7. florescer

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#EUTROUXEAMELANCIA 🍉

Sentado no pequeno deque de madeira com os pés mergulhados na água fresca do lago, eu sentia o sol queimar a minha pele sem me lembrar de qual fora a última vez em que havia passado protetor solar. Nos últimos dias, eram poucos os minutos que eu tinha pra mim mesmo, então eu gastava qualquer tempinho sozinho pra surtar internamente por tudo que estava acontecendo.

Jimin e eu tínhamos oficialmente três dias até a apresentação, que seria em Daegu, a metrópole mais próxima do Naksansa. Aparentemente, a Universidade Nacional de Seul fazia audições em quase todas as grandes cidades do país em busca dos melhores talentos da Coreia do Sul — e eu tinha certeza de que Jimin se encaixava nesse perfil. Só não tinha certeza de que eu me apresentar junto dele era uma boa ideia.

Nesses momentos sozinho, eu pensava muito sobre a audição, no meu medo de errar em alguma coisa e colocar todo o futuro de Jimin em risco. Eu sempre tive uma vida privilegiada, então não sabia como era ter apenas uma chance pra fazer tudo dar certo. Pro dançarino, era a brecha que ele precisava pra poder se especializar no que ele amava. Eu me sentia como se estivesse correndo de olhos vendados com um cristal muito precioso em mãos. Eu não podia, de jeito nenhum, derrubar esse cristal. Não teria conserto.

Ouvi uma gargalhada muito familiar à distância e franzi a testa, confuso. O deque onde eu estava ficava em uma das margens do lago escondida pela floresta densa, então imaginei que não teria nenhuma companhia ali — estava errado. O barulho de pegadas nas folhas secas do pequeno caminho pelas árvores ficava cada vez mais próximo e, sem ter a mínima vontade de conversar com ninguém, corri até o aglomerado de árvores do lado oposto do som.

— Ai Gun, você é impossível!

Me escondi no maior tronco que encontrei daquele lado e estava me preparando pra ir embora silenciosamente quando me toquei do porquê aquela voz ser tão familiar: era Jeongsoon de braço dado com Gun, o maior otário do século.

— Oh, Jeongsoon-ssi, assim eu fico sem-graça — ele respondeu, numa tentativa de ser galanteador. Odiei ver minha irmã o encarar como se ele fosse a pessoa mais interessante do mundo, de braços cruzados com ele. Meu sangue ferveu no mesmo instante e o que eu mais queria era ir lá dar um murro na cara idiota dele.

— Sem-graça nada, eu sei muito bem o que você quer... — meus olhos se arregalaram em puro horror ao ver minha irmã aproximar o rosto do garçom, tentando roubar um beijo dele. Fechei as mãos em punhos não apertados que senti as marcas das minhas unhas nas palmas suadas.

Os lábios dos dois se encostaram por poucos segundos, mas o beijo foi logo encerrado por Gun, que se afastou:

— Jeongsoonie, melhor não... Devemos falar com o seu pai primeiro — falou. Ele parecia um jovem dos anos 50 com todo aquele papo de esperar; mais um ato pro seu personagem de bom-moço. Fiquei com mais raiva ainda daquele idiota, se é que era possível.

— Me poupe, eu não sou uma mocinha indefesa — replicou minha irmã, parecendo irritada.

— Não fica brava comigo... — ele começou, colocando uma de suas mãos na cintura de Jeongsoon e a outra em seu rosto, acariciando sua bochecha. — Eu te respeito muito, sabia? Não quero que você pense que isso não significa nada pra mim. Quero fazer tudo certo, falar com o seu pai, jantar com a sua família... — beijou a testa dela.

Podem chamar a academia de artes, esse daí merece um Oscar de melhor falso ator.

— Ai, Gun, você é perfeito — ouvi a voz derretida de Jeongsoon e decidi que não aguentava mais. Eu precisava acabar com aquilo o quanto antes!

ritmo quente • jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora