2. primeira dança

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Gostaria de dizer que não fiquei pensando no loiro baixinho líder dos dançarinos pelo resto daquele dia e o seguinte, mas a quem quero enganar? É claro que fiquei. Inclusive acho que fez parte de um mecanismo de defesa interno meu pra que não pensasse sobre o jantar com Chaewon, mais próximo a cada hora.

Eu pensei em desistir umas dez vezes, em duas peguei o telefone e quase disquei o número da recepção, mas no final das contas não consegui. Me sentia mal por desmarcar com a garota, pois ela até agora foi muito legal comigo e eu até queria retribuir o sentimento, mas... Eu não sentia o mesmo.

Quando o relógio bateu o horário do tal jantar especial de início de verão, eu, minha família e Chaewon já estávamos devidamente sentados em nossa mesa — muito bem localizada, diga-se de passagem, com uma bela visão do palco e da pista de dança — ouvindo a banda tocar os melhores hits dos anos sessenta e observando alguns casais de baby boomers coreanos dançando.

A recepcionista conversava animadamente com todos, falando sobre suas aulas na universidade de hotelaria, dos seus restaurantes preferidos de Seul e das melhores marcas de roupas francesas. Eu juro que tentei, mas não fui capaz de prestar atenção em quase nada do que ela dizia; nenhum dos assuntos me interessavam e eu não estava a fim de fingir.

Depois que os pratos do jantar foram recolhidos, as músicas tocadas pela banda começaram a ficar mais animadas (mas nem um pouco mais atuais. Não reclamei, porque até que eu gosto bastante de ABBA). A pista de dança começou a ficar mais cheia, e coincidentemente Chaewon também achou que era um ótimo momento para me convidar a dançar,

Se tem uma coisa que definitivamente não está inclusa na lista de "coisas que Jeon Jeongguk é capaz de fazer sem causar a histeria local de todos no recinto" é dançar. Sei que minha coordenação motora é até que ok porque sou razoável na maioria dos esportes que tentei e não sou desastrado. O problema é meu senso de ritmo — ou a falta dele, pra ser mais sincero.

Pra mim é quase impossível seguir uma sequência de passos e eu não faço ideia de como me mover, por isso fico meio travado no meio do salão, olhando pra Chaewon. Acho que ela percebeu minha relutância, porque logo pousou uma das mãos em meu ombro esquerdo, colocou minha mão canhota em sua cintura e começou a se mover de um lado para o outro, tentando acompanhar a batida da música. Eu só aceitei a liderança dela e me mexi junto, mais desengonçado que boneco inflável de posto. Acho que Chaewon devia estar rachando o bico de mim por dentro e eu a entendo completamente, porque se fosse o contrário eu também estaria.

Continuamos dançando bem desajeitados (por minha culpa, claro) e quando a música acabou, eu achei que a tortura havia acabado também. Pois é, achei errado! A moça continuou me rebocando junto e eu estava um pouco sem-graça de pedir para voltar à mesa.

Tentando ignorar o desconforto em mim e só acompanhar a dança, notei um casal pé-de-valsa simplesmente arrasando com todo mundo ali. Com um susto, reconheci os integrantes da dupla: um era o baixinho líder dos dançarinos, com os cabelos repartidos ao meio e vestindo um belo conjunto de roupas pretas, acompanhado de uma das dançarinas do resort, uma moça de cabelos azuis na altura dos ombros usando um vestido rosa-claro esvoaçante e sapatos brilhosos nos pés.

Eles se movimentavam com tanta graça, energia e um gingado que me deixou de queixo no chão. O loiro liderava sua parceira pela pista parecendo flutuar, e ela o seguia com destreza e muita elegância. Eu, por outro lado, me sentia um projeto de tábua esticada.

— Quem são eles? — perguntei a Chaewon, totalmente encantado.

— Ah, os dois fazem parte equipe de dança — disse a recepcionista, com um olhar meio esquisito no rosto. Parecia que ela não gostou muito da minha pergunta. — Eles aparecem nas festas pra manter os hóspedes felizes e aumentar o interesse nas aulas. Mas não deviam estar se achando assim — ela terminou, franzindo o cenho.

ritmo quente • jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora