NOVA MARTE, Dias Distantes

Capítulo 3

Anoitecia e já estava em cima da hora em que eu deveria me encontrar com Amaru, entrei no carro e dirigi em direção a cafeteria. Quando se passa a maior parte do tempo trabalhando a pressa te impede de ver muita coisa, como por exemplo a beleza da cidade, o azul neon e as outras luzes da cidade contrastava perfeitamente com o céu vermelho.

Quando cheguei na cafeteria, Amaru já me esperava, eu o cumprimentei e me sentei junto a ele, após as primeiras formalidades nós pedimos o menu e ficamos decidindo o que pedir. Amaru então decide puxar assunto primeiro.

_Não sei o que vai pedir, mas tenho certeza de que é algo do seu planeta natal, kkkk.

_Sim, sim, kkk, você me conhece bem.

_Sabe, eu te entendo, você não saiu do planeta porque quis, você foi praticamente expulso, querer se sentir mais próximo daquilo que foi tirado de você é perfeitamente normal e compreensivo. Eu lamento se já fui insensível com você, eu sempre vivi em Nova Marte, eu só posso supor como você se sente.

_Esta tudo bem, não se preocupe com isso, você é um bom amigo.

Os pedidos chegam trazidos por um robô-drone, ele coloca os pedidos sobre a mesa delicadamente e se retira.

_Quando eu fui trazido para esse planeta eu perdi o contato com a maior parte dos meus amigos, inclusive os mais próximos, eu ainda procuro eles pelas redes, mas o universo é implacável em sua imensidão. Na época em que eu fazia faculdade eu tive muitas dificuldades, foram os meus amigos quem me ajudaram a me manter em pé, foram eles quem me inspiraram, não ter mais contatos com eles e não poder falar com eles é como se eu estivesse incompleto. 

_Entendo, deve ser difícil, eu li uma vez que os povos antigos da Terra tinham uma relação muito forte com o território em que viviam, era uma ligação mística e ancestral, é uma relação com o meio que nós que somos conectados e fundidos com a tecnologia deixamos para traz.

_Sim, eu lembro desse tipo visão dos antigos, minha mãe sempre me dizia sobre a importância de conectar e ouvir a natureza.

_Então é por isso que está em uma crise existencial? Sente falta do conforto e proteção do Lar?

_Não exatamente nesse sentido.

Tupac toma uma xicara de chá, e fica pensativo.

_Então o que é? me explica.

_É complicado colocar em palavras, é como se, como se toda a natureza, as pessoas, o espaço, a cultura e tempo histórico, não fosse algo separado de mim, entende.

_Estou tentando, estou tentando, mas está um pouco complicado encaixar as coisas.

Amaru esta rindo de todo aquele papo estranho. Tupac toma mais um gole de seu chá e continua.

_Assim, é que tudo que permitiu com que eu me tornasse quem eu sou hoje, foram circunstâncias históricas especificas e um meio que me deu possibilidades e condições especificas, eu me sinto como uma criação do contexto em que vivi e inseparável dele, eu devo muito aos meus amigos quem eu me tornei e por isso eu me sinto como uma extensão do que eles são, eu sinto como se tudo que fez parte da minha história também fosse eu, isso é muito louco, eu sei, mas é como eu me sinto, sou apegado aquele planeta porque ele me criou, porque ele é uma extensão do que eu sou, ficar longe daquele planeta é como ficar longe de mim mesmo, ficar longe dos meus amigos é ficar longe da minha própria essência, eu me sinto profundamente incompleto.

_Uau, que conceito estranho, então quer dizer que aquele planeta não faz apenas parte da sua história, mas também de quem você é. 

_É por aí mesmo, não sei se fui preciso o suficiente, mas é isso.

_Sinistro demais.

Fim.