dois

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Ao acordar, fiquei alguns minutos olhando para o teto mofado do meu quarto, pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo. Me obriguei a levantar da cama em um impulso e esfreguei os olhos com as mãos para afastar o sono. Vesti minha roupa de trabalho e desci as escadas.

O som seco dos meus pés descalços descendo as escadas fez meu irmão olhar por cima do ombro para mim.

- Bom dia. - disse ele sinalizando para eu me aproximar.

- Bom dia. - digo, antes de beijar seu rosto - Que cheiro bom.

- Obrigado. Achei que não gostasse do meu café.

Dou de ombros e me sento na bancada da cozinha. Sou obrigada a interromper o café após ver que estava atrasada. "Droga", disse eu de boca cheia enquanto me levantava e calçava minhas botas de couro. Peguei o capacete, despedi do meu irmão e me dirigi ao trabalho.

•••
Abri meu armário para pegar a jaqueta, e logo percebi que algo faltava, mas dei de ombros e me dirigi a porta dos fundos onde todos os entregadores saem e entram da lanchonete. Dei passos largos até minha moto até ouvir:

- Táquions? - disse uma voz conhecida.

Olho para trás e vejo que Marcos, meu colega de trabalho e amigo desde então. Ele estava com um monte de papéis meus, e lia em voz alta.

- "Partículas teóricas que excedem a velocidade da luz..." - continua ele.

- "Que, quando manipuladas permitem que o ser humano possa acessar o passado ou futuro". - completo. - Onde achou isso?

Retiro abruptamente os papéis das mãos dele e os dobro antes de enfiar no bolso da minha calça.

- Estavam em cima do seu armário. - disse ele. - Não sabia que gostava de ficção-científica.

- Não é ficção. - disse eu revirando os olhos - Escuta, deixa pra lá.

Guardo as entregas do dia no bagageiro da moto.

- Quer viajar no tempo? - disse Marcos entusiasmado.

- Não viaja, Marcos.

- Eu tenho uns contatos... - disse ele me olhando com seus olhos azuis - Pra fazer isso você precisa de fonte de energia.

- O que?

- De algo para resfriar a máquina, talvez.

- Marcos...

- E de ajuda.

Encarei ele tentando passar a mensagem "você está louco?". Mas ele continuou dizendo com entusiasmo que queria me ajudar. Ele disse que podia ser útil, pois era formado em engenharia mecânica.

- Você? Engenheiro? - digo me permitindo demonstrar interesse.

- Sim, podemos fazer isso.

- Marcos... - reviro os olhos - A gente está fala do de viajar no tempo ou até mesmo entre dimensões. É impossível. Só... deixa pra lá, é uma ideia estúpida.

Ele abre a boca pra falar algo, mas desiste ao ver que eu já montara em minha moto e já me preparara para partir. Ele deu de ombros e fez o mesmo.

  - Nunca tivemos essa conversa. - digo eu antes de colocar o capacete e sair.

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