sete

6 1 3
                                    

Estava quase tudo pronto. Após dez meses, o propulsor estava ficando tão grande que tivemos que desmontá-lo e remontar em um galpão que por algum motivo Marcos era dono. Faltavam alguns ajustes para o primeiro teste.

— Quem é essa garota com você e Rafael? — indagou Marcos, olhando para uma foto que estava dentro de minha pasta.

Olhei para a foto, e senti um nó na garganta. Eu não olhava para essa garota desde quando eu tinha quinze anos de idade, e ela dezessete. A garota que, quando partiu, levou um pedaço de cada um de nós da família.

— Essa é minha irmã. — eu pigarreio após dizer isso — Ou era. Ela sofreu um acidente de carro.

Marcos fixa seu olhar em mim, envergonhado. Fica corado, e volta a fazer alguns ajustes na máquina.

— Eu sinto muito.

— Está tudo bem, gosto de falar dela. — digo. Na verdade, eu não gosto de falar dela. Toda vez que dizem seu nome, Rebecca, eu me sinto vulneravelmente triste. — O nome dela era... Rebecca. Mas chamávamos ela de Becky.

Pela primeira vez em muito tempo, sorri ao me lembrar dela. De nossas lembranças. De nossos momentos felizes... Meus pensamentos foram interrompidos quando ouvi uma pequena explosão na máquina, e em seguida, um grito assustado de Marcos.

— Ai! — grita ele, antes de se virar para mim — Tudo bem, foi uma pequena sobrecarga no painel de controle. Desculpe.

Balanço a cabeça em sentido afirmativo. Marcos vai até sua mochila, e pega seus óculos, limpa as lentes em sua camisa da NASA e os coloca no rosto. Nunca o vi usando-os, mas achei que ele ficou muito bem com eles.

                                         • • •

   Foram dois anos e seis meses te muito trabalho. O tempo passou voando para nós, e estávamos nos preparando para o décimo sétimo teste. Em todos os outros, os objetos cobaia torraram, e não podíamos saber se eles retrocederam um segundo sequer. Dessa vez, usamos um brinquedinho de Toby.

   — Teste número Dezessete. — anuncia Marcos.

   — Espere um pouco — digo eu me aproximando com um relógio de pulso e amarrando no brinquedo. — Isso vai nos ajudar a saber quanto tempo o brinquedo retrocedeu.

Marcos colocou uns óculos de proteção e eu fiz o mesmo depois de me afastar alguns passos da máquina. Marcos liga uma câmera e faz um sinal pra eu operar o painel de controle.

— Teste número dezessete de viagem dimensional— diz Marcos para a filmagem. — Operado por Raquel Schwartz — diz ele ao me filmar — e por mim!

Fiz uns ajustes de ativação no painel de controle e empurrei uma alavanca. O som agudo da ativação da máquina me dava arrepios.

— Energia em 50%. — digo — injetar energia escura.

Marcos corre para a parte da máquina responsável por injetar a energia escura. Ele aperta alguns botões. A esse ponto o som da máquina está quase ensurdecedor. Recebo um aviso do monitor "superaquecimento". Corro uns metros e insiro uma senha para injetar o hidrogênio, mas o alerta persistia. Injeto mais. O som aumenta cada vez mais. Marcos me pega pela cintura e nos joga para trás de um muro de concreto, esperando que a máquina exploda. Tapo os ouvidos enquanto Marcos filma. E, inesperadamente, silêncio. O som da máquina parou, o alarme de superaquecimento também.

     Olho por cima do muro. Fumaça. Marcos tosse e eu também. Quando a nuvem finalmente se dissipa, o brinquedinho do meu cachorro não estava mais lá. Arregalo os olhos.

    — Nós... nós... — Marcos gagueja.

    — Nós conseguimos! — completei.

     Nos entreolhamos e corremos para a máquina. Ao termos a certeza de que o objeto sumiu, nos abraçamos. Solto-me do abraço envergonhada, e procuro no monitor da máquina, querendo saber onde, ou melhor, quando o brinquedo do Jake está.

dobra espacialOnde histórias criam vida. Descubra agora