dia 3

505 42 1
                                    


- Vai se atrasar, querida. - Apressou meu pai, mesmo que eu, na verdade, estivesse adiantada.

Respondi com uns resmungos pouco compreensíveis por causa da pasta de dente nadando pelo meu tubo bucal e acenei para que ele esperasse, mesmo que meu pai não fosse capaz de ver através da parede. Quando acabei (de escovar os dentes e não de acenar), fui ao meu quarto pegar minhas apostilas e meu carregador e meu livro e minha... Onde estava minha carteira?!

- Any ! - Foi a vez da minha mãe.

Meu Deus, eles precisam aprender que eu não funciono sob pressão. Carteira, carteira, carteira...

- Não esquece de pegar uma blusa!

Oh, God, dai-me paciência. Grunhindo e chegando à conclusão de que teria que roubar o lanche de alguém hoje, só peguei a primeira blusa que eu vi na frente e deixei meu quarto, berrando um "Tchau, mãe!" enquanto saía apartamento afora.

Não achar a carteira quando estava precisando era um tremendo de um azar. A vida mostrou que eu estava errada quando, sem querer, sentei em cima da minha blusa ao subir no carro e senti um troço duro na minha bunda (sem malícia, você) e adivinha o que era? Não, mente podre, não era o que você estava pensando, era só minha carteira!

Satisfeita, guardei a carteira na bolsa depois de conferir o dinheiro e nesse exato momento meu pai abriu a porta do carro e entrou.

- Você nem tomou café. - Comentou, pegando os óculos de sol. Meu pai nunca dirigia sem óculos de sol, mesmo que agora fossem exatamente 06:19 da manhã e não tivesse sol nenhum do lado de fora. Vai entender.

- Sem fome.

- Sim.

- Dormiu bem? - Perguntou, arrumando o retrovisor. Acho que já deu para perceber que meu pai tinha um tipo de ritual no carro antes de finalmente dirigir.

- Que bom, querida.

Eu posso explicar meu silêncio. O negócio é o seguinte: antes das sete, eu não falo. Pode ter o cara mais gato do mundo, pode ser Adam Levine na minha frente, mas antes das sete, o máximo que direi a ele será "I love you".

Meu pai não era exceção a essa regra.

(Aaaah, a quem eu quero enganar! É claro que eu faria o maior escarcéu pelo Adam, até se fossem três da manhã, mas isso não vem ao caso agora).

Cheguei à escola atrasada, como sempre, e Renato tirou a bolsa dele da carteira que estava atrás de Let para que eu me sentasse. Eu bem ia dizer um "olá" monossilábico, talvez mudo, para meus amigos, mas a professora Fátima entrou na sala naquele exato momento, me poupando de interagir com quem quer que fosse.

- Bom dia, tchurma! - É, ela falava desse jeito mesmo. Como se estivéssemos na quarta série, ou terceira. - Antes de começar a aula, quero lembrar da doação de roupas ao orfanato. Levanta a mãozinha quem se voluntariou para ajudar a levar as roupas.

Meio rindo, Daniel, Anna, Let, Renato, Rafa e eu levantamos as nossas mãozinhas, ao mesmo tempo em que mais três garotas na frente da sala.

- Ótimo. Não se esqueçam de dar seus nominhos na secretaria, docinhos. - Completou, nos olhando por cima dos óculos. Foi a deixa para abaixarmos as nossas mãos... zinhas. Eu gostaria de dizer que a professora Fátima era uma senhora fofa com cara de vovó, mas na verdade, ela não tinha nem trinta anos. Alô, tia, todos nessa sala tem entre dezesseis e dezessete anos, se toca!

- Bom, vamos lá. Gostaria que meus lindinhos abrissem na página quarenta e três. Vamos começar fazendo uma pecinha, que tal? Vem cá, Juliana, você vai ser Anna Bolena. E você, querido Renato, vai ser o...

E já dá pra ter uma ideia de como é a aula dela. Bem, é uma aula bastante divertida se você considerar que é história, mas ainda não havia passado das sete e, portanto, para mim nada seria divertido até o relógio virar.

Depois do intervalo, andei até minha sala, fiquei confinada naquele mesmo espaço por um longo tempo e só quando fui liberada que me perguntei onde estaria meu vizinho. Será que ele havia cabulado? Ele chegou ontem, talvez ainda estivesse se recuperando da viagem e coisas assim.

Quando voltei ao apartamento, porém, não dei mais de cara com ele.

conversa no WhatsApp

•Tá tudo dominado

Any: Sdds vizinho
Rafa Mozao: Sdds
Let: Sdds
Renato Zoreba: Af
Daniel: Af
Any: USHAAUAHAHA VCS SÃO TÃO ESTRANHOS
Any: AMO
Pedro: kkk vdd
Anna: Que vizinho?
Any: O novo
Rafa Mozao: Eu sei quem é lalalala
Let: Oxe, da onde?
Any: Nós três fizemos a FUVEST no mesmo prédio ano passado
Let: Ah. Que coincidência
Anna: Isso é destino! Haha
Daniel: Pqp que coincidência
Any: Ai gente, meu pai tá chamando.

Bloqueei o celular e fui ver o que meu pai queria.

Pensei em Joshua, e na nossa conversa de ontem. Ao longo da tarde imaginei que ele, seu sorrisinho babaca e suas respostas engraçadinhas iriam dar o ar de sua graça, mas isso não aconteceu.

Fiquei esperando por muito tempo, e como não rolou, resolvi desencanar. Ele deve ter fugido de casa. Deve ter cabulado. Deve ter voltado para o Rio de Janeiro. Não sei. Aliás, por que eu estou tão interessada?

No terceiro dia já estava mais ou menos conformada.

- Filha, Joshua está aqui! - Gritou minha mãe. Eu tinha acabado de chegar da escola, estava descabelada, fedida e pior: de lingerie. Mas mesmo assim, fiquei feliz e dei um gritinho quando recebi a notícia.

Pois bem, eu disse mais ou menos conformada. Troquei de roupa bem rápido (desnecessariamente rápido) e fui para a sala.

- Olá, little princess.

- Olá, badboy. - Falei. Ele riu.

- Eu não sou princesinha! - Joshua rolou os olhos, me analisando.

- Caraca, olha como está vestida.

E eu olhei. Estava de shorts, uma cropped meio indiana, havaianas e uma faixa no cabelo. Absolutamente normal.

- Nada demais.

- Não, isso aí é fruto de alguém que é filhinha de papai.

Foi minha vez de revirar os olhos.

- Que seja. Você está bem?

Ele ficou vermelho. Levou as mãos para o rosto em uma tentativa de disfarçar, mas eu sabia que ele sabia que eu tinha percebido. E foi aí que eu vi outra. Outra sigla. Tinha a sigla K.T e agora, uma outra que era T.N. Quis perguntar o que significavam, mas algo me deteve. Ele pareceu notar e revolveu que, me explicar as tattos era menos constrangedor do que simplesmente responder se estava bem ou não.

- Isso são siglas.

Eu ri.

- Meio que está óbvio. Vai me contar o que significa?

- Meio que não. Ainda não. Mas elas representam fases da minha vida. Tudo o que acontece vira uma tatuagem.

- Seus pais não ligam? - Perguntei, curiosa. Afinal, meus pais não deixavam nem eu fazer um segundo furo na orelha, quem dirá uma tatuagem.

- De eu fazer tatuagens? - Assenti com a cabeça. Ele deu um longo suspiro. - Meus pais têm a irritante mania de fazerem tudo o que eu quero. Então não, eles não ligam.

- Depois eu que sou a filhinha de papai. - Provoquei, rindo.

Joshua me lançou um sorriso triste. Eu tinha vontade de dizer várias coisas, mas decidi por não dizer nada. Ele devia ter os motivos dele. Mas ainda estava intrigada com o fato de não ter nenhum desenho em seus braços, só em seu tronco.

Dei uma risadinha. Quem era Joshua?

---------------------

Eae povoooo, espero que estejam gostando

See you later⚡

Burn with you - beauany fanfictionOnde histórias criam vida. Descubra agora