Capítulo 18: Renata Martins

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RENATA MARTINS

Aproveitei que a lanchonete não estava muito movimentada para ir até a Papelaria Sonhos e Cores para comprar algumas canetas e blocos de notas, que estava precisando na lanchonete.  Foi bem rápido. O dono do lugar, senhor Alberto, havia deixado separado. Eu só precisava pegar e pagar.

Quando entrei de volta na lanchonete, encontrei Pedro e Cecília abraçados. Como ela conseguia abraçar Pedro com Ricardo bem ao seu lado. Será que ela era sonsoca o suficiente para não perceber o quanto meu irmão gosta dela e que ficava bem incomodado quando os dois trocavam formas de afeto? Ou ela estava mesmo querendo brincar com os eles?

Os dois se soltaram. E ela contava algo para Pedro com animação. Ela sentou em uma das banquetas. Pedro também tinha um sorriso no rosto. Pequeno. Porém, seu olhar foi para a minha direção. E, qualquer sombra de que ele estava feliz sumiu por completo. Ele voltou a olhar para Cecília e se levantou.

Eu sentia muita falta do meu amigo. Mas, agradecia por ele não aparecer na escola nos últimos dias. Assim, eu não me sentia tão mal como me senti ao perceber que a minha presença acabava com sua animação. Ah, como eu queria arrancar cada fio de cabelo loiro tingido de Fernanda.

Pedro e Cecília trocaram mais um abraço. Ele se despediu do meu irmão, tocando seu ombro, e saiu. Mas, pela porta lateral, que podia levar tanto para as escadas da minha casa, quanto para a rua.

Passei por Cecília e Ricardo, tentando manter uma expressão indiferente e fria. Se era difícil manter essa máscara para Pedro, com Ricardo era quase impossível. Afinal, passávamos a maior parte do tempo juntos.

Oye ermya! — Ricardo falou. Parei para escutar, mesmo sem me virar para eles — Fiquei sabendo que John Kerry veio aqui, conversar com você.

Ah, Gabrielle! Sua fofoqueira.

— É! — disse, o mais fria possível — Graças a vocês, ele não sai do meu pé.

Entrei na cozinha. Fiquei próximo a porta, aguardado os dois saírem. Sabia que eles se encontrariam com Kamilly Kessyly no hotel que ela estava hospedada (ouvi, sem querer a conversa entre eles na escola). Cecília deveria está bem feliz. E, apesar de não demonstrar, também estava feliz por ela. E queria muito que ela realizasse o seu sonho. Quem sabe assim Fernanda pararia de dizer que Cecília tinha voz de gralha engasgada.

Assim que os dois saíram da lanchonete, rindo de alguma coisa que eu não fazia ideia do que poderia ser, eu voltei ao balcão. Além de mim, Gabrielle, que estava no caixa, e o pessoal da cozinha, a lanchonete estava vazia. Joanne estava fazendo alguma entrega.

Peguei dois kuckteau, com recheio de morango, e um copo de suco para fazer um lanchinho. Sentei em uma das banquetas. E, só quando estava sentada, percebi que era a mesma que Pedro estava antes.

— Você não precisava tratar seu irmão e sua amiga com tanta frieza.  — Gabrielle reclamou — Por que você não aceitar a ajuda dos seus amigos?

— Por que eu não tenho talento. Eu já falei.

Será que ninguém entendia? Estava cansada de repetir para todo mundo que meu sonho simplesmente era impossível de ser realizado porque me faltava o mais importante. O talento. O dom de atuar. E, mesmo que eu estude minha vida inteira, não vai acontecer. Porque talento ou nascemos com ele, ou não temos.

— Não. Não é isso. Eu te conheço. E você me conhece. Pode falar comigo a verdade.

Gabrielle, por favor, cale a boca antes que eu comece a falar o que eu não devo.

Sonhos Possíveis [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora