Level 23

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Algumas horas antes...

17:37

Josh

Vazio.

A sensação de nada. Nem um pingo de tristeza, pânico ou desespero correndo pelo meu sangue que parece tão frio quanto o mundo ao meu redor. Apenas o inexistente, nenhum sentimento avassalador. Caso alguém me abordasse e perguntasse o que senti nessas últimas semanas, apenas diria isso. Vazio. E só me dou conta de que esse nada se transformara em um grande abismo em meu peito, quando a imagem de minha mãe bate em minha mente centenas de vezes, trazendo-me completo terror.

Encaro a porta cinza que dividia o corredor de espera do setor de emergência do hospital. Nesse exato momento, completa-se quatro horas em que estou nesse lugar, apenas esperando por qualquer notícia que fosse de minha mãe. O desespero está correndo meu peito, fazendo com a respiração se torne complicada para ser bem executada em meu interior. Quando saíram as pressas com seu corpo debilitado e desmaiado dentro daquela ambulância, senti como se parte de mim tivesse ido junto. Toda a pouca sanidade que me restava, já não existe mais.

Culpa minha. Culpa minha. Culpa minha.

Sinto meus olhos já inchados arderem com a ameaça de mais lágrimas prontas para caírem pelo meu rosto, sem nenhuma piedade de meu físico completamente acabado. A cada movimentação dos ponteiros do relógio velho na parede próxima, minha última conversa com minha mãe se torna uma facada dentro de mim. Repassada várias e várias vezes, sempre da mesma forma.

Eu sou um monstro.

Eu causei isso. Eu insisti em debater com ela mesmo sabendo que seu estado não estava sólido para algo assim. Cada vez que a lembrança de seu corpo desacordado retorna a minha mente, praguejo-me de todas as formas possíveis. Eu podia estar em seu lugar. Eu mereço estar, ela não. Sou uma pessoa ruim e ela, uma mulher incrível.

Culpa minha. Culpa minha. Culpa minha.

Me sento pela centésima vez no banco estofado grudado na parede branca, certo de que minha estabilidade havia ido embora mais uma vez. Minhas pernas e braços tremem e o choro despertado pela dor dentro de mim me atinge, ardendo cada vez mais a extensão de meus olhos. Eu sou culpado por isso. Fui extremamente egoísta e por causa disso, tudo fora arrancado de mim. Minha mãe sabia, sabia sobre a fuga de Gabe e não contou, mas isso já não é mais importante. Todo o rancor e indignação fora embora para dar espaço a súplica, a imploração pela única coisa que importa no momento. A vida de Madeline Beauchamp.

Me sinto ainda pior por não poder dizer isso a ela. Por só ter enxergado que nenhuma raiva importa num momento como esse depois de algo tão desesperador ter ocorrido bem na minha frente. Irei me odiar para sempre por não ter percebido que acima de tudo, estar próximo de quem amamos é o essencial, o correto. Eu devia tê-la apoiado, aceitado ouvir... mas

Me tornei alguém amargurado.

— Ei. — O timbre invade minha audição e seco rapidamente as gotas espalhadas por meu rosto com a manga do casaco, encarando o homem à minha frente. — Trouxe água para você.

Sua mão se estende frente a mim e noto o líquido retido no copo de plástico, o que parece atrativo para minha garganta seca. Alcanço o objeto e o seguro, bebericando a água com pouca vontade.

— Alguma novidade? — Meu pai pergunta e eu faço que não, tornando sua expressão ainda mais abalada.

A primeira coisa que fiz quando recobrei meus sentidos, desesperado para encontrar alguém que ficasse com Sadie, foi ligar para ele. E então, quando seu carro estacionou na frente de casa e a palidez dominava seu rosto, eu contei. Revelei como fui um escroto do caralho e merecia estar no lugar dela. Disse com todas as palavras, que a culpa é minha. Mesmo tentando parecer acolhedor, consegui enxergar um pingo de ressentimento nos olhos do homem, pois afinal, é a mulher que ele ama correndo risco de perder a vida por minha culpa.

ERROR | BeauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora