O refrigerante em cima da mesa já estava quente e, provavelmente, ainda mais doce que o normal. O sol ameno não nos atingia, sentados numa mesa quase perto da calçada, apesar de ser possível vê-lo incidindo sobre os arbustos ao nosso redor. Apesar de estar com fome, eu havia abandonado meu almoço há tempos, preocupado demais para continuar comendo.Meus amigos estavam muito distraídos, conversando sobre algo do qual eu não fazia ideia do que era. Eles nem mesmo percebiam minha quietude - que não é algo muito normal. Desde que sentamos aqui, não falei uma palavra e eles também não me perguntaram nada. Fiquei grato por isso. No entanto, minha paz não durou tanto tempo.
Fong pegou uma das batatinhas abandonadas no meu prato, antes de começar a falar:
- E então, cara, como foi o seu "momento especial"?
Obviamente, eles não deixariam aquele assunto passar batido. Não depois do tanto que os obriguei a ouvir sobre, antes do início de um sonho dar errado. Pude ver pela visão periférica Fong e Phuak se entreolharem após eu fazer uma careta e baixar a cabeça - Ohm ainda estava concentrado demais em algo na tela do notebook para prestar atenção em qualquer coisa que falássemos. Já me preparava para a enxurrada de perguntas.
- Pelo visto não foi muito bem - Phuak comentou. - Conta aí o que aconteceu.
Respirei fundo, ajeitando minha posição na cadeira. Seria constrangedor falar aquilo em voz alta, mas eles iriam descobrir mais cedo ou mais tarde. Talvez me ajudassem a achar uma solução.
- Tudo bem. Só... prometam que não vão rir.
Eles olharam uns para os outros mais uma vez, até mesmo Ohm parou o que fazia para participar da troca de olhares sinistra. Por fim, deram de ombros e concordaram. Comecei a contar, falando desde o meu preparativo - que incluía escovar bem os dentes, escolher uma roupa bonita e estar o mais apresentável possível -, até o momento em si.
Talvez eu tenha tentado ocultar certas partes constrangedoras demais. Qualquer coisa que diminuísse uma provável humilhação era válida.
2
Minhas mãos suavam. Mas elas sempre foram assim, então resolvi levar aquilo como algo normal, não como um surto. Pelo menos não até eu perceber que Minhas pernas também tremiam. Ao contrário das mãos, elas não foram sempre assim. A situação era pior do que eu esperava.
Estávamos de frente um para o outro. Daquela distância, dava para sentir o cheiro de seu perfume. Era delicioso. Parecia um campo repleto de jasmins a poucos centímetros de mim. O momento parecia tão perfeito quanto sempre imaginei. Tanto que as palavras saíam facilmente da minha boca, indo de encontro aos seus ouvidos.
- Nada nunca foi tão simples quanto agora.
Meus pés ganham vida própria, caminhando para frente, a distância entre nós cada vez menor. Seus olhos hesitam, desviando dos meus. Por um momento, tive medo.
- Você não entenderia, isso é errado... Eu... esse não é o caminho que eu devo seguir.
Virou-se, fazendo menção de se afastar, mas segurei seu braço. À medida que eu me aproximava, minha respiração acelerava (esperava que não desse para ouvir). Fixei o olhar em seus lábios, mais um passo e nos beijaríamos. Era tudo o que eu mais queria.
Não era?
Passei tanto tempo pensando nesse momento que, quando ele estava prestes a acontecer, simplesmente travei. Uma sensação estranha tomou conta de mim e o que eu mais queria era sair correndo dali. Contrariando tudo o que eu achei que fosse fazer quando esse dia finalmente chegasse, soltei seu braço e dei um passo para trás.
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A Cena do Beijo (2gether)
FanfictionTine era o protagonista da peça da escola, ao lado da garota que tanto gostava. Porém, havia um problema: ele sempre travava nas cenas de beijo. Seus amigos sugeriram que treinasse suas habilidades com alguém, para que não fizesse feio no dia. E Sar...