Catarina sentia seu rosto arder.
Porém, engana-se aquele que pensa ser graças aos tapas que aquela maldita plebeia havia conseguido acertar em seus braços e rosto, enquanto a puxava para fora do castelo e a jogava humilhantemente no pátio central, diante dos olhares chocados e escandalizados dos súditos de Artena e Montemor.
Suas bochechas tampouco queimavam de vergonha, era algo bem mais profundo. Era ódio que tomava o lugar do sangue nobre que corria em suas veias ao observar do chão a forma altiva com que a pequena desgraçada a encarava, como se fosse dona daquele lugar e a rainha por direito daquele reino, seus olhos brilhando com satisfação ao ver Catarina no chão.
Catarina quase sorriu com aquilo. Amália era realmente ingênua de acreditar que o seu lugar era ali; ninguém jamais a aceitaria, especialmente após aquele patético espetáculo protagonizado por ela. Lágrimas de raiva escorriam por seu rosto, o que serviu para atrair a simpatia de todos os presentes ali, sua cabeça baixa e braços rodeando seu corpo sendo o complemento perfeito para sua imagem de miserabilidade.
Ela pôde notar que o falatório anterior foi substituído por um silêncio sepulcral, onde até mesmo o bater de asas de um inseto poderia ser ouvido. A rainha de Artena sabia que seu povo estava indignado com a audácia daquela mulher de humilhar publicamente a sua rainha. A morena também sabia que os cidadãos de Montemor estariam preocupados com as consequências que aquela situação poderia acarretar para para o reino, que já fora tão maltratado pelo malfadado reinado de Rodolfo.
Por um mísero segundo, conseguiu controlar o sorriso que ameaçou surgir em seu rosto ao perceber que, mesmo não sendo a intenção inicial, Amália conseguiu aumentar ainda mais a rejeição dos súditos para com ela. Era nítido que eles jamais aceitariam por livre e espontânea vontade a mulher que foi responsável por fazer o rei abdicar de seu direito ao trono sem pensar nas consequências.
Eles sabiam que Amália, mesmo possuindo uma criação simples, agia como uma jovem acima de sua classe social, não aceitando o não como resposta e fazendo com que tudo acontecesse do jeito que ela julgava certo.
Mesmo que tentasse se ajustar, tomando aulas e sendo acompanhada de perto por Afonso sempre que era permitido, era mais do que claro que ela não nasceu para estar entre os nobres ou inserida na corte que, apesar de não parecer, era o ambiente mais hostil para se viver e onde apenas os fortes e inteligentes se sobressaiam.
Pessoas como Catarina.
A rainha sentiu os braços de Lucíola ao seu redor, buscando apoiá-la naquele momento e ajudá-la a se levantar. Quando ambas já estavam de pé, a jovem ama sussurrou em seu ouvido.
— O que nós faremos agora, Majestade?
Segurando o sorriso, Catarina respondeu.
— Nada. Observe e aprenda como uma rainha deve agir.
Catarina mal havia terminado de pronunciar as palavras, quando percebeu que a multidão presente nas escadas principais do castelo se movia para dar espaço a duas pessoas que se aproximavam com passos apressados. Ela quase sorriu ao perceber que eram Afonso e Gregório, o primeiro com o rosto contraído de raiva, uma vez que ele já deveria saber o que havia acontecido, afinal ele conhecia muito bem a própria noiva.
Gregório, logo atrás, carregava um semblante que alternativa entre consternado e preocupado, obviamente já imaginando o que aquela situação traria para o reino de Montemor e lembrando-se das palavras de Catarina no embate anterior entre as duas.
— Jamais permitirei que me toque ou me machuque novamente. Se ousar fazer isso, prometo a você que dessa vez, não sairá impune.
E, por mais que fosse uma hóspede e amasse o seu governante, não se permitiria fraquejar por se preocupar se ele a odiaria ou não. Catarina seria conhecida como uma rainha forte, corajosa e, acima de tudo, cumpridora das leis. Ela não compactuaria com a perpetuação da fama de que era benevolente ao ponto de ser agredida e essa pessoa ainda estar viva e impune para contar sobre tal façanha.
No entanto, há algumas variáveis que poderei explorar a meu favor.
Catarina chamaria pela lei que impede um plebeu de agredir um monarca, usando a pena por ela acompanhada. Talvez intercedesse pela vida dela para que não fosse condenada à morte e perdesse Afonso sem a chance de lutar, mas Amália não sairia ilesa de sua ofensa. Quando voltou a prestar atenção ao que acontecia ao seu redor, percebeu que o rei e o conselheiro já estavam ao lado da ruiva, que a encarava com um sorriso vitorioso nos lábios.
Sim, sua presença é ótima aqui, mas não para você.
Catarina tinha verdadeira vontade de retribuir as bofetadas que recebeu, mas como ela disse a Lucíola, era hora de mostrar como uma rainha agia em ocasiões como aquela. E Amália aprenderia do pior jeito o poder e a autoridade que a governante de Artena mantinha em suas mãos.
É apenas uma questão de aguardar o momento certo para agir.
Respirando fundo, com a intenção de lidar com aquilo com calma, Afonso atraiu todas as atenções em sua direção.
— O que está acontecendo aqui, Amália?
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Revenge
Fanfiction"Amália aprenderia do pior jeito a quantidade de poder e autoridade a rainha possuía. Ela aprenderia como uma rainha deveria agir e se portar diante das mais adversas situações. Poder não era dado, era conquistado e isso, Catarina fizera sua vida to...