Parte VI - Revisada.

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Amália sentia suas costas arderem.

Qualquer movimento abrupto provocava um gemido de dor, principalmente quando o tecido das vestes que usava entrava em contato com as feridas e nenhuma posição conseguia amenizar o incômodo que sentia naquele momento. Ela não sabia ao certo quando havia sido levada de volta à sua cela, só sabia que alguém havia cuidado de suas feridas e trocado seu vestido manchado de sangue por uma túnica folgada de linho amarelada, porém, limpa.

Agradeceu mentalmente pela tentativa da pessoa desconhecida de amenizar sua dor. Se lembrar do que viveu fez com que seus olhos se enchessem de lágrimas e a vontade de gritar cresceu em seu peito até que tudo o que restasse fosse vazio, que as vozes em sua cabeça se calassem por tempo suficiente para que ela conseguisse se concentrar.

Afonso a humilhou diante de toda uma horda de mortos de fome, que não tinham uma moeda de ouro para se manter em seus melhores dias, mas que não perderam a oportunidade de pisotear em cima de sua queda em desgraça para celebrar a tortura de um ser humano, de um iguali.

Ele me traiu.

De cabeça baixa, a ruiva franziu o cenho ao ouvir o barulho da porta sendo destrancada, para em seguida ser aberta com um rangido seco. Seu visitante misterioso aparentemente não tinha a intenção de se pronunciar, porém, ela conseguiu identificar um par de botas pretas familiares. Ouviu a pessoa se movimentando pelo cômodo, agarrando um banquinho de madeira perto da cama e o colocou à sua frente, sentando-se em seguida.

Um suspiro escapou de seus lábios ao erguer os olhos até o rosto de Afonso, que a observava com atenção. Aproveitou o momento de silêncio para fazer o mesmo, em uma tentativa de encontrar algo que pudesse explicar a razão de sua presença ali.

Antes que pudesse perguntar algo, o moreno se pronunciou.

— Nós precisamos conversar, Amália.

A jovem anuiu com a cabeça, antes de responder.

— Sim, precisamos. Quem sabe assim você consegue explicar o motivo para me tratar daquela maneira na frente de todas aquelas pessoas. Você foi convincente demais para ser só uma atuação.

Um suspiro cansado escapou pelos lábios do rei.

— Mais de uma vez eu pedi para não se referir a rainha dessa forma, Amália. É por sua falta de limites que agora você está sofrendo as consequências dos seus atos. É tão difícil assim chamá-la pelo título?

Parou por um momento para reparar na expressão no rosto da ruiva — não era uma das melhores.

— O que você esperava que eu fizesse? —- perguntou sinceramente. — Que eu dispensasse elogios enquanto você estava prestes a ser açoitada em praça pública? Que eu interviesse no meio do cumprimento de sua pena por não querer vê-la machucada? Que eu iniciasse uma guerra por interceder por você, mais uma vez? Ou que eu abdicasse do trono para vivermos longe daqui como pessoas comuns? O que você queria que eu fizesse?

A ruiva piscou, abrindo e fechando a boca algumas vezes, sem resposta para seus questionamentos. Seus olhos esquadrinharam o rosto do moreno que permanecia sentado.

Afonso deve ter enlouquecido de vez.

Porém, tudo o que encontrou ali foi uma grande quantidade de determinação e de algo que ela não soube reconhecer. Ignorando a dor em suas costas, ela levantou-se para encará-lo de cima.

— Você vai realmente agir como uma dessas pessoas? Começará a ser como aqueles seres desprezíveis que você fez questão de repudiar, dando razão àquela corja que acham que podem controlar a vida de todos ao seu redor? Vai começar a agir como Catarina, a pessoa que tentou me matar mais vezes do que consigo contar e que tramou para nos separar desde que veio morar aqui? É isso? O QUE DIABOS DEU EM VOCÊ?!

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