Parte III - Revisada.

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A rainha de Artena estava sentada confortavelmente em uma cadeira da mesa de reuniões no escritório do rei de Montemor, enquanto suas companhias ainda não haviam chegado ao aposento, profundamente submersa em seus pensamentos. Sabia que deveria agir com calma, aproveitando o fato de ser ela quem decidia a ordem dos peões a serem movidos de agora em diante.

Ela tinha em mente que Afonso jamais a perdoaria se pedisse a execução da plebeia sem uma chance de defesa, embora ele também soubesse que esse era um direito dela como rainha de Amália. A ruiva tinha um fator a seu favor, no entanto, ao salvar a vida dele quando foi gravemente ferido naquela floresta.

Mas há uma informação muito importante que Catarina sabia e que ainda não era do conhecimento de Afonso. O tolo recusou uma união entre ambos, que possibilitaria o tão necessário empréstimo para a reconstrução de Montemor e uma parte de Artena, por puro capricho.

Saber daquilo atingiu um nervo, além de fazer com que seu coração se ressentisse, afinal, ela nutria sentimentos sinceros pelo rei. Apesar disso, a morena pôde ver a razão principal por trás da recusa; aceitar o casamento seria como admitir que a ruína de seu reino se deu por sua abdicação impulsiva e impensada, assim como reconhecer sua responsabilidade na guerra que destruiu Artena durante o reinado de Rodolfo, mesmo que indiretamente.

Desde o início, ela viu o seu potencial como monarca.

Assim como os demais, ela sabia que Afonso precisava de uma rainha ao seu lado, que fizesse despertar e enaltecer o grandioso rei que ela sabia que ele poderia ser. No entanto, ele tinha ao seu lado alguém que o limitava, que o fazia retroceder, o que colocava em xeque a credibilidade de quão vindouro seria o seu reinado com Amália como rainha e à frente de um dos reinos mais poderosos da Cália.

Em posse de uma adaga com o cabo incrustado de geodos de ametista, que ganhou de seu pai em seu aniversário de 15 anos e que levava consigo em todos os momentos, Catarina girava a lâmina entre os dedos com uma habilidade desconhecida para muitas pessoas.

Sem notar nada ao redor, a rainha não notou o momento em que as portas foram abertas e por elas passaram Amália, Afonso e Gregório, que se virou para trancá-las enquanto lamentava a gravidade da situação em que se encontravam. Ao se virar, ele se deparou com o rei e a noiva observando atentamente a cena à sua frente.

O rei, com um certo receio de despertá-la abruptamente, fez sinal para que os dois se acomodassem ao redor da mesa, com Amália tomando o assento à esquerda do rei com visível desagrado, uma vez que ela preferia se sentar à direita, lugar esse ocupado por Catarina como rainha de Artena.

Gregório não pôde deixar de pensar que aquela era a rainha que Montemor merecia.

Afonso, ao ocupar seu lugar, perdeu alguns segundos observando Catarina e pôde reconhecer a adaga em sua mão como o presente do rei Augusto para ela, em seu aniversário de 15 anos. Ele não pôde deixar de lembrar que aquela arma, com pedras tão preciosas e únicas, fora confeccionada em Montemor. Impediu que um sorriso aparecesse em seu rosto.

Não é o momento para isso.

Afonso sempre disse ao pai dela que fora um ferreiro de sua mais alta confiança que havia forjado a lâmina para sua única filha. Mas o que ninguém sabia, além da própria Catarina, era que ele mesmo havia ido em busca dos geodos de ametista e que ele a construiu com suas próprias mãos.

Um presente para que se recordasse dele com carinho.

Puxando uma respiração e mudando o olhar para Amália, que o observava com uma expressão raivosa, o rei chamou a atenção da rainha de Artena com cuidado, evitando que ela errasse em seus movimentos e acabasse ferida. Com um suspiro cansado, a morena finalmente notou os outros ocupantes da sala.

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