Ok, eu te ajudo.

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Noah

_Então, Moaninha...- Estávamos andando a um tempo e desde que saímos não tínhamos conversado. Na realidade, eu não queria conversar. Do jeito que eu sou, é capaz que eu deixe escapar alguma coisa.- O que você estava fazendo quando colocou aquele "negócio" em baixo da mesa?- Ela me olhou assustada.

Eu até já tinha pego o bilhete durante o intervalo, mas eu queria ver a reação dela caso "outra pessoa" visse.

Moana estava nervosa e era até engraçado vê-la morder os lábios e hesitar em responder.

_Não era nada...-  Gesticulou.- Quer dizer...- Passou as mãos pelos pequenos cachos.- Se eu dissesse, provavelmente diria que é uma coisa muito doida.- Enfatizou o muito.

_Só direi o que penso se você disser.- Ela realmente vai falar?- Mas não precisa me falar agora, algum dia, quem sabe, você fala espontaneamente.- Dei de ombros.

Os ipês a nossa volta balançavam no ritmo do vento, trazendo uma sensação gostosa e um friozinho bom. Não deveríamos estar muito longe da casa dela.

_Mas e você?- Olhou pra mim.- O que estava fazendo me olhando enquanto fazia "aquele negócio"? -Fez aspas com a mão e riu.

_Estava observando sua beleza, minha cara.- Disse tentando ser cordial.

_Fico lisonjeada.- Riu entrando na brincadeira.- Aqui, chegamos.- Disse apontando para uma casa de altos e baixos. Ela pegou uma chave que estava em sua mochila e abriu a porta.- Vem.- Fez menção com a cabeça para que eu entrasse.

_Sua casa é muito bonita.- A sala era em conjunto da cozinha, com apenas um balcão separando-as. Tinha uma escada que eu supus que levava aos quartos, além de ter 2 cômodos com portas fechadas no andar de baixo.

_Valeu.- Disse subindo as escadas, ela parou e me olhou.- Espera aqui?- Afirmei.

_Só, me diz onde é o banheiro, por favor?- Rimos.

_Vem, por aqui.- A segui para o andar de cima.- Ali ó.- Apontou para última porta do corredor. Enquanto me dirigia a ele, vi ela entrar em um quarto todo iluminado e deixar a porta entreaberta.

Fui ao banheiro, fiz a minhas necessidades e lavei meu rosto. Saí do mesmo depois de um tempo e vi a faixa de luz do quarto. Andei devagar aproximando-me, assim que cheguei próximo a porta a abri devagar no intuito de não fazer nenhum barulho.

Moana estava de costas para a porta, estava sentada na cama de frente para a janela que iluminava todo o seu quarto amarelinho e iluminava seus pequenos cachos que estavam crescendo. Ela dedilhava alguns acordes no seu ukulele. Por um momento ela parou e pude jurar que escutei suspiros pesados vindo dela.

_Mo...ana?- Falei abrindo mais a porta. Ela olhou rapidamente para mim, passando as mãos no rosto.- Você estava chorando?- Chego perto dela e sento ao seu lado.

_É que...merda...- Riu entre as lágrimas que caíam em seu rosto.- Isso doí tanto. Eu sinto tanta falta do meu pai. Foi ele quem me deu.- Apontou para o instrumento em seu colo.- Foi ele quem me disse para ser quem eu realmente sou, para ser corajosa, mas... eu não sei se consigo.- Me olhou com seus olhinhos marejados. Em um impulso eu já tinha envolvido-a em meus braços, enquanto afagava seus cabelos.

_Eu sei que você consegue. Eu sei que você pode fazer tudo o que quiser. E eu sei que é muito doloroso perder as pessoas que a gente ama, mas as lições que elas nos passaram nos define quem somos. - Ela se agarrou ao meu peito e escutei ela chorar baixinho.

_Aí que ódio, eu tô chorando.- Disse irritada.

_Tudo bem, pode chorar. Eu deixo.- Sorrimos.

Ficamos assim por um tempo até que ela saí de meus braços. A mesma passa suas mãos no rosto tentando enxugar as lágrimas, quando termina ela me olha e dá um sorriso amarelo.

_Tô pronta.- Disse se levantando e pegando seu ukulele. - Vamos?- Afirmei.

[...]

_Posso te fazer uma pergunta? Se isso não te incomodar, é claro- Ela afirmou. Estávamos sentados lado a lado dentro de um ônibus, já que a minha casa era um pouco longe da mesma.- Você nunca quis saber o por quê do seu pai ter sido...

_Morto?- Completou. Seus olhos castanhos, agora iluminados pela luz do sol da tarde, estavam vidrados em mim.

_É, morto.- Falei ressentido.

_Sim, claro que sim. Mas é que, eu não sei, é como se a mínima coisa que eu descobrisse podesse me ajudar a superar tudo isso.- Virou para a janela.- Mesmo depois de tanto tempo.

_Mas você não tem medo do que vai descobrir?- Hesitei.

_Não.- Olhou-me.- Por mais absurdo que ele possa ter feito, eu nunca vou conseguir tirar da minha memória os nossos momentos, cada risada e como ele era comigo e com a minha mãe.- Deu de ombros.- Meu pai exalava amor, compaixão e principalmente, compreensão. Eu sei,- Balançou a cabeça na tentativa de espantar qualquer pensamento ruim.- Eu tenho certeza que o meu pai não tinha nada de errado. Eu o conheço.- Corrigiu- Eu o conhecia.- Virou-se novamente para a janela, observando as casas que passavam.

Ficamos em silêncio por um tempo, eu processava cada coisa que havia sido dita, e toda convicção que ela passava nas palavras dela. Bom se isso vai deixá-la feliz, porque não tentar?

_Ok, eu te ajudo.- Falei. Moana se virou se entender e então completei:- Se isso vai te ajudar a superar toda essa dor que tem aqui...- Apontei para o seu coração.- Então eu te ajudo a procurar, mesmo que seja a mínima coisa possível.

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