Capítulo 3 - Andróide

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Aquele que era para ser um final de ano esperançoso para os rebeldes acabou sendo o início de uma tragédia ainda maior. Sunny desmoronava, mais uma pessoa morta a sangue frio por estar envolvida com seus ideais. A aprimorada cai de joelhos e, enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas, ela tenta aguentar, segurar, mas no final, ela grita para o céu enquanto finalmente dava meia noite e os fogos de artifícios em toda a cidade eram soltados. Seus gritos foram abafados pelos barulhos das explosões coloridas.

No dia seguinte, não foi feito nem um funeral, a pedido de Alice, pois sabia que, se sua companheira passasse por um a cada vez que alguém próximo dela morria, Sunny iria apenas piorar até chegar à beira da loucura. Vendo apenas o enterro da moça e de seu filho, Sunny tentava não lacrimejar, enquanto Alice mantinha sua expressão séria, sem demonstrar tristeza, consolando sua amiga, acariciando sua cabeça, Ruby não entendia muito bem ainda as emoções humanas e, como sua memória havia sido danificada, ela ainda não havia visto uma experiência de tristeza, então apenas repete o que Alice faz na aprimorada.

Os outros rebeldes em volta também demonstravam a tristeza com a perda. Lucy era muito querida lá dentro, perdê-la apenas os desestabilizou mais. O enterro dos humanos não podia nem sequer ser ao ar livre, tinha que ser em um necrotério, em um local fora do bar, e ninguém que não fosse ciborgue podia ir para lá, para prevenir que fossem descobertos e acabassem entregando o esconderijo. O necrotério era dirigido por um rapaz companheiro do dono do bar.

Mais um dia se passa. Sunny novamente estava sentada no telhado daquele bar, olhando para o horizonte e pensando. Ruby se aproxima e se ajoelha perto dela.

- Sunny... - Ela tenta uma aproximação, mas a aprimorada rejeita a oferta.

- Está tudo bem, Ruby, pode ir... Eu vou ficar bem. - Era evidente no olhar de Sunny que ela estava abalada, apenas precisava retomar sua compostura. Se prestasse um pouco de atenção, era notável sua raiva. - Tomem cuidado, por favor.

Ruby e Alice saiam do bar em direção a algum lugar, subindo no telhado de uma casa e logo depois em um sobrado ali perto. Alice analisava o mapa em uma tela holográfica saindo de uma pulseira enquanto Ruby se sentava ao lado dela.

- Alice... - Ruby encolhia suas pernas ao sentar-se.

- Hm?

- Por que a Sunny estava tão abalada, foi algo que eu disse?

Alice abre um sorriso sútil, desliga seu mapa e senta-se ao lado da androide.

- Se aquilo é abalada, não queira saber como ela era antes. Pensa em uma pessoa que chorava, essa era a Sunny. - A ciborgue apoia suas mãos no chão enquanto observava a cidade do terraço do prédio. - Não foi nada que você disse, ela só é bem emocional, sensível. Acaba sendo um problema para ela, principalmente nesse cenário.

- Ela sentir emoções é ruim? Por quê? - Ruby perguntava.

- Ninguém está cem por cento seguro aqui, independente de qual lado você esteja... Porém, o lado que ela e eu escolhemos é sem dúvida o mais perigoso. Não se deve apegar tanto a alguém nessa situação, e, infelizmente, Sunny preza por suas relações sociais. Ela... Só não quer perder mais ninguém. - Alice acendia um cigarro enquanto conversava com a androide.

- Ela perdeu quem?

- Pessoas bem importantes... Ela prefere não falar sobre, e eu também não quero ficar abrindo ferida. Mas, o que sei é que foi tudo por culpa do rapaz que tá bem ali. - Alice aponta para o horizonte, onde estava a sede da Cybernature.

Cyber Nature: AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora