ERROR | Beauany

Level 2

Josh

Foi necessário três batidas fortes para que o porta malas da van utilitária de meu pai se fechasse. Lembrava bem a empolgação dele e de minha mãe quando conseguiram o veículo por metade do preço. Mamãe estava grávida de oito meses da pequena Sadie e tinha certaza de que uma van ajudaria. O problema é que o carro era sucata pura e levava vinte minutos para conseguir ligar o motor. Para nossa sorte, era o único veículo disponível para levar Noah e eu ao aeroporto.

- Vocês vão ficar bem? - Mamãe pergunta, se aproximando de mim.

Madeline Beauchamp sempre será a mulher mais bonita do mundo para mim. Seus olhos eram azuis que traziam uma remota parte do mar. Seu rosto era esbelto e não possuía nenhuma linha de expressão ou marcas de velhice. Mesmo com um semblante mais cansado e seu lenço azul na cabeça necessário devido a ausência de cabelo causado pela quimioterapia, sua essência não fora perdida.

- Vamos sim. - Esboço um sorriso e tento manter a positividade. - Noah é uma criança, mas eu posso cuidar dele.

Brinquei. A nossa direita, Noah corria feito louco atrás de Sadie, que insistia todas as vezes que ele vinha para que ambos brincassem de pique-pega. Antes dela nascer, eu nunca havia conhecido uma criança com tanta disposição e energia. Sadie havia puxado tudo de meu pai, principalmente o lado eufórico. Parecia que sempre estava ligada na tomada e não parava de brincar até que o sono a rendesse. Era por isso que adorava a presença de Noah. Ele sempre estava disposto a aceitar suas brincadeiras e parecia que compartilhavam a mesma mentalidade.

Mamãe assente e logo após, Sadie desiste de Noah e corre em nossa direção. Pelo semblante da pequena loira dos olhos castanhos, havia se cansado de ser pega toda hora.

- Mamãe, o Josh pode trazer a estátua da liberdade para eu ver? - Ela pergunta, retirando o capuz de seu pijama de onça da cabeça.

Não contenho a risada.

- A estátua não, mas que tal um chapéu? - Mamãe passa os dedos sobre os cabelos desgrenhados de Sadie.

- Parece ótimo! - Exclama, vindo mais para o meu lado.

- Josh, você também pode trazer uma namorada. Brincar de pega-pega só com o Noah é chato. - Minha expressão se abre em surpresa e divertimento. - Não conta para ele, mas ele parece um avestruz correndo!

- Ei! Eu ouvi isso. - Meu amigo vem em nossa direção com uma cara de indignação. - Que ingratidão.

- Não disse nada, vocês disseram? - Sadie assopra no ar fingindo assoviar, arrancando uma risada de todos.

- Concordo com ela. Você precisa de uma namorada, cara. - Noah deposita dois tapinhas em meus ombros, fazendo minhas pupilas revirarem. - Imagina só? Josh namorando uma Nova Iorquina.

- Me erra. - Respiro fundo, um pouco incômodado com a brincadeira.

- Está na hora de vocês dois irem. - Papai que antes tentava fazer o motor da van funcionar, declara com um pequeno sorriso de vitória.

Noah sussurra rapidamente alguma coisa nos ouvidos de Sadie que a faz pular de alegria. Faço uma nota mental para perguntar o que era depois. Ao meu lado, estendo os braços para abraçar minha mãe.

- Se cuidem. - Falo. - Qualquer coisa ou emergência, me avisem que voltarei imediatamente.

- Não se preocupe conosco. - Ela se afasta, segurando minhas mãos. - Divirta-se filho.

Aceno com a cabeça em afirmação, me virando para Sadie.

- E você mocinha, se comporte. - Digo em um tom mais sério. - Nada de dar trabalho para a mamãe e papai.

- Pode deixar, e não esquece meu chapéu! - Ela da um pulo de animação e abraça minha perna, me fazendo sorrir mais largo.

Atrás de mim, escuto a buzina sendo tocada. Me viro para enxergar Noah fazendo uma dancinha bizonha de dentro da van e meu pai cantando alguma porcaria que tocava no rádio do carro. Abro a porta da frente e logo me acomodo do banco do passageiro. Enfio a cabeça para fora do vidro e aceno para as duas mulheres da minha vida pela última vez.

Enquanto o carro anda com seu barulho irritante de motor roncando e Noah cantando, sorrio comigo mesmo.

Nova Iorque, aí vamos nós.