Parte IV - Revisada.

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Afonso e Catarina permaneceram de pé, com as mãos apoiadas na mesa da sala de reuniões do castelo. Seus olhares não se desviaram, nem mesmo para acompanhar os guardas que retiravam uma Amália aos berros para levá-la para as masmorras.

Gregório saiu silenciosamente, observando-os por alguns segundos através de uma pequena fresta enquanto fechava as portas da sala, sentindo os resquícios da tensão crescente mesmo após se afastar dali, reforçando para os guardas presentes no corredor que ninguém deveria interrompê-los.

Dentro do cômodo, os dois monarcas ainda estavam perdidos no olhar um do outro, alheios ao fato de que foram deixados sozinhos. Catarina estava relutante em admitir, mas ela não conseguia desviar a atenção do magnetismo natural que as íris castanhas a sua frente possuíam, que a encaravam intensamente, causando uma sensação quente em seu peito que quase a fazia querer desistir de seu objetivo inicial e minar a distância entre os dois.

Afonso não estava muito diferente, sem saber que seus pensamentos eram quase os mesmos da morena, as orbes cor de ônix devolvendo o olhar avaliativo que recebia, como se tentasse romper a barreira que o rei ergueu em torno de sua mente.

Seus olhos fariam até mesmo o mais forte dos homens se atirar no mais profundo oceano, se assim desejasse.

Com um suspiro, o rei fez um monumental para desviar o olhar da rainha, que assumiu novamente a postura de soberana tão característica. Sentou-se na cadeira atrás de si, aguardando pacientemente até que ele estivesse acomodado.

— Temos privacidade o suficiente agora para que possamos discutir o acordo entre nossos reinos, vossa majestade. Posso, antes de mais nada, perguntar a razão para isso?

Com a expressão neutra, mas os olhos brilhantes, a rainha começou a explicação.

— Vossa majestade deseja saber o motivo? Além do fato de eu ter sido constantemente submetida a humilhações por parte de sua noiva ou de que a reconstrução de meu reino não esteja em sua lista de prioridades com o possível empréstimo, que ainda não foi aprovado pelo Conselho? — perguntou, não fazendo um real esforço de manter o tom mordaz fora de sua voz. — Esse acordo não é vantajoso para mim, Majestade, visto que apenas o seu reino é beneficiado. Montemor não nos fornece minério desde a destruição de Artena, mas continua com o abastecimento de água vindo de minhas terras. Porém, essa não é a única razão.

Afonso piscou, atordoado, mantendo-se em silêncio para que ela pudesse continuar.

Remexendo-se em sua cadeira a fim de procurar uma posição que aliviasse um pouco a tensão de seus ombros, a rainha retomou a palavra.

— Vossa Graça, percebo que suas intenções para com meu reino são as melhores, no entanto, são intenções que demandam tempo, que não tenho e variáveis, nas quais não confio. Está baseando suas próximas ações em um empréstimo sem lhes dar uma garantia equivalente ao valor solicitado. Não estou desmerecendo sua mina, mas convenhamos que ela não será o suficiente para fazê-los concordar. Fora isso ...

A rainha nem mesmo precisou concluir, pois o Monferrato entendia o ponto em que ela queria chegar.

— Ainda estou noivo de uma plebeia que eles se recusam a aceitar como minha esposa. Isso será um fator determinante para que eles recusem o pedido, já que desejam que eu me case com uma rainha ou uma princesa.

Catarina sorriu brevemente, o movimento atraindo a atenção do moreno, que voltou a prestar atenção em suas palavras.

—- Sempre soube que era um homem inteligente — mordeu a parte interna da bochecha para segurar um comentário desagradável que quis sair por seus lábios. — Isso é verdade. Eles jamais aceitarão que se case com ela, especialmente agora que não é mais possível graças a pena que ela recebeu. Prepare-se para apresentar uma contraproposta que seja irrecusável na justificativa de trazer Montemor de volta aos dias de glória e auxiliar na reconstrução de Artena.

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