Prazer, Mônica!

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Moana

×6 anos depois×

Sempre fui uma menina quieta na escola, não tinha muito com quem conversar. Como criança eu precisava interagir, precisava me abrir com alguém.

Meus pais trabalhavam incansavelmente para pagar meus estudos e sempre retribui da melhor forma que eu pude.

Nós nunca fomos uma família rica, mas também não passávamos necessidade. Meu pai era gerente em uma sapataria, então sempre que podia trazia algum sapato ou algo similar para mim. Minha mãe era garçonete em uma cafeteria próxima de casa e aos finais de semana, passava e lavava algumas roupas da vizinhança.

Sempre que podia, eu ajudava a minha mãe levando algumas roupas já passadas para seus donos.

Era uma tarde ensolarada de domingo, estava com o meu cabelo solto pois tinha acabado de lava-lo. Estava debruçada na cama lendo um livro, quando minha mãe me chama, ou melhor, grita.

_MOANA!- gritou ela de algum lugar da casa.- VENHA CÁ!

Desci rapidamente mesmo a contra gosto.

_ Toma,- disse ela me entregando uma bacia de roupas limpinhas e passadas.- leve essas roupas para as casas 113 e 116, no final da rua.

_Deixe comigo!- disse ja calçando minhas sandálias.

Saí de casa e fui em direção as casas, a rua não estava tão movimentada do jeito que eu imaginava, tinha sempre algumas crianças brincando; grupo de jovens aqui ou ali, nada com o que se preocupar.

Tinha chegado nesse bairro a 6 anos então não era muito comum não me conhecerem.

Mas alguma coisa me incomodou, eu não sabia ao certo o que era. Fui nas respectivas casas e entreguei as roupas. Já na volta aproveitei que tinha um dinheiro, que eu sempre guardava em uma caixinha, para ver se tinha algo novo na livraria.

Estava escolhendo a revista que iria levar, quando escutei um grupo de meninas falando sobre algo em um tom bem baixinho. Eu como era uma criança curiosa, fiz o máximo de silêncio que pude para escutar.

_Você viu como era o cabelo dela?- falou uma moça ruiva, ela usava uma blusa branca por dentro de uma saia, que ia até os joelhos.

_De quem?- falou outra com os cabelo negros até os ombros, ela aparentava ser menor que a ruiva, ou fosse impressão minha.

_Daquela pretinha que passou aqui mais cedo com uma bacia de roupas.- falou uma loira de óculos, ela ja era mais alta que ambas as outras meninas.- Na minha opinião, eu não colocaria meus pés fora de casa com o cabelo que nem aquele.

_Concordo com você, Luisa!- falou a ruiva.- Ela deveria prendê-lo ou melhor alisa-lo.

_Aquele cabelo parece um bombril.- elas riram.- Dava para limpar uma casa com ele.- elas riram mais ainda.

Nesse momento percebi de quem falavam, comecei a me ver em um reflexo retorcido das prateleiras de alumínio. "O que tinha de errado com o meu cabelo?" Me perguntei enquanto o pegava e via os seus pequenos cachinhos.

Nem ao menos comprei a revista, saí correndo da loja, quando avistei ao longe uma vitrine com uma chapinha em promoção. Não pensei duas vezes e entrei para comprá-la.

Quando cheguei em casa, fui rapidamente para o meu quarto onde me tranquei. Abri a caixa onde continha a chapinha e logo a coloquei na tomada próxima a minha penteadeira. Me sentei no banquinho e me olhei no espelho.

_Isso é tudo culpa sua!- falava para mim mesma enquanto uma lágrima solitária caia em minha bochecha.

Peguei a chapinha ja quente e passei de qualquer jeito no meu cabelo. Enquanto isso, olhava os meus cachinhos que eu tanto amava se tornarem algo que eu desconhecia.

Quando terminei me olhei no espelho e nossa, o que houve comigo? Me sentia totalmente estranha, era como se tivesse perdido toda a minha luz. Pegava em meu cabelo equanto me debulhava em lágrimas.

Eu me senti sozinha, desolada. Quem sabe agora alguém não se torna meu amigo? Me perguntei tentando tirar o máximo de positividade de tudo aquilo.

Desci as escadas devagar e vi minha mãe encostada na pia, ja estava anoitecendo então presumi que meu pai estava prestes a chegar. Minha mãe, percebendo minha presença, se virou e me viu, corri até ela e a abracei bem forte. Compreendendo o que acontecia, tratou de me envolver em seu abraço, passando suas mãos em meu cabelo.

Com minha mãe não precisava palavras, só pelo olhar ela ja entendia o que acontecia. Sempre tentei manter uma boa relação com ambos. Eles eram meus amigos naquele momento e sempre estavam la para me apoiar e aconselhar.

No dia seguinte, já na escola, todos me olhavam e comentavam da minha mudança. Ao longe percebi um garoto, em uma rodinha de amigos, que me olhava.

_Ele é novo aqui,- falou alguém próximo a mim.- assim como eu.

Me deparei com uma menina bem clarinha com os cabelos castanhos até os ombros. Realmente ela era uma novata, pois ela estava falando comigo com uma naturalidade incrível.

_Prazer,- estendeu sua mão para um aperto.- Mônica!

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