), anunciei:

- Bom, já volto. – Eles não estavam mais prestando atenção em mim, então  foi seguro fugir e fingir que demorei no chuveiro até eles irem embora.  Não queria ter de dizer que meu sucesso na prova se deu basicamente  graças a um coração partido.

Burn with you - beauany fanfictionOnde histórias criam vida. Descubra agora