doze

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Estava tudo escurecendo. Eu não sabia o que fazer. Se o tesserato se fechar, ficaremos presos ali pra sempre. Segurei a mão de Marcos e dei um pulo para cima. A gravidade era tão fraca, que era como se estivéssemos flutuando. Olho para baixo e vejo o hipercubo se fechando abaixo de meus pés. O vórtex azul se forma à nossa volta, o que significa que estamos retornando para a percepção tridimensional do espaço-tempo. Uma luz que surgiu do vórtex me cegou momentaneamente. E então, tudo parou. As dores nos olhos e na cabeça cessaram. Eu literalmente não senti mais nada por alguns segundos. Silêncio.
                                      * * *

Quando recebi meu tato de volta, sinto algo gelado em meu rosto. Então percebi que estávamos de volta. Deitados no chão do galpão. Me levanto abruptamente, olho para o lado e vejo que Marcos estava bem. Suspiro aliviada.

– Estamos de volta? – pergunta Marcos, ainda tentando se levantar.

– Estamos, sim. – digo antes de ajudá-lo.

       Ao me aproximar da máquina, vi que a câmara armazenava o nosso combustível estava completamente vazia. Algo não fazia sentido. Segundo meus cálculos, a energia escura injetada era suficiente para a viagem de ida e volta.

— Provavelmente nossos cálculos estavam errados. — disse Marcos. Balancei a cabeça em sentido afirmativo. — Imaginei que teríamos analisado todos os parâmetros, mas algo está diferente da nossa teoria.

— A teoria é diferente da prática. — digo em um tom decepcionado.

— Acho que a culpa é minha, provavelmente a resistência do ar ou a energia potencial não foram analisados direito. Sei lá.

— Não, não. Analisamos isso tudo, várias vezes. — tento reconfortar Marcos e a mim mesma. — Deu certo com o teste dezessete, estava tudo devidamente calculado.

Marcos dá de ombros e abaixa a cabeça. Ele abre a boca pra falar algo, mas o interrompo ao olhar bruscamente para ele.

— A não ser que... — digo inclinando a cabeça para ele.

A não ser que... — Marcos replica o que digo em um tom assustado.

— A nossa massa. — digo eu enquanto retiro vagarosamente o meu olhar e encaro novamente a câmara.

— De maneira nenhuma. — diz Marcos rindo — Foi um dos primeiros parâmetros que analisamos.

— Mas não analisamos em formato quadridimensional. — digo enquanto corro para minha mesa e procuro por papel e caneta. Marcos faz uma careta. — Como eu disse, a única força que pode viajar entre as quatro dimensões é a gravidade. Calculamos nossa massa tridimensional, em quilogramas...

— Mas até nossa massa foi alterada para força gravitacional na quarta dimensão! — diz Marcos entusiasmado — Por isso que a bússola daquela moto se alterou quando chegamos perto!

— O brinquedo é muito mais leve do que a gente, por isso não notamos a diferença no combustível. — digo enquanto finalmente acho papel e caneta, e logo começo a anotar. — Então, nosso peso se tornou gravidade, e quando qualquer objeto está sujeito apenas à ação da força gravitacional, o trabalho dessa força...

— É a medida da transformação de energia potencial cinética. — diz Marcos enquanto olha para o papel.

— Isso é muito trabalho para pouco combustível. — digo antes de soltar um suspiro.

— É conversarmos com o Bruno novamente, e pegarmos mais. — sugere Marcos.

— Apesar do laboratório dele ser uma empresa privada, o governo criou algumas leis para que o acelerador de partículas seja ligado de cinco em cinco anos, para "garantir a segurança da população". — falo enquanto me debruço decepcionada — Seria uma burocracia enorme e gastos abusivos para poderem ligá-lo novamente com aquela potência.

— Estado obeso. — diz Marcos com uma cara de nojo.

— Deveríamos ter pensado nisso antes. É arriscado demais tentar mais alguma viagem entre dimensões com essa quantidade de matéria escura. — digo.

— Você está pensando em desistir? — indagou Marcos.

— Não posso arriscar de novo. — digo apontando para a máquina. — Se aquele cubo quadridimensional se fechasse com a gente lá dentro, ficaríamos presos lá dentro para sempre... Ou pior...

— Então você vai só... desistir? — diz Marcos em um tom irritadiço.

— Você tem uma ideia melhor? — digo em um tom à altura.

Marcos pega o papel e a caneta da minha mão e começa a calcular em uma velocidade que sinceramente nem eu tinha conseguiria alcançar.

— Na verdade, tenho sim. — diz Marcos antes de colocar caneta na mesa. — Teoricamente.

Olho fixamente para ele enquanto arrasto o papel na mesa em direção a mim. Ao ler o que estava anotado, minha única reação foi arregalar os olhos.

— Não... — digo eu com os olhos arregalados e queixo caído.

— Sim. — diz Marcos em um tom orgulhoso.

— Isso não pode ser...

— Pois é.

— Você quer me dizer que você vai tentar providenciar combustível...

— Vou. Eu não quero esperar cinco anos pra recomeçar o projeto da nossa vida. — diz Marcos apontando para mim e para a máquina. — É o único jeito.

— Então você vai buscar matéria escura... — digo enquanto olho para os cálculos e para Marcos — No futuro?!

— Não vou. — diz ele — Nós dois vamos juntos De volta para o futuro.

Idiota. — digo eu com a cabeça inclinada, incrédula com a piada que ele acabara de fazer.

— Sempre quis dizer isso. — diz Marcos pisando um dos olhos para mim.

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