"Mesmo se eu fechar meus olhos
você ainda brilha tão claramente,
eu acho que é amor..."(긴 꿈에서 In Long a Dream, CHEEZE)
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03 de abril de 2020, 22:35 p.m.
O ar se impregna nos meus cabelos, perfumando-o em tons de azul, como se eu dançasse à beira-mar ou a mínimos passos do infinito. Da sacada, consigo ver o movimento frenético do tráfego, pontinhos brilhantes que voam de um lado para o outro como flashes, as lâmpadas dos outdoors piscam em centenas de cores diferentes no mesmo minuto, fazendo com que eu me pergunte se é possível realmente observar o céu quando tantas outras coisas desviam nossa atenção. As palmas das minhas mãos esquentam por conta da xícara de chá; repito todo o processo já memorizado de sentir o gosto doce enquanto fecho os olhos e encolho os dedos dos pés apoiados na beirada da cadeira, que comprei uns anos atrás para compor a pequena varanda. O silêncio é sobreposto pelo ritmo caótico da cidade, mas há uma calmaria branda suspensa no oxigênio, tão palpável que, caso eu estenda o braço, poderia vê-la escorrer pelos meus dedos.
Apesar de singela, a brisa é fria contra os meus ombros, mas a camisola que uso é comprida o suficiente para cobrir os meus tornozelos desnudos de meias furta-cor. Meus olhos percorrem uma linha finita pelo horizonte, observando o prédio em frente, todas as janelas em que as luzes são ligadas e desligadas em uma fração de segundos. No quinto andar, um casal arma um telescópio ao mesmo tempo em que rearranjam banquinhos, encarando-se sorrindo, e não consigo evitar o pensamento de que também assistiram ao noticiário, como eu fui obrigada a fazer poucas horas atrás.
Desvio a atenção para o céu noturno e estrelado acima de nós, embora seja possível perceber que a camada suave de cinza da metrópole não o abandone jamais, e as velas aromáticas sorteadas sobre a pequena mesinha ricocheteiam uma fragrância costumeira nos meus pulmões quando o vento sopra um pouco mais forte, um cheiro que se mistura ao perfume que se esgueira pelos cantos do apartamento, o único que eu reconheceria mesmo a milhares de distância entre um ponto e outro.
É a confirmação vaga de que sua presença diferencia notoriamente qualquer ambiente, que deixa de serem os mesmos quando ele está presente, uma ruptura sobre o que era antes e o que se tornou depois; sei que Jungkook está aqui sem nem mesmo ter uma confirmação verídica, porque há tanto dele nas paredes, nas cortinas, no par de brincos esquecidos na gaveta do criado-mudo, nas roupas largas misturadas com as minhas no armário, em tudo. Essa é a melhor forma de tê-lo, porque tenho certeza de que sempre volta, não importa quanto tempo demore para retornar.
Jungkook leva um tempo até se tornar visível aos meus olhos, sinto-o passear pela sala até parar de frente para mim, com as costas escoradas no peitoril da sacada. Seus cabelos esvoaçam para todos lados, a pele dos ombros recém-saída do banho está arrepiada, as mãos desenhadas estão escondidas nos bolsos do calção, os lábios de tangerina formam a linha de um sorriso. Um metro e setenta e nove de constelações cheias e salpicadas, de pouquíssimas chegadas e sentimentos não verbalizados que beiram os passos do infinito. É assim que acontece?, eu me pergunto. O amor nos marca, sem aviso, a ferro quente, nada mais parece assustador e o destino soa apenas como uma enorme possibilidade?
Ponho os pés descalços no chão, esticando-me até a mesinha para deixar a xícara vazia de lado, e fico de pé, o tecido como da camisola beijando a metade das minhas panturrilhas, contando cinco passos de distância entre mim, ele e o telescópio montado. Jungkook parece cansado, as linhas exaustas do seu rosto estão ainda mais visíveis, mas sinto seu esforço para que seus problemas externos não nos alcance aqui, dentro deste pequeno universo que havíamos criado para nós, para fingir sermos inquebráveis, embora os estilhaços do vidro frágil que somos esteja esparramando-se no chão um pouco mais a cada partida.
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Quando nos Vênus, juro a Marte.
Fanfiction"É que eu gostaria de deixar essa cidade e ir para algum lugar no qual só eu e você soubéssemos como chegar, mas este meio mundo de distância, apesar do peso, faz meu coração sorrir. E embora, talvez, eu sinta esta falta para sempre, de uma forma qu...