Capítulo 02: Renata Martins

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RENATA MARTINS

Eu tenho muitos motivos para me considerar uma pessoa sortuda. E sei que muitas pessoas não entendem como uma garçonete, que trabalha para a própria família pode crer que seja uma pessoa afortunada. Mas, eu acreditava. E, o mais importante, eu realmente era.

Eu tinha a melhor família que alguém poderia ter. Meus pais. Pessoas maravilhosas. Verdadeiros exemplos de persistência. E a amor. Apesar das dificuldades que enfrentamos, eles sempre estavam juntos. E, sempre deram o máximo para que eu e meu irmão tivéssemos tudo o que precisávamos. Faziam de tudo por mim e por Ricardo.

Meu irmão era uma das pessoas que eu mais amava na minha vida apesar de brigarmos constantemente por eu não concordar com suas atitudes. Mas, eu faria qualquer coisa por ele. Assim como eu sei que ele faria qualquer coisa por mim.

E tinha também meus amigos. Pedro e Cecília, especialmente. Não importa o que acontecia, estávamos sempre juntos. Agradeço muito a Pedro. Se não fosse por ele, eu poderia ser a novata excluída do 5º período. Mas, felizmente, ele foi o primeiro a se aproximar de mim e do meu irmão, quando nos mudamos. E, não existia pessoa melhor para que eu considerasse um grande amigo.

Ainda consigo me lembrar de quando eu, meus pais e meu irmão saímos de Coppyn, há seis anos, e viemos para Traunge, para morarmos em uma casa que meu pai herdou dos meus avós. Uma casa grande. Bonita. E bem conservada.

Não conhecíamos ninguém. Mas, mesmo sem saber os gostos por lanches das pessoas da região, meus pais não deixaram de lado o sonho de abrir uma lanchonete. Demorou um pouco. Especificamente um ano e nove meses desde que chegamos à cidade.

Eles trabalharam firme. Planejaram cada detalhe. Fizeram pesquisas. Testaram e criaram todos os tipos de lanche. Até que finalmente abriu a lanchonete. E deu certo. Porque a Estrelas Naturais (nome em homenagem ao time de coração da nossa família, o Estrelas Azuis) era o estabelecimento mais frequentado da região.

Meus pais batalharam muito. E lutam sempre para manter seus clientes. Porque, aquele estabelecimento era o sustento de nossa família. Era dela que tirávamos o dinheiro para bancar tudo o que tínhamos. Eu tinha muito orgulho de ter pessoas como Roberto e Clarice como meus progenitores. E eu queria seguir os seus passos. Ou, pelo menos continuar com o que eles construíram.

Por isso, e por tudo que eles sempre fizeram, eu não reclamava de ajudá-los na lanchonete de nossa família. Porque, um dia, tudo aquilo seria meu e do meu irmão. Mesmo que tivéssemos outros sonhos pelo caminho.

Ricardo, por outro lado, não parecia ter os mesmos pensamentos que eu. Enquanto eu trabalhava todos os dias atendendo os clientes, ele passava a maior parte do tempo dentro de casa, tocando alguma música em sua guitarra. Guitarra essa comprada com o dinheiro lucrado na lanchonete.

Meus pais não falavam nada. Não reclamava. Muito menos pedia para que meu irmão deixasse seu instrumento de lado. Pelo menos, não mais. Talvez, eles nem soubessem. Afinal, passavam a maior parte do tempo dentro da cozinha. E eu não era a irmã fofoqueira que entregava o irmão por qualquer besteira que ele fizesse. Mesmo que a vontade fosse grande.

Entretanto, o fato mais importante era que eu não me importava em ficar andando de mesa em mesa. Anotando pedidos. Ou com bandejas de lanche. Porque eu sabia que qualquer esforço era válido quando o retorno era bom.

A Lanchonete Estrelas Naturais não estava lotada. Mas, bastante movimentada. Afinal, era sábado. E, todos os sábados eram a mesma coisa. Além disso, eu estava sozinha. Quero dizer, não totalmente.

Meus pais estavam na cozinha com Felipe e Danielle, seus ajudantes. Gabrielle estava no balcão e no caixa. Cesar estava preparando os equipamentos de som no pequeno palco do estabelecimento. Karol não estava se sentindo muito bem, por isso, precisou faltar.

Sonhos Possíveis [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora