História do homem que sempre sonhou em ir ao espaço, que idealizou o espaço e o mistificou, mas quando o viu pessoalmente sentiu toda solidão e escuridão que a imensidão do universo causa. Buzz aldrin.
Me lembro bem da primeira vez que ouvi pelo velho rádio portátil que novas descobertas científicas foram feitas pela NASA sobre a lua.
Depois que mandaram os primeiros animais para o espaço no esforço de saber se era seguro mandar humanos em foguetes. A estimativa era de que em 20 anos já seria possível mandar um novo foguete a lua, dessa vez tripulado por humanos.
Eu era só uma criança de 10 anos, mas soube nesse momento qual seria o sonho da minha vida inteira. Quando falei a meus pais sobre isso eles riram de mim, mas disseram que iam me apoiar.Na escola comecei a estudar física de forma mais profunda, sempre conversando muito com os meus professores. Entrei em grupos de pesquisa, em pouco tempo me tornei destaque na escola e na comunidade científica local.
Meu quarto era repleto de livros, telescópios e imagens de nebulosas, ah como eu amava as nebulosas. Jurava de pés juntos que da lua dava para ver o espaço de forma muito mais colorida e viva e que nada na vida seria tão bonito quanto essa vista.
Mas a verdade é assombrosa e cruel, o tempo julga tudo, a vida é tão efêmera que faz parecer que todas as nossas certezas são inocentes e infantis demais.
O que acontece quando sonhos se realizam?
_10.9.8.7.6.5.4.3.2.1... lançamento de foguete iniciando.
Eu estava muito nervoso, mas havia uma fúria dentro de mim que me fazia se concentrar de forma como nunca havia feito antes. Minutos antes do foguete entrar na atmosfera eu e os tripulantes começamos a sentir a força G aumentar e nossos corpos a ponto de quase não conseguirmos nos mover e respirar. Depois que saímos da órbita da terra as coisas ficaram um pouco mais calmas.
Quando fizemos o pouso na lua mandamos mensagens para a estação confirmando os pouso com sucesso. O próximo passo era dar uma rápida explorada no solo da lua e recolher alguns minerais, mas estávamos muito nervosos para poder sair da capsula. O espaço é uma zona muito difícil de se prever e tínhamos medo de morrer instantaneamente assim que déssemos os primeiros passos.
Fizemos a coisa mais sensata para decidir quem sairia primeiro, jogamos no jokempô. Eu tive o azar de perder e fui escolhido para ser o primeiro a sair.
Tremendo até a espinha, abri a escotilha, havia pouca luz, mas dava para ver claramente o solo. Parecia um enorme deserto branco acinzentado. A locomoção era difícil por causa da gravidade. Tudo estava sendo transmitido em tempo real para a estação. Depois do grande primeiro passo os outros astronautas tiveram coragem de sair também. cada um com uma função.
Depois de alguns minutos, fui invadido por uma sensação estranha, uma vontade avassaladora de olhar para o nosso planta, era como um chamado, um verme na minha mente me corroendo. Como estávamos quase no fim da missão achei que não havia problema e aproveitar a vista, afinal, esperei uma vida inteira apenas para ter essa vista.
Uma enorme bola azul no horizonte, isso que era, poderia eu dizer que a visão era bela? Como descrever? Era simples, colossal, faziam com que eu me sentisse paralisado no presente, sem conseguir pensar no passado nem no futuro. Sentia como se um vazio dentro de mim fosse preenchido por um nada puro e avassalador. Que visão solitária. Não estava conseguindo sentir o tempo passar, como se ele estivesse parado, mas tudo estava em perfeita ordem ao meu redor no entanto eu estava vidrado olhando para o horizonte negro e estrelado.
Não estava mais sentindo meu corpo, apenas minha mente e pensamentos, não sabia se era algum efeito do espaço que não havíamos previsto, se eu estava congelando lentamente. Só sei que era tarde demais para fazer qualquer coisa. Algo novo começou a acontecer, eu sentia tudo ao meu redor, a areia, a gravidade, não, eu era a areia, sentia como se fizesse parte dela. Será que eu caí? Minha mente começou a flutuar em direção ao espaço. Podia ver tudo em 360 graus sem nenhum limite, era algo lento e calmo, não sentia pavor ou dor, os olhos da minha mente fitavam o horizonte negro e estrelado, um vislumbre do infinito, o tempo não tem mais importância, quanto mais me afastava da lua e da terra mais minha consciência se diluía no vazio, até que finalmente em paz voltei ao todo.
O oxigênio já estava acabando e estava na hora dos tripulantes voltarem. Quando eles perceberam que um dos astronautas permanecia imóvel foram verificar o que havia acontecido. O astronauta em questão estava vivo, mas os seus olhos estavam vidrados e vazios, tentaram fazer ele falar alguma coisa, dar algum sinal de que estivesse consciente, mas foi em vão. Arrastaram ele até a capsula, a gravidade tornou o transporte do tripulante inconsciente mais fácil.
Na volta para a terra todos os tripulantes foram examinados para que se averiguasse o estado de saúde dos astronautas, no entanto não descobriram a real causa da perda de consciência do jovem.
Esse incidente logo se tornou notícia em todos os jornais intrigando a todos e despertando curiosidades sobre o que ele tenha visto ou sentido. Muitas teorias da conspiração foram levantadas, mas depois de dois ou três anos ninguém mais falava sobre o assunto.
O jovem astronauta morreu de velhice, sem nunca ter apresentado sinal de consciência ou vontade.
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NOVA MARTE, Dias Distantes
Science FictionHistórias curtas, sobre a vida de pessoas comuns em um futuro sombrio em que a humanidade construiu. Carros voadores? Viagens pelo universo? Seriam essas histórias uma distopia? Todas as histórias se passam no mesmo universo, embora em tempos difere...