Capítulo 5

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No meio de todo aquele cenário de destruição, entre todos os talheres de plástico, pedaços de madeira e ferro espalhados, algo lhe chama a atenção. Um ponto específico próximo ao corpo onde o chão estava mais queimado e que formava um círculo, onde parecia ter ocorrido uma pequena explosão. Saindo deste círculo, haviam vários pedaços de plástico queimados, que seguiam se espalhando por toda a cantina.

Ela coleta alguns pedaços, vedando-os em um de seus saquinhos.

Thiago a observa de longe, mas se aproxima ao ver o interesse dela por aquele ponto muito específico do salão. Ele então, quando enxerga os plásticos, pega seu celular e tira uma foto.

Enquanto ela examina, Daniel sai para falar com Isabela e o outro bombeiro e Thiago o segue.

Eles chegam do lado de fora, e se aproximam de um bombeiro magrinho. Ele tem um cobertor roxo sobre os ombros e está sentado na escada, sozinho.

-Olá! Boa tarde, bom dia- cumprimenta Daniel.

O homem o olha assustado.

-Ãn?

-O que você prefere?- Daniel completa.

-Bo-boa tarde- ele o olha um pouco confuso.

-O que aconteceu aí amigo?

-Eu já falei tudo pra vocês.

-Não pra mim.

-Vou ter que falar tudo de novo- fala claramente cansado- eu só quero ir pra casa...

-Prometo que depois daqui você vai pra casa. Você vai fazer o que você quiser, mas a gente gostaria de entender o que aconteceu aqui- o bombeiro suspira um pouco incomodado- então se você puder começar do começo...

Ele respira fundo antes de falar.

-Era mais ou menos umas duas e alguma coisa da manhã. Eu vou resumir porque eu já falei tudo- fala um pouco irritado- Era mais ou menos umas duas da manhã, a gente recebeu o chamado, a gente veio pra cá. A gente passou...tava tendo um incêndio na escola. A gente- em vários momentos ele para de falar antes de continuar a frase. Era visível o quanto o assunto o estava estressando e ele parecia cansado de ter de repetir tantas vezes a mesma coisa- lidou com...

-A gente quem?- Daniel o interrompe.

-Que?- ele pergunta saindo de sua bolha de irritação por alguns segundos.

-A gente quem?

-A gente, do corpo de bombeiro!- e ele volta novamente para o tom de raiva anterior- Cê não tá vendo? Eu sou um bombeiro- aponta pra si mesmo.

-Mas, o corpo do bombeiro inteiro?

-Sim. Ah...você chama o corpo de bombeiro, a gente apaga os incêndios, esse é o nosso trabalho- fala como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo.

-Mas era quantas pessoas meu querido?- Thiago se pronuncia pela primeira vez.

Ele pensa um pouco antes de responder em um tom de voz calmo.

-A gente tava em cinco ou seis pessoas, apagando o incêndio.

-Hmm- Thiago murmura

-Mais ou menos...Era um grande incêndio. Alguma coisa muito grande tinha explodido dentro dessa escola...A gente lidou com o incêndio em mais ou menos uma hora e pouco. E aí eu e o Jorge entramo pra analisar qual... se tinha alguma vítima, se tinha mais algum ponto de...de incêndio, e tentar descobrir de onde veio essa origem- ele inspira um pouco, fazendo uma breve pausa antes de continuar- E aí a gente se separou. Eu tava tentando falar com ele por rádio... a gente tava se comunicando e de repente ele só parou de me responder- ele faz mais uma pausa continuando com a voz um pouco falhada, parecendo que iria chorar- Eu fui procurar por ele... Eu fui procurar por ele- as lágrimas começam a aparecer e a voz dele é de desespero- e eu vi ele deitado no chão. Morto!

-Não fica assim não meu querido- fala Thiago, com a voz calma.

-Eu entendendo que deve ter sido uma experiência bem traumática...- Daniel tenta ajudar a acalmá-lo.

-EXPERIÊNCIA TRAUMÁTICA? ELE MORREU!- fala desesperado- EU NEM SEI COMO.

-Ok...- fala Daniel suspirando- Beleza. Ãn... mais alguma coisa que você tenha visto...? Que possa ajudar a gente a entender o que aconteceu...?

-Por que vocês não me deixam ir pra casa logo?- o bombeiro fala incomodado e continua com voz de desespero- Eu já falei tudo isso pra vocês. Eu já vi meu amigo morrer. Eu me a... Eu só quero voltar pra minha mãe.

-Ô. Pera aí meu querido. Cê tá com muita pressa de sair, velho- Thiago tenta perceber se havia algum traço de mentira na voz do homem, mas percebe que ele apenas estava em choque, e que queria ir pra casa. Ele estava claramente horrorizado com toda a cena.

-Foi a primeira vez que você lidou com... com a morte de...- o ruivo começa, mas é interrompido.

-Que diferença isso faz pra vocês?! Só me deixa ir embora logo, pelo amor de Deus! Quantas horas eu vou ter que ficar parado nessa escola? Nem tem policial direito aqui! Vocês são a primeira pessoa que vem investigar isso de verdade. O outro só fica no celular!

-Mais um motivo pra você ajudar a gente não é mesmo?

-O QUÊ QUE EU F...O QUE QUE EU... QUE MAIS CÊ QUÉ QUE EU FALE?! EU JÁ FALEI TUDO!- o bombeiro fala surtado.

-Você não falou tudo- Daniel fala calmo.

O homem começa a lacrimejar enquanto fala:

-Eu não aguento mais... Deixa eu ir pra casa.

-Ô Daniel. Deixa eu falar com você aqui no canto, rapidinho meu querido.

Eles saem de perto do bombeiro.

-Pode falar.

-Cara, esse cara daí pelo que tô vendo, não vai ter nenhuma informação útil pra gente não, velho. Parece ser uma perda de tempo. Acho que deve deixar ele ir pra casa logo e cabou, hein. Não acha não?

-Hm...não. Ele claramente precisa de alguém pra acalmar ele. Só que eu não sou muito bom nisso.

-Pra ser bem sincero com você cara, a gente pó...até achei o cara gente boa, mas ele não é da nossa conta não irmão. Acho que a nossa conta é ver quem que fez isso com o amiguinho dele lá, tá ligado. Acho que nossa conta não é o corpo de bombeiros, é o corpo do bombeiro né.

-Engraçadinho você. Mas o oficial Gonzalez falou que esse cara aparentemente viu um fantasma, e a gente precisa dos detalhes do que ele viu...pra continuar essa investigação. Porque alguma coisa claramente aconteceu aqui. E será que você consegue acalmar ele? Porque eu, sinceramente, não tenho... não tenho paciência pra isso não- ele termina de falar, pega o cantil e toma um gole da bebida.

-Pra ser bem sincero irmão, eu tô de boa aqui, cara. Eu vou voltar lá dentro pra ver se a Elizabeth achou alguma coisa.

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