três

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  Estava rastejando sobre as escadas da minha casa, após um dia cansativo no trabalho. Ao chegar na porta de entrada, ouvi duas vozes. Uma era a do meu irmão. Dou de ombros e destranco a porta.

  - Oi mana. - diz Rafael enquanto eu entrava.

  - Oi. - digo com um tom desanimado.

  - E aí? - diz a outra pessoa. Quando olho por cima do meu ombro, vejo que é Marcos.

  - O que você tá fazendo aqui? - digo.

  - Te esperando.

  - Esperando para o que? - digo.

  Ele se levanta do sofá, e se dirige à porta do porão. Digo a ele que não pode entrar, mas ele ignora minha ordem e entra. Ele fica boquiaberto com os estudos que eu fazia lá. Tinham três quadros negros com minhas fórmulas. Marcos se aproximou deles e aparentou estar emocionado. Ele tocou um dos quadros com a ponta dos dedos e seu queixo caiu.

  - Você é um gênio! - disse ele, intercalando em olhar para mim e para o quadro.

  Dou de ombros.

  - Ok. Agora vamos sair daqui. - digo, puxando-o pelo braço.

  Marcos me olhou com decepção.

  - Por que não continuou? - diz ele, apontando para os papéis e para os quadros.

  - Porque viagem no tempo é impossível.

  - Mas suas fórmulas fazem sentido. A parte teórica já foi toda feita. - ele parou para analisar algo - Você não tem dinheiro para construir.

  - O que? Não! - digo.

  Ele continuou a me encarar, me obrigando a dizer a verdade.

  - Eu... - respiro fundo - Não tenho o suficiente para manter a quantidade de nitrogênio necessária para resfriar o propulsor.

  Marcos solta um suspiro profundo.

  - Tenho contatos.

  - Como assim?

  - Na minha faculdade de engenharia. - disse enquanto via os papéis um por um - Conheci um cara, que é meu amigo hoje em dia. É vice-presidente do Labocenter hoje em dia. Ele está me devendo uma.

  - Por que está ajudando?

  - Eu vi fé em você. - diz ele antes de abrir um sorriso - Desistir desse projeto seria um desperdício.

  - Eu preciso pensar sobre o assunto. - digo, coçando a cabeça.

  - Pensar?! Está com tudo na mão. Do que está com medo? - diz Marcos, indignado.

  - De fazer você perder seu tempo e dinheiro com algo que talvez nem valha a pena. - digo olhando para baixo.

  - Estou disposto a ajudar, mesmo que o resultado não seja o esperado, pelo menos valeu a pena tentar.

  - Eu te entrego a resposta amanhã. - dou uma pausa - Mas não fique esperançoso.

  Ele abre a boca para dizer algo, mas viro às costas para ele e subo a escada do porão, e digo para ele fechar a porta e apagar as luzes.

                                        •••

  Rafael chamou Marcos para jantar conosco. Em todo o jantar, ele oferecia um pedaço de carne ou de batata para Jake, que comia vorazmente.

  - O cachorro gostou de você. - diz Rafael a Marcos.

  - Ele é um cachorro muito lindo. - diz Marcos antes de se dirigir a mim - Ele tem sorte de ter vocês como "pais".

  Sorrio timidamente para ele e volto meu olhar para o copo de refrigerante.

  Nós três conversamos sobre raças de cachorros até a hora de Marcos ir embora. Ele disse que gostou muito de passar esse momento com a gente. Perto da meia-noite, ele se despede e vai embora.

  - Ele é um cara legal, mana. - diz Rafael, enquanto senta no sofá.

  - Ele é. - digo - Foi o único que me acolheu como amiga no trabalho.

  - Ah sim. - diz ele me observando enquanto levanto e me preparo para dormir - Boa noite, então.

  Me levanto ou um beijo no topo da cabeça dele. Chamo Jake para subir comigo, e como sempre, ele me segue.

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