16. atitudes

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#EUTROUXEAMELANCIA🍉

A brisa da noite gelada, tão cruel, não era a coisa mais fria que eu sentia — nada poderia ser mais gelado que meu coração, batendo devagar com o passar de cada segundo. Observei a estrada solitária até que toda a poeira levantada pelos pneus do Opala preto tivesse baixado, o som do motor do carro antigo já esquecido, distante. Eu ainda não conseguia acreditar que ele realmente tinha ido embora.

Jimin...

Ouvi uma voz distante me chamando, dizendo o que pra mim eram palavras desconexas. Alguma coisa sobre voltar, cabine... Sei lá, não prestei atenção, o vazio dentro de mim ainda muito forte pra que notasse.

A única coisa que me fez voltar a realidade foi um tapinha barulhento no meu pescoço:

— Ei, 'tá na hora de ir — a voz grossa de Taehyung disse. Por meio segundo, até pensei que ele estava rindo de mim; mas não, seu rosto permanecia sério, os olhos mais tristes do que eu já havia visto. Ele também estava abalado com a partida dele.

Observei Jiyoung, a marca das lágrimas no seu rosto bonito, os ombros caídos... Ela parecia tão triste, meu deus. Me aproximei devagar e a abracei, seu corpo me recebendo no mesmo segundo. Ela tremia de leve, mas percebi que não chorava mais. Jiyoung era uma das pessoas mais fortes que eu conhecia.

Nos separamos quando percebi que ela havia parado de tremer, os olhos ainda cabisbaixos, mas conformados; antes que eu pudesse ir pra longe, ela segurou uma de minhas mãos, entrelaçando nossos dedos. Me senti um pouquinho melhor depois daquele contato — eu precisava daquilo tanto quanto ela e fiquei agradecido com aquele toque.

O que me surpreendeu foi outro toque em minha mão livre: Taehyung. O olhei com um pouco de surpresa, afinal não éramos tão próximos assim, mas naquele momento isso não era importante. Nós precisávamos de algum contato, uma proximidade pra começar a enfrentar tudo aquilo. Os três de mãos dadas, começamos a caminhar de volta pras nossas cabines.

Parte de mim ainda se sentia bem culpada com toda a situação, já que se eu não tivesse aberto a boca, as coisas poderiam ter tido um final diferente. Entretanto, esse final podia ser ainda pior do que o atual — Jimin fora acusado de um crime (que não tinha cometido, mas mesmo assim).

E tudo por causa daquele otário do Gun.

Meu corpo esquentou só de pensar no garçom, e não de uma forma acolhedora. Era uma coisa mais primitiva no sentido do ódio, porque aquele desgraçado tinha adicionado mais um absurdo pra sua lista pessoal de crimes. Já não bastasse todo o mal que causara a Jiyoung, tentara incriminar meu Jimin e pairava como um urubu sobre minha irmã.

— Aqui, Gguk — disse Jiyoung de repente e notei que já estávamos na frente da minha cabine. Se via apenas uma das luzes de dentro acesas no hanok através das janelas e eu já imaginava quem é que estava ali, esperando.

A hora havia chegado.

Me despedi dos dois com um aperto nas duas mãos que seguravam as minhas, tentando agradecê-los por todo o apoio. Com um último olhar àquelas pessoas tão doces, respirei fundo e entrei na cabine, já me preparando pra enfrentar o que não podia mais ser adiado.

O cômodo era iluminado por uma luz amarelada suave que destacava a figura do meu pai sentada no pequeno sofá da sala aberta do hanok. Ele folheava um livro pesado, passando cada página com uma rapidez que indicava que ele não lia as palavras ali gravadas, mas sim servia como uma distração pra suas mãos. O único indicativo de que ele havia percebido minha chegada foi o tensionar de seus ombros, perceptível mesmo com a baixa iluminação.

ritmo quente • jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora