XXIII - Muito mais que um espetáculo: parte II

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Localização desconhecida
6º Dia do Ciclo de Câncer de 12 989 e.d.e

APÓS ENGANAR UM NOBRE canceriano e conseguir roubar dele jóias, que somadas daria o suficiente para nunca mais se preocupar com dinheiro, Ayamani, a irmã gémea de sua mãe, decidiu leva-la para Taurus, pegando boleia no navio de um amigo.

O facto de Naomi trabalhar muito fez com que Lydia acabasse por passar muito tempo com a sua tia, que a levava em suas viagens de “negócios” e as vezes acabava por usa-la em seus golpes. Quando Naomi e Wenze descobriram, nunca mais a deixaram se aproximar da filha deles, o que foi uma tristeza para a menina pois ela amava as viagens, e se divertia bastante com a tia.

No entanto, todo o percurso daquela viagem para Taurus foi um tédio para a menina, no terceiro dia navegando ela já não aguentava mais aquele navio, e as vezes, passava boa parte do tempo dormindo para ver se passava depressa.

Naquele dia, quando decidiu tirar uma de suas sonecas, tinha deixado sua tia bebendo e dançando no convés com outro amigo dela que tinha viajado com elas também, mas quando acordou, a embarcação estava estranhamente silenciosa e completamente escura, e Lydia teve que se apoiar na parede e apalpar a sua volta para conseguir chegar a parte superior.

Encontrou sua tia deitada no chão, desmaiada. O senhor, amigo dela, estava desmaiado também, inclinado em uma posição estranha sob a roda do leme, e o outro homem estava com as costas apoiadas numa espreguiçadeira de um jeito torto, com a cabeça exageradamente virada para cima, exibindo o longo pescoço.

Lydia se inclinou sobre a tia e começou a sacudi-la, chamando seu nome mas ela não respondia, era como se estivesse morta.

Olhou para o céu, e ele estava carregado de monstruosas nuvens escuras, densas, e notou raios roxos no seu interior, como se estivesse prestes a começar uma tempestade. Estreitou os olhos ao notar uma lua e um sol vermelhos quase que se encaixando perfeitamente, e bem mais adiante, uma silhueta pequena parecendo ser uma ilha.

Um nevoeiro espesso tomou o convés cobrindo todo o chão, fazendo desaparecer até parte de suas pernas. Uma sombra se ergueu a volta dela, e o estranho silêncio foi tomado por choros, gritos e sussurros agonizados, assim como risadas doentias.

A sombra negra se dividiu, se transformando em numerosos vultos que giraram em volta dela, mas apesar de parecerem vultos ela poderia jurar que viu aquelas coisas exibindo expressões assustadoramente atormentadas e retorcidas.

Tomada por um pavor e terrível desconforto, a menina levou as mãos até as orelhas e gritou chorando copiosamente enquanto implorava para que parassem. Lydia se encolheu no chão, com as pernas dobradas perto do peito e a cabeça baixa.

Um segundo ouvindo aquelas coisas, era como se fosse torturada por um dia inteiro.

Lydia ouviu passos se aproximando dela de uma forma tortuosamente lenta. Quando eles pararam, ela podia sentir a presença ali perto de si, e se munindo de toda a coragem que conseguiu reunir, levantou a cabeça, para encarar uma figura que ela conhecia tão bem, porém, com o rosto estranhamente inexpressivo.

A menina a sua frente tinha o cabelo comprido e branco como o seu, os olhos bicolores, com um deles tendo a esclera preta e a íris cinza, as feições exactamente iguais as suas, o tom de pele escuro quase parecido, com o detalhe de que o da menina a sua frente parecia meio acinzentado e estava tomado por veias escuras.

— Onde estão as outras? — A menina perguntou, com o olhar fixo em Lydia. Ela tinha uma voz estranha, com ecos, não parecendo natural.

— O-o-o q-quê? — Disse confusa, morrendo de medo.

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⏰ Última atualização: Mar 15, 2023 ⏰

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