Estava tudo escurecendo. Eu não sabia o que fazer. Se o tesserato se fechar, ficaremos presos ali pra sempre. Segurei a mão de Marcos e dei um pulo para cima. A gravidade era tão fraca, que era como se estivéssemos flutuando. Olho para baixo e vejo o hipercubo se fechando abaixo de meus pés. O vórtex azul se forma à nossa volta, o que significa que estamos retornando para a percepção tridimensional do espaço-tempo. Uma luz que surgiu do vórtex me cegou momentaneamente. E então, tudo parou. As dores nos olhos e na cabeça cessaram. Eu literalmente não senti mais nada por alguns segundos. Silêncio.
* * *Quando recebi meu tato de volta, sinto algo gelado em meu rosto. Então percebi que estávamos de volta. Deitados no chão do galpão. Me levanto abruptamente, olho para o lado e vejo que Marcos estava bem. Suspiro aliviada.
– Estamos de volta? – pergunta Marcos, ainda tentando se levantar.
– Estamos, sim. – digo antes de ajudá-lo.
Ao me aproximar da máquina, vi que a câmara armazenava o nosso combustível estava completamente vazia. Algo não fazia sentido. Segundo meus cálculos, a energia escura injetada era suficiente para a viagem de ida e volta.
— Provavelmente nossos cálculos estavam errados. — disse Marcos. Balancei a cabeça em sentido afirmativo. — Imaginei que teríamos analisado todos os parâmetros, mas algo está diferente da nossa teoria.
— A teoria é diferente da prática. — digo em um tom decepcionado.
— Acho que a culpa é minha, provavelmente a resistência do ar ou a energia potencial não foram analisados direito. Sei lá.
— Não, não. Analisamos isso tudo, várias vezes. — tento reconfortar Marcos e a mim mesma. — Deu certo com o teste dezessete, estava tudo devidamente calculado.
Marcos dá de ombros e abaixa a cabeça. Ele abre a boca pra falar algo, mas o interrompo ao olhar bruscamente para ele.
— A não ser que... — digo inclinando a cabeça para ele.
— A não ser que... — Marcos replica o que digo em um tom assustado.
— A nossa massa. — digo eu enquanto retiro vagarosamente o meu olhar e encaro novamente a câmara.
— De maneira nenhuma. — diz Marcos rindo — Foi um dos primeiros parâmetros que analisamos.
— Mas não analisamos em formato quadridimensional. — digo enquanto corro para minha mesa e procuro por papel e caneta. Marcos faz uma careta. — Como eu disse, a única força que pode viajar entre as quatro dimensões é a gravidade. Calculamos nossa massa tridimensional, em quilogramas...
— Mas até nossa massa foi alterada para força gravitacional na quarta dimensão! — diz Marcos entusiasmado — Por isso que a bússola daquela moto se alterou quando chegamos perto!
— O brinquedo é muito mais leve do que a gente, por isso não notamos a diferença no combustível. — digo enquanto finalmente acho papel e caneta, e logo começo a anotar. — Então, nosso peso se tornou gravidade, e quando qualquer objeto está sujeito apenas à ação da força gravitacional, o trabalho dessa força...
— É a medida da transformação de energia potencial cinética. — diz Marcos enquanto olha para o papel.
— Isso é muito trabalho para pouco combustível. — digo antes de soltar um suspiro.
— É só conversarmos com o Bruno novamente, e pegarmos mais. — sugere Marcos.
— Apesar do laboratório dele ser uma empresa privada, o governo criou algumas leis para que o acelerador de partículas seja ligado de cinco em cinco anos, para "garantir a segurança da população". — falo enquanto me debruço decepcionada — Seria uma burocracia enorme e gastos abusivos para poderem ligá-lo novamente com aquela potência.
— Estado obeso. — diz Marcos com uma cara de nojo.
— Deveríamos ter pensado nisso antes. É arriscado demais tentar mais alguma viagem entre dimensões com essa quantidade de matéria escura. — digo.
— Você está pensando em desistir? — indagou Marcos.
— Não posso arriscar de novo. — digo apontando para a máquina. — Se aquele cubo quadridimensional se fechasse com a gente lá dentro, ficaríamos presos lá dentro para sempre... Ou pior...
— Então você vai só... desistir? — diz Marcos em um tom irritadiço.
— Você tem uma ideia melhor? — digo em um tom à altura.
Marcos pega o papel e a caneta da minha mão e começa a calcular em uma velocidade que sinceramente nem eu tinha conseguiria alcançar.
— Na verdade, tenho sim. — diz Marcos antes de colocar caneta na mesa. — Teoricamente.
Olho fixamente para ele enquanto arrasto o papel na mesa em direção a mim. Ao ler o que estava anotado, minha única reação foi arregalar os olhos.
— Não... — digo eu com os olhos arregalados e queixo caído.
— Sim. — diz Marcos em um tom orgulhoso.
— Isso não pode ser...
— Pois é.
— Você quer me dizer que você vai tentar providenciar combustível...
— Vou. Eu não quero esperar cinco anos pra recomeçar o projeto da nossa vida. — diz Marcos apontando para mim e para a máquina. — É o único jeito.
— Então você vai buscar matéria escura... — digo enquanto olho para os cálculos e para Marcos — No futuro?!
— Não vou. — diz ele — Nós dois vamos juntos De volta para o futuro.
— Idiota. — digo eu com a cabeça inclinada, incrédula com a piada que ele acabara de fazer.
— Sempre quis dizer isso. — diz Marcos pisando um dos olhos para mim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
dobra espacial
Ciencia FicciónQuando uma garota descobre como viajar entre dimensões temporais, através de uma máquina que pode dobrar o espaço-tempo, todo cuidado é pouco.