1 2 3 anos para a vida toda

Capítulo VII - Sanidade negada

5:55? A ansiedade realmente consome. O horário não passava nunca. Olhei para a persiana do meu dormitório e tive o súbito desejo de levantar. O sol já nascendo. Talvez uma caminhada espairecesse a minha mente, perturbada pela Senhora Armein.

Cada passo no caminho levemente iluminado da praça central de Evans ecoava na minha cabeça, latejando. Eu encarava a minha mão esquerda com pesar, desgosto. O grande anel que refletia a pouca luz do nascer do sol em um azul esmeralda muito próximo da tonalidade do meu colar - herança da família Springer. Que curioso.

Levantei a cabeça e fui parada com um aviso:

- O poste, Blue! - a voz soava familiar e meiga apesar de momentaneamente exasperada. A fim de confirmar quem havia ajudado-me, simplesmente virei para a direita com o coração quase nas mãos de susto. Era Geórgia, minha amiga. Logo me toquei que ninguém sabia do meu noivado, então escondi o anel no bolso esquerdo do moletom quase na velocidade do som.

- Pensei que não quereria um nariz quebrado no feriado - disse Geórgia com um sorriso pequeno e amoado, talvez estivesse preocupada com algo.

- Absolutamente. - sentei ao lado dela num dos bancos da praça central do dormitório feminino. Coloquei a mão no bolso para conferir a localização do anel. Ainda estava lá. Não que eu quisesse perdê-lo, eu não queria era tê-lo.

- E o seu braço Blue? Como está? - Falou curiosa e convalescente.

- Ainda dói e tenho que manter meu curativo por 24 horas, mas eu consigo enfrentar essa. - Pisquei para ela e vi que não reagiu da mesma forma.

- Desculpa não poder ajudar com o curativo. - seu ombros caídos me deixaram preocupada. Ajudar, quem vai me ajudar mesmo? Sars não estará aqui o dia todo, Ge vai viajar e Chart tem compromissos com a tia - A doida da Manipulação Alaranjada. Ah não, o Xepa ajudará!

- Não tem problema! Vou ter a ajuda de um... amigo. - Éramos amigos naquele momento? Tentara forçar uma expressão tranquila, porém pareceu que estava com uma leve dor de barriga. No entanto, Ge não chegou a notar meu semblante, seus olhos voltavam-se a sua mão direita. Olhei carinhosamente para Ge e disse:

- Algo preocupando você? Não está radiante como costumeiramente, Ge. - Seu rosto demonstrou uma feição mais triste que seu sorriso no início da nossa conversa.

- É sobre o David, Bulu. Não sei o que fazer para consertar as coisas. - Coçou o olho com a mão direita, estava sem o anel de compromisso. Isso não era bom.

- Conversávamos acerca das faculdades ideais para fazermos... - Até agora sem problemas, uma conversa comum - Porém eu achava que decidiríamos individualmente e depois relataríamos um para o outro. - Está aí o motivo da contenda. - Você não acha que isso seria o ideal?

- Bom, eu acho que... - de repente a briga com o Jean sobre Santa Catarina acertou-me a cabeça, então ideal, ideal, não era algo que eu acreditara ser depois da discussão - é complicado. - dei um sorriso maroto e arrumei uma madeixa solta do meu coque desengonçado - Na verdade Ge, eu discuti com o Jean na madrugada após o aniversário dele exatamente sobre esse assunto. - revelei a ela um sorriso amarelado - Talvez ele só esteja preocupado com a distância e com o relacionamento de vocês, Ge. - seus cabelos loiros estavam no rosto e enquanto tentava colocá-lo atrás das orelhas continuou a conversa:

- Talvez esteja mesmo, mas não sei se isso é tão saudável. O Sem pensa a mesma coisa. - Soltou um suspiro após a bem-sucedida tentativa de tirar as mechas louras do rosto - Mas e como estão as coisas com o Jean? - Seus olhos verdes quase bloquearam meus questionamentos acerca do Sem. Quem poderia ser?

- Meio incertas. - falei rápido com a esperança de que as palavras fossem aplacadas com o minha pergunta seguinte. - E quem é Sam? - com um pequeno riso Geórgia esclareceu: