oito

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     Olho para o monitor. Sorrio. Com um gesto, chamo Marcos para ver a nossa conquista. Conseguimos retroceder vinte e quatro horas.

     — Não acredito que conseguimos. — diz Marcos passando a mão nos cabelos.

     — Precisamos trazer ele de volta. — digo.

     Admito que, apesar de estar muito animada, eu estava com medo. Até quando podemos retroceder? Podemos ir para o futuro? E quanto aos paradoxos? Eu realmente não sabia o que viria por aí, mas quero me colocar dentro dessa máquina.

     Marcos ajusta alguns controles ao meu lado para trazer o brinquedo de volta. Colocamos nossos óculos de proteção. O som agudo do propulsor recomeça. Jake, que estava ao nosso lado, corre para fora. Em milésimos, surge um clarão da máquina, e o brinquedo está de volta. Intacto. Olho o relógio que está preso ao brinquedo, e comparo com o meu. O ponteiro das horas corria rapidamente sobre o relógio, e após alguns segundos, ele parou.

— Como o tempo está passando aí?

     — Eistein estava certo novamente. — digo, olhando para o relógio do brinquedo, que agora estava parado.

     — Como assim?

     — O tempo é relativo. O propulsor de dobra fez o brinquedo viajar tão rápido, que o tempo à sua volta entrou em desaceleração a ponto de retroceder. — explico, ainda desacreditada com o que aconteceu. — Além de dobrar o espaço-tempo, podemos romper sua barreira.

     — E isso significa que podemos ir para o futuro. — completa Marcos.

     — Talvez. Andou estudando? — digo rindo.

     Ele balança a cabeça em sentido afirmativo, e sorrimos. Jake corre em nossa direção, e Marcos se abaixa para fazer um cafuné em sua cabeça.

     — Futuro. Quem diria. — diz Marcos, acariciando o cachorro, e aparentando estar extasiado com tudo que aconteceu nas últimas duas horas.

     — Pois é, mas ainda não tenho certeza. — digo olhando para a máquina. — O futuro é meio perigoso.

     Marcos revira os olhos.

     — Tudo o que fizemos até agora é perigoso, Raquel. — diz ele apontando para o propulsor.

     — Eu sei, mas...

     — Vamos nos preocupar em nos colocarmos naquela máquina amanhã. — Marcos interrompe — Depois vemos se o futuro é realmente viável, ou perigoso.

     Balanço a cabeça em sentido afirmativo, antes de me abaixar também para acariciar meu cachorro.

     — Estamos carregando uma grande responsabilidade, não é? — me pergunto, porém falando em voz alta.

     Marcos dá de ombros. Ele sempre foi assim, nunca ligou pra nada. Às vezes isso me irritava, mas agora é algo que dá medo. Viajar no tempo com uma pessoa irresponsável pode fazer com que muita coisa dê errado, porém ele foi o único que esteve ao meu lado e me apoiou, durante todo o meu estudo. Não me chamou de louca, diferente da maioria das outras pessoas.

     — Eu estou com uma fome pentadimensional, e você? — diz.

     Ri da piada boba de Marcos por uns longos segundos, e afirmei que eu também estava com fome.

     — Eu realmente andei estudando. — disse ele, entre risadas.

     — Vamos pedir uma pizza ou algo do tipo. — digo sorrindo.
    
     Quando coloquei o telefone no ouvido para pedir a pizza, ouvi uma voz do outro lado da linha. De início, parecia uma interferência "normal", mas quando pensei em reiniciar o telefone, percebi que já havia ouvido essa voz antes. Senti já ter dito ou ter vivido esse momento antes, apesar de nunca ter passado por esse momento. Me senti tonta, e quando joguei o telefone no chão, assustada, objetos metálicos e ferramentas voaram na direção do aparelho, formando um círculo à sua volta, com raio de alguns centímetros. Cambaleei, e Marcos me segurou, assustado.

     — Você está bem? — diz Marcos, apavorado enquanto me segurava.

     — O... telefone... ele... — digo, tremendo incontrolavelmente.

     — O que tem ele?! — indagou. — Quem era no telefone?

     Minha resposta fez meu amigo estremecer de medo, de tal maneira que ele ficou pálido instantaneamente:

     — Marcos, era eu!

    

    

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