Capítulo 13: Cecília Britto

65 29 49
                                    

CECÍLIA BRITTO

Eu conheço Renata desde meus dez anos. Mas, eu nunca vi ela tão irritada. E, pior, ela estava irritada com Pedro. Quando, em minha vida, eu imaginei ver esses dois brigando? Nunca. Os dois eram tão grudados, que eu duvidava que eles brigassem.

Sempre acreditei que eles eram daqueles casais (mesmo que não assumisse) que tinham pequenas discussões, mas que se entendiam rapidamente. E nunca deixariam chegar à situação que chegou. E, qual o motivo para que Renata ficasse tão irritada? Porque Pedro estava ajudando ela a realizar o seu sonho.

Eu não conseguia entender o que havia acontecido. De verdade, o que deu em Renata para ficar com tanta raiva? Será que ela não percebia que Pedro queria ajudar? E que ele gostava tanto dela que era capaz de qualquer coisa só para ver ela feliz?

A não ser que o diretor ofendeu minha amiga. Ah, que raiva de mim mesma! Eu podia ter me esforçado mais para fazer o roteiro. Algo mais elaborado. Que exigisse mais de Renata e ela mostraria seu talento. Um texto mais romântico (por que eu não tive essa ideia antes? Eu poderia ter escrito que ela e Pedro formassem um casal. Quem sabe ajudaria eles a ficar juntos?).

Mas, Pedro contou que Henry Kerry e o filho dele, John Kerry (Renata conversou com o astro do cinema John Kerry. Como ela poderia ficar irritada? Ele era um pavão. Ok, Ricardo era mais. Mas, mesmo assim) haviam elogiado a performance dela.

E, para piorar, quase que Ricardo e Pedro brigaram (no soco, porque, com palavras, eles brigaram). Será que esses dois não percebiam que tínhamos que ficar unidos, para ajudar Renata? No fundo, eles eram duas crianças. Bem que dizem que as meninas amadurecem mais rápido.

Porém, eu tive que voltar para casa. Minha mãe, como sempre! Ricardo se ofereceu para me acompanhar até a minha casa. E, se ele não tivesse se oferecido, eu chamaria ele ou Pedro para vir comigo. Não confiava nos dois juntos no mesmo ambiente.

Passei o resto da manhã fazendo tratamentos nos meus cabelos com os produtos da minha mãe. Segundo ela, eu tinha que está com meus cabelos brilhando, como as estrelas da música. E assim, Kamilly podia perceber que eu me cuidava para ter uma boa aparência para meus futuros fãs.

Minha mãe estava alucinando. Mas, confesso que gostei do tratamento que ela fez em meus cabelos. Depois de tirar todos os produtos e secar meus fios castanhos, vi o resultado. Eles estavam brilhando. E mais sedoso. Sem contar no cheiro bom que os cremes tinham. Vantagens de ter uma mãe cabeleireira.

Depois do almoço, deitei no sofá da sala. Fiquei mexendo no celular, trocando mensagens com Ricardo. Segundo ele, Renata ainda estava irritada. Com todo mundo. O que era muito estranho. Aconteceu alguma coisa, que ela não quer nos falar, para ela ficar tão zangada.

Renata era minha amiga. Minha melhor amiga. Éramos tão unidas e nos dávamos tão bem que eu nunca me importei em perder o cargo de melhor amiga de Pedro para ela. Ela me ajudou tanto. Me apoiou em momentos difíceis. Comemorou comigo por minhas conquistas, mesmo que fossem pequenas, e que, aos olhos dos outros, insignificantes.

Ela me ajudou. E estava na hora de eu retribuir. De fazer entender que nós três não tínhamos a intenção de não nos importar com o que ela queria. Porque, todos nós sabíamos que, apesar da boca dela dizer que não tinha sonhos, seu coração pertencia aos palcos. As telas de cinema.

— Finalmente, aquele seu amigo fez alguma coisa para te ajudar. — minha mãe falou, entrando na sala.

Desde que Kamilly apareceu, minha mãe repedia a mesma coisa. Parecia um CD arranhado. Ou melhor, um papagaio que só aprendeu uma frase durante toda a vida.

Sonhos Possíveis [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora