Estava rastejando sobre as escadas da minha casa, após um dia cansativo no trabalho. Ao chegar na porta de entrada, ouvi duas vozes. Uma era a do meu irmão. Dou de ombros e destranco a porta.
- Oi mana. - diz Rafael enquanto eu entrava.
- Oi. - digo com um tom desanimado.
- E aí? - diz a outra pessoa. Quando olho por cima do meu ombro, vejo que é Marcos.
- O que você tá fazendo aqui? - digo.
- Te esperando.
- Esperando para o que? - digo.
Ele se levanta do sofá, e se dirige à porta do porão. Digo a ele que não pode entrar, mas ele ignora minha ordem e entra. Ele fica boquiaberto com os estudos que eu fazia lá. Tinham três quadros negros com minhas fórmulas. Marcos se aproximou deles e aparentou estar emocionado. Ele tocou um dos quadros com a ponta dos dedos e seu queixo caiu.
- Você é um gênio! - disse ele, intercalando em olhar para mim e para o quadro.
Dou de ombros.
- Ok. Agora vamos sair daqui. - digo, puxando-o pelo braço.
Marcos me olhou com decepção.
- Por que não continuou? - diz ele, apontando para os papéis e para os quadros.
- Porque viagem no tempo é impossível.
- Mas suas fórmulas fazem sentido. A parte teórica já foi toda feita. - ele parou para analisar algo - Você não tem dinheiro para construir.
- O que? Não! - digo.
Ele continuou a me encarar, me obrigando a dizer a verdade.
- Eu... - respiro fundo - Não tenho o suficiente para manter a quantidade de nitrogênio necessária para resfriar o propulsor.
Marcos solta um suspiro profundo.
- Tenho contatos.
- Como assim?
- Na minha faculdade de engenharia. - disse enquanto via os papéis um por um - Conheci um cara, que é meu amigo hoje em dia. É vice-presidente do Labocenter hoje em dia. Ele está me devendo uma.
- Por que está ajudando?
- Eu vi fé em você. - diz ele antes de abrir um sorriso - Desistir desse projeto seria um desperdício.
- Eu preciso pensar sobre o assunto. - digo, coçando a cabeça.
- Pensar?! Está com tudo na mão. Do que está com medo? - diz Marcos, indignado.
- De fazer você perder seu tempo e dinheiro com algo que talvez nem valha a pena. - digo olhando para baixo.
- Estou disposto a ajudar, mesmo que o resultado não seja o esperado, pelo menos valeu a pena tentar.
- Eu te entrego a resposta amanhã. - dou uma pausa - Mas não fique esperançoso.
Ele abre a boca para dizer algo, mas viro às costas para ele e subo a escada do porão, e digo para ele fechar a porta e apagar as luzes.
•••
Rafael chamou Marcos para jantar conosco. Em todo o jantar, ele oferecia um pedaço de carne ou de batata para Jake, que comia vorazmente.
- O cachorro gostou de você. - diz Rafael a Marcos.
- Ele é um cachorro muito lindo. - diz Marcos antes de se dirigir a mim - Ele tem sorte de ter vocês como "pais".
Sorrio timidamente para ele e volto meu olhar para o copo de refrigerante.
Nós três conversamos sobre raças de cachorros até a hora de Marcos ir embora. Ele disse que gostou muito de passar esse momento com a gente. Perto da meia-noite, ele se despede e vai embora.
- Ele é um cara legal, mana. - diz Rafael, enquanto senta no sofá.
- Ele é. - digo - Foi o único que me acolheu como amiga no trabalho.
- Ah sim. - diz ele me observando enquanto levanto e me preparo para dormir - Boa noite, então.
Me levanto ou um beijo no topo da cabeça dele. Chamo Jake para subir comigo, e como sempre, ele me segue.

VOCÊ ESTÁ LENDO
dobra espacial
Science FictionQuando uma garota descobre como viajar entre dimensões temporais, através de uma máquina que pode dobrar o espaço-tempo, todo cuidado é pouco.