RENATA MARTINS
Estava sentada em uma das banquetas da lanchonete, com o cotovelo apoiado no balcão e a palma da mão em meu rosto. Não tinha decidido nada em relação a Pedro. Nem sabia se ele ainda estava em Traunge ou se ele havia ido para Corellias. Nem a escola ele estava frequentando. E, mesmo sem querer, ouvia todos falando sobre ele e a oportunidade que ele havia ganhado.
Desde minha conversa com Gabrielle, há dois dias, eu tenho estado muito distraída. Tão distraída que nem percebi que chegaram mais clientes. E que era ela. Antes de olhar, reconheci a voz chata de Fernanda. E, ao virar a cabeça na direção dela, vi que não estava sozinha. Mas, acompanhada de John Kerry. Como eu imaginava, eles se conheciam. E Henry convidou ela para um de seus filmes.
— Ah, John! Tantos lugares bons na cidade. Tantas lanchonetes conceituadas. Restaurantes incríveis. Bons cafés. Tinhas que vir logo nessa lanchonete? — falou a menina. Eu desviei o rosto deles.
Ah, mas que vontade de jogar uma jarra de suco na cabeça dela e enfiar um sanduiche inteiro dentro daquela boca. Quem sabe assim, ela pararia de falar tanta asneira.
— Gostei dos lanches daqui. — John respondeu.
— E eu gosto dessa humildade sua. Garçonete, venha até aqui! — chamou a menina.
Olhei ao redor da lanchonete, procurando por meu irmão (que deveria estar com Cecília) ou Joanne (que deveria está fazendo alguma entrega). Eu estava sozinha. Era a única. Olhei para Gabrielle, pedindo socorro. Ela balançou a cabeça, sabendo que não poderia me ajudar.
Respirei profundamente algumas vezes antes de me levantar. Ela não dizia que a lanchonete era precária? Que o atendimento era de quinta? Então, o que ela fazia, sentada em uma das mesas? Só saberia se eu fosse até lá. E foi o que eu fiz. Peguei o bloquinho e uma caneta dentro do bolso do avental e fui até eles.
— Boa tarde. Já sabem o que vão pedir? — perguntei, sem exibir o sorriso garçonete.
— Como você está, Renata? — John perguntou, com um sorriso sincero, e não o do Lucky Smith.
— Bem. — respondi simplesmente.
Tentei esboçar um pequeno sorriso para ele. John não era culpado por eu está irritado com a acompanhante dele. Acho, de verdade, que o verdadeiro John Kerry, não aquele personagem galanteador, era uma pessoa legal.
— Então, já sabem o que vão pedir? — perguntei, tirando o sorriso do rosto.
— Você não acha que, com essa cara, vai espantar todos os clientes? — perguntou Fernanda — Apesar de que você própria espanta todo mundo.
Fernanda apoiou o cotovelo na mesa. Fez apenas com um propósito. Exibir a pulseira em seu pulso. A minha pulseira. Que Pedro me deu. Ah, que vontade que eu estava de arrancar a pulseira dela a força. Mas, só provocaria um escândalo. E prejudicaria a lanchonete.
John abaixou a cabeça, balançando ela. Podia ser apenas impressão, mas ele reprovava a atitude de Fernanda.
— Assim está melhor? — perguntei, com um sorriso forçado.
— Não está ótimo, mas, melhorou um pouco. — ela passou a mão por seus cabelos tingidos — Não sabe nem fingir que está feliz. Quem dirá ser uma boa atriz. — mais chata do que a voz dela normal era a voz irônica — Vamos querer dois Sanduiches Nateri. — ela falou como se tivesse com nojo — E dois sucos de abacaxi, que é o nosso preferido, não é, Jon querido?
Ela falava em uma tentativa falha de ser meiga, piscando seus olhos e inclinando na direção de John. Não sei se ele percebeu, pois continuava de cabeça baixa. Ele apenas assentiu com a cabeça. Não parecia nem um décimo animado em conversar com Fernanda como ele estava quando conversou comigo na segunda feira.
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Sonhos Possíveis [Concluído]
Fiksi RemajaQuatro amigos diferentes. Quatro sonhos distintos. Quatro caminhos que podem se cruzar no futuro. Renata, Cecília, Pedro e Ricardo são amigos, com características próprias, mas que compõem uma amizade forte e verdadeira construída ao longo dos ano...